Tantos e tantas vezes se
canta Portugal,
É verdade que é onde
nascemos,
Será que devemos enaltecer
de maneira tal,
Onde as agruras são imensas
e tanto sofremos?
Dirão muitos que é uma
conversa antipatriota,
Talvez um louco, que deva
ser internado,
Porém, sempre conheci estes
pais na bancarrota
E os políticos com modo de
vida folgado.
Sou patriota, amo este
jardim à beira-mar,
O que me custa é a exaltação
exacerbada,
Houve época em que daria a
vida sem pensar,
Porém o que recebemos é esta
miséria continuada.
Sou do tempo em que estudar
era luxo,
Só acessível a alguns,
poucos, privilegiados,
A educação era perigosa se
em grande afluxo,
Havia que continuar
ignorantes e apagados.
Mudaram os tempos, hoje
todos têm canudos,
Antes eram pobres iletrados,
hoje são doutores,
A fome grassa e os corpos
estão mais desnudos,
Onde só se vence, na
política ou por favores.
É deste país de belo sol,
mas de alma cinzenta,
Que eu pergunto, porquê
tanto orgulho,
A minha idade certamente já
não me contempla,
Com a felicidade de sair
deste eterno mergulho.
Em tempo de ditadura, não se
falava em corrupção,
Era de meia dúzia de
famílias, este país,
Veio a liberdade de Abril,
que confusão,
Aumentaram os ricos cada um
fez o que quis.
Se aumentaram os ricos
diminuíram os pobres,
Assim falam as ditas
estatísticas irreais,
Que não são palavras de
verdades nobres,
Porque as realidades são bem
desiguais.
É um pequeno país, mas tem
230 deputados,
Para que serve tanta gente,
muitos a dormirem,
A maioria nem abre a boca,
são acostados,
E as várias instituições só
servem para se eximirem.
Mas viva a nossa terra, viva
Portugal,
Que se mudem os homens, prejudiciais,
A Pátria está na nossa alma
de modo especial,
Ela é eterna, os homens
passam, são mortais.
José Carlos Moutinho