terça-feira, 29 de março de 2016

Quando eu...






Quando eu deixar de sonhar
com os murmúrios do mar,
…E o meu peito cansado
deixar de beber o perfume da maresia,
Quando eu não mais sentir a caricia
do brilho cintilante do sol,
…E deixar de criar a minha poesia
com o romantismo do luar,
Quando eu perder a emoção
ao ver nascer a alvorada matizada,
…E deixar de admirar e pisar
as pedras gastas das calçadas,
Quando eu não mais me sensibilizar
com os aromas da natureza,
…E os abraços não me encontrarem,
Quando os sorrisos ficarem sem resposta,
…E as minhas palavras se calarem…
Talvez eu tenha deixado de ser matéria
e num lampejo metafisico
esteja em outro caminho…

E se forem dar-me um abraço
à ultima carruagem
onde farei a minha derradeira viagem,
Não se despeçam do meu corpo inerte, chorando
desejo sim, ouvi-los alegres, cantando,
Não se preocupem com flores
que eu até adoro…
Mas as flores murcham,
e secas, sem cor, são tão tristes!

O que eu somente vos peço,
em especial aos que são verdadeiros amigos,
é que unicamente me leiam…
Sim! Que digam poemas meus,
Que os sintam,
Para que eles se elevem
juntamente com a minha alma,
e leiam-me, se possivel, amigos
com o trinar de uma guitarra como fundo,
Mas, por favor…sem hipocrisia,nem cinismo
falsidades que eu vi e senti,
tantas e tantas vezes por aí!
Ah…também dispenso os piedosos elogios
que me queiram prestar agora,
se eu era merecedor deles,
deveriam ter-me dado em vida!

Sabem…
Quanto a flores…depois de murchas
são ignoradas e esquecidas,
O que não acontecerá quando me lerem
por que esse momento ficará marcado
para sempre nas vossas mentes,
se honestamente o fizeram com sentimento
E eu, creio sinceramente
que assim, a minha etérea viagem
será mais serena…
Pois penso ir ao encontro
do saber despretensioso e simples
dos verdadeiros poetas que por lá tertulam,
Esquecerei as presunçosas elites bacocas
que aqui neste espaço terreno
se vestiam de seres diferentes,
enchiam a boca de vaidade,
alimentavam-se de arrogância,
engalanavam-se de crispação
e riam com superioridade a si próprios
numa lamentável demência da consciência!

Se fizerem o que eu vos pedi,
companheiros da despedida,
eu, espiritualmente lá do alto, vos bendigo,
com a humilde franqueza
que aqui neste chão
da minha efémera existência,
foi o meu caminhar pela vida.

José Carlos Moutinho

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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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