domingo, 31 de janeiro de 2016

Brumas de enganos






Silencio o meu sentir desolado
nas marés de agitadas palavras
trazidas de horizontes perdidos
e soterradas nas areias pasmadas
pelas espumas negras da presunção!

Esvoaçam maresias brumosas
por entre intenções distorcidas
que se colam às mentes perversas
e voam como abutres
em voo picado, mordendo a sensibilidade
de quem ousa ser diferente
nesse mar de enganos!

Inesperadamente…
No meu pensamento desponta o sol
que serenamente me acalma
e me faz navegar por outro mar,
onde as marés se fazem melodias
e me fazem esquecer as brumas…
…as intoleráveis brumas do preconceito…

E sorrio-me ao lembrar-me que tudo é efémero
e as marés irão morrer nas areias
embrulhadas na espuma da inglória!

E penso-me navegante privilegiado,
por velejar em mares amenos
com marés puras e cristalinas.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Desistirei de ter saudades



Tenho saudades,
saudades de um tempo recente,
tão recente que ainda consigo tocar
com as pontas dos meus dedos
nos braços que se faziam abraços
e ainda sinto o perfume dos sorrisos
nas tardes de sons poéticos
e nas noites de suspiros de poesia…

Tenho saudades de coisas tão simples
como as conversas banais das tertúlias,
onde descontraídos, dizíamos não sermos poetas
e nem sabíamos dizer os poemas,
mas sabíamos…isso sabíamos
que a amizade estava presente
em cada falha na palavra dita erradamente
por que no final todos ríamos
e ríamos sem hipocrisia
muito menos com cinismo,
pois o mais importante era o convívio
sem preconceitos, nem complexos…

Tenho saudades
da brisa que nos afagava o ego de poeta,
saudades de um tempo que certamente não volta
por que foi levado para longe
fustigado por vendavais intempestivos
vindos da obscuridade
esmorecendo a solidária luz
daquelas outras noites enluaradas…

…Quero acreditar que esses ventos conflituantes
sejam passageiros…

Tenho saudades
dos momentos alegres, dos sorrisos
e dos abraços…
Tenho saudades daquele tempo recente,
tão recente que tenho a certeza de que voltará,
por que se não voltar,
se não voltar…
Eu desistirei de ter saudades!

José Carlos Moutinho

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Perdi





Perdi as palavras
Sim! As palavras do meu sentir,
desencontrei-me das letras
na estrada da escrita
e agora vagueio cambaleante
por caminhos de retalhos
onde, devagar as palavras se soltam
por entre suspiros de pássaros,
no intervalo do seu chilrear
enquanto as gotas do orvalho
encharcam a minha débil vontade,
deixo-me levar pela brisa fria
despertando da minha letargia poética…
Aventuro-me pelos meus anseios
indo ao encontro da emoção
que julgo contida nas palavras que perdi,
com esperança de que se façam poema
ou, talvez, simples prosa
engalanadas com a ilusão do meu sonhar
e me permita voar pelas utopias da vida…
Se não as encontrar
ah...se não as encontrar fechar-me-ei
na minha desilusão
e deixar-me-ei sucumbir
aos soluços do meu fracasso

José Carlos Moutinho

domingo, 24 de janeiro de 2016

Perguntou-me o vento




Perguntava-me o vento, no seu saber:
Porque te escondes de mim
que sou uma simples passagem,
e não te escondes dos que em ti se grudam
para te perturbarem os sentimentos?
E eu respondi ao vento que passa...
que fugia do seu soprar,
pois ele era a verdade dorida,
enquanto os que em mim se colavam
eram a mentira da verdade...
E o vento que passava,
acalmou-se
e fez-se brisa…

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Não sei quem sou





Não sei quem sou,

por vezes penso-me nuvem que passa,

outras, acho-me brisa de afagos

e até o sol, eu me penso ser…

Podem acreditar no que vos digo,

tive noites que me achei luar sereno,

mas também já fui mar intempestivo...

Houve momentos da minha existência

em que fui onda a beijar a areia dourada

e outras tantas, despertei -me

do sonho que me fazia essência…

Dirão que sou louco,

então que o digam, se vos agradar

pois se eu próprio assim me considero…

E considero-me louco por não me entender,

nem compreender os que se acham normais…

E se discordam com o que eu vos transmito,

tomem atenção então:

Qual a razão, para que não gostem da minha onda,

será por que o meu mar não sorri?

(desconhecem, coitados)

Não sabem que eu sorrio com a maresia da alma…

Ou será por que eu não bajulo os luares

nem me ajoelho em mendicidade de favores estelares

nem imploro amizade da brisa

por que a entendo como coisa natural e espontânea

e não como um favor hipócrita interessado em carícias?

Assim vos digo, a todos que me lêem…

Que não sei quem sou,

nem em que mundo vivo

mas sei, podem crer,

que serei sempre o oposto

ao que possam pretender que eu seja!



Por tudo isto, eu, que não sei quem sou,

sou certamente, nuvem, brisa, sol, luar, mar, onda, areia

serei afinal tudo o que eu desejar,

mas jamais serei a vontade dos outros.



José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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