domingo, 3 de abril de 2011

Sons sem silêncio




Sons do silêncio
Ecoam na minha alma,
Embalam-me numa suave levitação,
Fazem-me sobrevoar espaços inventados,
Caminhos de sonhos que eu abraço.
Espelho-me nas águas,
Do rio viajado na minha memória.
Revejo as noites de luar,
De encantamento romântico.
As areias daquelas praias, vividas
Em momentos de paixão.
Dores esquecidas,
Amores conquistados,
Saudades nostálgicas,
Delicadas no sentir.
É com os sons do silêncio,
Que me esqueço do que me rodeia,
E simplesmente me deixo levar,
Pelo inimaginável
E perco-me totalmente,
Quando os sons deixam de ter silêncio.

José Carlos Moutinho



Vieste nas estrelas cadentes




Eram horas tímidas, ocultas
Pelo breu da noite
E vieste no turbilhão das estrelas cadentes,
Que te iluminavam os pensamentos,
Envolta numa auréola de luz e cor,
Tornando-te irreal
E eu vi o que te ia na alma,
Senti a emoção dos teus sentimentos,
E o palpitar do teu coração,
Na ânsia de me beijares,
De me teres nos teus braços.
Envolvia-te um tecido de seda,
Que ondulava nas curvas do teu corpo
Que eu acariciava, numa volúpia,
De sedação e fascínio.
São momentos mágicos,
Indescritíveis dos prazeres
Que se nos oferecem,
Físicos sim, pela beleza exterior,
Mentais pelo encanto do que não se vê,
Mas sentem-se…
E estes são os mais profundos, intrínsecos
Na entrega de dois seres ao amor.

José Carlos Moutinho


sexta-feira, 1 de abril de 2011

Partiste e não voltaste




Hoje estava um dia triste, cinzento
Chovia…
Coloquei uma mão fora da janela
E deixei que a chuva a molhasse,
Rápida e abundante inicialmente,
Escassa e suave, depois.
Eu olhava as gotas de água,
Que desmaiavam na palma da minha mão,
Escorriam por entre os meus dedos
Como as lágrimas,
Que deslizavam pelo teu rosto,
De tristeza, porque partias;
Insegura no teu amor por mim
Querias partir e ficar,
Num dilema desatinado.
Agitada, tal folha sacudida pela brisa,
Frágil como caule de delicada tulipa,
Foste quimera que se evaporou
Numa nuvem cinzenta,
Açoitada pelo vento.
Choraste e partiste
E não voltaste.

José Carlos Moutinho

Há dias assim!




Há dias que tudo corre mal,
Não se pode sair de casa,
Nem falar com amigo(a) tal,
Ouvimos o que nos arrasa.
Dizemos o que não desejamos,
E quando a conversa, é escrita,
Recebemos o que não pensamos,
A outra dúvida, não acredita.
E assim se desconversa,
Desentende-se,
Ofende-se,
Discute-se,
E acaba uma suposta amizade,
Que não devia sê-la,
Senão, não acabaria.
Será dos ventos radioactivos,
Ou das cabeças desatinadas
E perdidas por deixarem de ter.
O que tinham ou queriam?
Acho que talvez pela mudança,
De governo e do PEC.
Não quererão novas eleições,
Não votem…
Mas não adianta,
Tudo fica na mesma
Com este ou com aquele
Continuará o desgoverno!
Portanto, animem-se gente,
Sorriam, não discutam,
Afinal tudo nesta vida é supérfluo,
Vivamos com respeito e amizade.

José Carlos Moutinho


Vila Alice, Luanda, Angola




Foi num dia 28 de um mês de verão,
Do século vinte, Novembro direi eu,
Que a Vila Alice me acolheu,
Com o calor e o seu grande coração.

Deslumbrou-me desde logo,
Pois a alegria estava estampada,
No rosto das gentes que ali habitavam.
Não havia distinção de raças, todos comungavam
De uma paz que transpirava felicidade.
Pessoas de alma aberta e gentil;
Ouviam-se pelas ruas, nos dias domingueiros,
Os rádios em tom alto, demonstrando a alegria
Que se vivia naquela terra;
Especialmente naquele bairro,
De poetas e escritores,
Logo um bairro mais intelectual que outros,
Da bela Luanda, pois as suas ruas,
Tinham como nome,
Poetas e escritores famosos:
Entre outros,
Almeida Garrett, Fernando Pessoa
Camilo Pessanha, Teixeira de Pascoais
Eugénio de Castro e este, que dizia:

-“A fim, oculto amor, de coroar-te,
de adornar tuas tranças luminosas,
uma coroa teci de brancas rosas,
e fui pelo mundo afora, a procurar-te.”

E foi o que eu fiz, fui pelo mundo,
A procurar-te Vila Alice,
De Acácias belas, que marginavam as ruas;
Não me viste nascer,
Mas viste-me crescer e tornar-me homem,
De paixões e conheceste os meus amores.

Foste o meu lar, o meu abrigo
Foste tu, bairro de poesia,
Que me fez homem e foste amigo
E deste à minha vida um sentido.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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