segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Preconceito e petulância



Que mundo este onde preconceito
Ofusca a tradicional verdade,
Fazendo da falsidade preceito,
Mentindo com tanta autoridade.

Serão arautos da sabedoria,
Em dementes cabeças vazias,
São petulantes com a ousadia
De mudarem o real em utopias.

E nas suas consciências ocas,
Pensam-se catedráticos da razão,
Quando as atitudes são poucas

Pavoneiam-se alardeando saber,
Que na verdade é pura ilusão
E vontade excessiva de ser!


José Carlos Moutinho

domingo, 8 de janeiro de 2012

Memória nostálgica (De Luanda/Angola)



Vai-se o tempo esvaído nos minutos que correm,
Vem a saudade, cada vez mais intensa
Nos segundos que nos restam;
À memória, surge forte a lembrança
Do bulício alegre da “mutamba”
No vai vem dos “machimbombos”;

Recuo em mim, sinto-me nos “musseques”
Impregnados de fortes odores,
Olvidados nas farras de rebita,
Prolongadas pelas longas noites tropicais
E nas místicas batucadas de outras noites;
Quisera ouvir novamente,
O gemido pungente do “kissange”!

Ah...Como relembro a gritaria das “quitandeiras”
Enroladas em panos coloridos, feitos vestidos,
Apregoando os “cacussos”
As “lavadeiras”, de trouxas de roupa à cabeça
Gingando, descalças pelas ruas;

Saudoso degustar dos chocos grelhados do “Bitoque”
As “sandes” quentes de presunto do “Baleizão”;

“picadas” a perderem-se de vista,
Adormecidas na terra vermelha,
Onde as chuvas faziam exalar
Cheiro único de terra molhada;
Aos meus olhos aparece como uma real visão,
As imensas matas de luxuriante vegetação,
Os cafezais com o seu fruto vermelho;
Extensões eternas de verde do sisal,
Perdidas na lonjura;

Ai, saudoso fascínio olhar o mar
E admirar o sol a esconder-se
Em lânguida mansidão,
Espalhando as suas cores quentes deslumbrantes,
Multiplicadas nas ondas brilhantes do Atlântico;
As praias de belas areias da Ilha de Luanda
Que nos acolhiam
E nos mergulhavam nas suas belas e tépidas águas;

Esta tela multicolor de memórias
Ficou na saudade de um viver que se foi,
Acordado na lembrança de hoje.

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Murmurar das ondas



Chora-me a alma,
No mar que embate nas rochas das minhas mágoas,
Por onde escoam lágrimas da minha saudade,
Das paixões vividas e sonhadas,
Em quimeras tantas vezes imaginadas,
Que o tempo deixou esmorecer!
Imagino-me a falésia,
Sofrendo a agressão da água da minha tristeza
E nem o brilho do sol,
Aquece a minha nostalgia,
Refletida no dorso deste mar azulado,
Abraçado e beijado pelo céu, lá longe no horizonte!
Deixo-me levar no murmurar das ondas,
Que me sussurram palavras de esperança
E me exortam a sentir a carícia da espuma,
Despertando os meus dormentes sentidos,
Para a busca de novas emoções.

José Carlos Moutinho


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Pensando quimeras



Este Inverno que me visita,
Trouxe-me a saudade
Da Primavera dos teus beijos,
Desenhados em pétalas vermelhas
Dos teus sorrisos de gardénias
E nos teus abraços aconchegantes,
Embrulhados em aromas feiticeiros,
Que me inebriavam docemente
E me faziam abandonar-me em ti,
Nas carícias dos teus esguios e sedosos dedos!
Mesmo com as folhas cansadas,
Que caiam com a chegada do Outono,
Não me fizeram olvidar a tua tez,
Agora matizada no sol que enfraquecia
E lentamente se tornava alva,
Na candura do teu ser,
Iluminada pela nascente alvorada,
Tornando-te ainda mais sensual!
E agora com o tempo frio,
Deste Inverno que me abraça,
Quero voltar a sentir o teu calor,
No afago do teu corpo fundido no meu
E novamente...
Deixar-me abandonar em ti.

José Carlos Moutinho

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Cosmos insatisfeito



Flutuam poeiras no céu azul,
Escondem partículas de sonhos,
Que vagueiam no espaço vazio,
Fugindo das desilusões!
O sol atinge o seu clímax,
Irradia calor que afaga esperanças;
Cintilam raios como flechas de cupido,
Solta-se o amor em cristais;
No horizonte o céu prolonga o mar
Que desperta do seu sono fugaz
E se agita em ondas suaves de carícias
Que beijam as areias douradas,
E delicadamente desfazem-se em espuma
De alegria e prazer da vida!
Cheira a fantasias vindas do nada,
Em pétalas de flores imaginadas,
De mágicas fragrâncias,
Abraçadas a alvoradas por inventar!
O Cosmos corre veloz pela Via Láctea,
Ignora as estrelas que lhe sorriem,
Procura outras galáxias,
Insatisfeito, quer o inexistente
E esquece, displicente,
A beleza nele contida
E as maravilhas em seu redor.

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Voar até ao Infinito



Cambaleio nas areias do deserto de mim,
Em inconsequente estado de loucura,
Nestes dias tristes de cinza,
Sob nuvens tatuadas de tempestades,
Que se esbatem,
Na calmaria do oásis de bonanças,
Nas ilusões de verdes esperanças,

No querer do meu sentir,
Que me navega no âmago
E na emoção do meu ser,
Pensa-me em doce sonho,
De que este sol escaldante,
Derreta a frieza das noites sofridas,
Pelo abraço azulado dos luares,
De estrelas cintilantes e guias
Dos caminhos de inflorescentes plátanos,
Onde repousam aves,
De encantadas cores e de chilreios
De incontida alegria,
No despertar da aurora de cada dia,
Fazendo deste espaço cósmico,
Um mundo diferente,
Nos arco-íris do deslumbramento

Tal Zeus, no dorso da águia-real,
Aconchegado nas suas asas,
Sobrevoo vales e montanhas,
Invento mares insondáveis,
Deixo-me voar...
Voar até ao Infinito.


José Carlos Moutinho

domingo, 1 de janeiro de 2012

Devaneando



Sento-me em nenúfares de belas cores,
Mariposas esvoaçam à minha volta,
Sinto nelas a tua presença,
Que me envolve no afago dos teus braços!
As asas que batem em sintonia melódica,
És tu no teu sussurrar de palavras doces,
Nos meus ouvidos em deleite!
As águas verde-azuladas que me sustentam,
É o teu corpo onde eu flutuo,
Que no agitar silencioso, pela brisa suave,
Faz-me deslizar pela ondulação em ti,
Fazendo-te o meu porto de abrigo,
Na imaginação que voa sobranceira,
Às nossas mentes em êxtase!
O nosso abraço é a união de elos
Indestrutíveis, nesta corrente de paixão,
Que nos amarra a um sentir,
De prazer desmedido e nos arrasta
Para uma execução coreográfica
Côncava/convexa,
De movimentos ritmados,
Num arfar de respiração sufocada,
Na líbido que nos transpira
E nos poros que se incendeiam,
No auge do clímax.

José Carlos Moutinho
1/1/12

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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