quinta-feira, 7 de maio de 2015

Sou folha caduca





Quando as águas que correm serenas
no rio da minha infância
deixarem de me sussurrar…
E as nuvens escurecerem
e o sol se entristecer
e as estrelas não cintilarem
e o luar se recusar a iluminar
e o mar se agitar intranquilo,
talvez estejam a despedir-se de mim…
E se as flores empalidecerem
e os pássaros silenciarem
e as gaivotas deixaram de voar
e as andorinhas não chegarem na Primavera
e o vento deixar de soprar
e os dias se tornem céleres
e as noites eternas,
talvez sintam saudade de mim…

Mas se nada acontecer
do que eu utopicamente desejava,
é por que na verdade
e admito humildemente
que fui brisa ou simples folha
das muitas folhas que por aí voam
insignificantes,
simples e caducas.

Se na minha viagem etérea
puder vislumbrar sorrindo,
todas as coisas materiais
a que antes eu dava valor
e não sentir pena ou falta,
é por que estou realizado na minha essência
pelo que fiz na minha caminhada terrena
e feliz na minha derradeira e eterna viagem.

José Carlos Moutinho

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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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