segunda-feira, 27 de março de 2017

Dança no tempo





Sentei-me agora mesmo na quimera do tempo,
olho a rua vazia de emoções
através da vidraça embaciada da minha janela,
de onde posso ver o mundo,
pequeno mundo que me cerca…
e senti o frio da tarde cinzenta e lacrimosa
que invadiu o meu sentir
deixando-me desconfortável e pensativo!

Melancolicamente deixo o meu olhar vaguear
pelos verdes campos, onde árvores se agitam
ondulando elegantes ao vento…
Serenamente fecho os olhos,
imagino uma fascinante dança da natureza
e com os ramos faço passes de magia,
numa coreografia inventada no momento
em que o tango é o estilo que me apraz…
Outros ramos se juntam no salão do meu sentir,
num rodopiar silencioso, para o comum mortal
mas… para mim, tem toda uma sonoridade fantástica
e os passes de dança seguem-se num frenesim
de encantamento, até que abro os olhos…
E quando o meu olhar volta a vaguear pelo ocaso,
somente vejo a chuva cair,
ininterrupta
que me faz retornar à realidade
e do meu sonho, despertar…
Levanto-me da quimera do tempo, onde estive instalado
e fecho a janela,
cuja vidraça está, ainda mais, embaciada.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 23 de março de 2017

Tempo mediado




Entre o passado e o presente
há um mundo de magia
de encantos e desencantos,
tantos abraços se perderam
que por arrogância, não foram dados
e quantas amizades se deturparam
por desentendimentos fúteis,
quantos ventos nos ensinaram
que somos nada de tão insignificantes,
tantas brisas nos aconselharam
moderação nas atitudes,
quantos luares nos ofereceram serenidade
e tantas alvoradas nos mostraram
que a grandeza da luz está em nós!

Neste tempo que separa os dois tempos
houve de tudo:  dor, frustração
felicidade e infelicidade, alegrias e tristezas,
quantos gestos se escusaram
aos dias de generosidade,
tantos defeitos teimaram em prevalecer
em detrimento de nobres virtudes…

Tanto de tanto foi perdido
onde existia tanto de tanta grandeza
que sentimentos balofos ignoraram
e se engajaram por caminhos distorcidos!

Nada mais retornará do espaço
que medeia o passado e o presente,
além da história que tudo gravou
para que em qualquer momento,
qualquer segundo possamos recordar
e quiçá, se ainda for tempo
e o tempo de agora o permita,
aprender, reconhecer e arrepender,
para que o futuro seja enriquecido
pelos valores da dignidade e dos afectos.

José Carlos Moutinho


quarta-feira, 22 de março de 2017

Outros tempos



Eram mais floridos aqueles caminhos
Onde os meus pequenos pés habitaram,
Talvez porque fosse um tempo de carinhos
E por lá, os males do mundo não passaram

Tenho saudades, com alguma nostalgia,
Entendo porém, que os tempos mudam,
Temos de olhar as mutações com alegria
Porque a vida gira e tristezas não ajudam

Vivo cada dia com o que a vida me oferece
De nada me adianta eu discordar dela,
Ela só dá a cada um, aquilo que merece
Solidária com o tempo que voa pela janela

Pensando, levo-me serenamente a reflectir
Que existe em cada tempo um novo tempo,
Basta-nos contemplá-lo e com ele sorrir
De coração agradecido em cada pensamento



José Carlos Moutinho

domingo, 5 de março de 2017

Encontros e desencontros





Foram muitos os caminhos corridos

entre fragas e ventos soprados

que faziam os dias serem esquecidos

pelo tempo dos anos já passados;



Outros haviam de floridas razões

que pelas alvoradas despertavam

em sorrisos e abraços de emoções

e pelas tardes de sol se instalavam!



Entre bons e maus há os aceitáveis

pois a vida é feita de equilíbrios

assim se vive em modos razoáveis…           



Positivismo e negativismo

são adjectivos de livres arbítrios,

digo eu, porque gosto de realismo.



José Carlos Moutinho

quinta-feira, 2 de março de 2017

Há dias e dias





Há dias cansados pelas amarguras
outros pelas ausências caladas,
alguns esmorecidos por rupturas
mais raros, alguns cheios de nadas!

Há também muitos de alegrias cantadas
por sereias do mar do meu pensamento
que passeiam pelas areias molhadas
em orgias de total deslumbramento!

O tempo veste-se do que quisermos
porque a vida é um teatro de marionetes
que colocamos aonde pudermos…

Com otimismo se enganam tristezas,
soltemos gargalhadas e foguetes
acabemos de vez com as fraquezas.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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