segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Não nasci em África





Não nasci em África,
mas em mim, nasce todos os dias
o sol das alvoradas tropicais,
que me enternece os sentidos
pelo por-do-sol matizado
de nuances vermelhas…

Entranhou-se no meu peito
o cheiro da terra molhada
e da brisa das tardes quentes
que o cacimbo refrescava…

Colou-se nas minhas retinas, agora cansadas,
o fantástico fulgor das florestas densas
que eu percorri, com imensa alegria
nas viagens da vida
em missão profissional…

Suspira-me a alma
na saudade do oscilar dos ramos verdes,
que a esperança imbuída de serenidade
me abraçava,
quando eu, no silêncio de mim
e da paisagem bucólica que me rodeava,
me aquietava no meio do nada,
isolado do mundo,
entregue ao meu pensamento
e ao sorriso da natureza…

Pela minha memória,
vai-se soltando o pó vermelho
do chão duro, sem o negro asfalto,
quando o vento me assoprava
nuvem matizada e opaca
obstruindo-me a caminhada
e me fazia parar…
numa simbiose sentimental
entre o deleite e o aborrecimento
da forçada suspensão de viagem…

Era um outro mundo
pleno de vida e cor
de melodiosos sons e doces fragrâncias…

Era, e é, a África portentosa,
Era Angola belíssima,
minha terra de coração,
meu desalento e tristeza
nesta saudade que me atormenta,
nesta minha paixão que jamais morrerá…

Angola, minha querida terra vermelha,
chão feliz da vida
meu sentir dolorido,
Deixaste-me
ou, talvez tenha sido eu a deixar-te…
Mas estarás sempre na minha alma,
Até um dia…minha Angola!

José Carlos Moutinho

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Lembrança adormecida








Ditosos  eram os dias daquele tempo

da juventude rebelde e muito feliz,

tão perto na memória e longe em lamento

que sinto, por não ter feito tudo que quis.



Ainda sinto o aroma das belas acácias

que perfumavam a ilusão dos meus sonhos

coloridos e inocentes sem falácias,

onde jamais cabiam os dias tristonhos.



Ai saudade, que moras no meu coração

tem pena da minha dor e vai-te embora

não adianta sofrer pelo que vivi outrora…



Foram anos de amor, quimeras e paixão

que passaram velozes na minha vida,

agora…deixo a lembrança adormecida.



José Carlos Moutinho

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Soneto




Voei sobre marés de belos sonhos
descansei nas areias das ilusões
nas praias vivi instantes risonhos
as ondas traziam-me recordações

Bem sei que seriam puras fantasias
creio na utopia inocente do sonhar
dizem que sonhar é viver magias
sonhemos então com o verbo amar

Eu pobre sonhador que  tanto amei
carrego o engano da minha ilusão
sufocando os ais do meu coração  

Um dia, deixará de haver razão e lei
Tudo não passará de lembranças
Pela estrada etérea das mudanças

José Carlos Moutinho

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Vagueio





Enquanto as cores esmorecidas do fim do dia
se vão diluindo no negro da noite,
eu, sentado na cadeira das memórias,
sob o alpendre da vida,
vou deixando o meu pensamento vaguear
pelos corredores da imaginação!

Absorvo a luz daquele sol cintilante
que me entra pelo peito,
como um sonho, antes sonhado,
e, invento mares de águas cálidas e serenas,
o pôr-do-sol de cores únicas,
vestido de sedas vermelho/amareladas,
vejo a imagem cristalina do luar,
que me murmurava palavras quiméricas…
E sinto o perfume
das acácias vermelhas
que floriam nas primaveras
da minha juventude!

Como saindo de uma doce letargia,
aspiro profundamente o ar da minha ilusão,
cerro os olhos,
sorrio feliz na saudade mitigada,
e esqueço o mundo.

José Carlos Moutinho

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Se souberes, amigo






Diz-me tu, meu amigo, se souberes,
a razão da ira deste vento norte
que me sopra em dias de acalmia,
se eu somente quero o sol,
nas tardes cinzentas de invernia.

Quando as noites chegam cansadas,
olho o céu e vejo o luar escondido,
assustam-me as marés desgovernadas
que parecem querer implicar comigo.

Se na verdade me disseres, amigo,
por que o tempo se revolta comigo,
talvez eu consiga viver em sintonia
e esquecer esta provocante ventania.

Se resposta não tiveres, meu amigo,
o que é natural, pois és igual a mim,
que não passo de um átomo perdido
nesta globalidade imensa e sem fim.

Então que venham marés e ventanias,
serei sempre o mesmo louco sonhador
voando pelos céus das prosas e poesias,
até que o viver deixe de ser uma dor.

Inventarei o sol nos dias escurecidos,
nos temporais rirei com as frias águas,
ousarei fazer dos dias entristecidos,
mar, que leve para longe minhas mágoas.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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