Bem pequeno, quase menino, um
dia parti,
para longe, terra distante
de sol tropical,
deixei para trás o berço
onde eu nasci,
ausentei-me do doce
aconchego maternal!
Era uma tarde cinzenta de
triste inverno,
as lágrimas deslizavam
caladas
pelo lindo rosto de minha
mãe,
colavam-se nas rugas
sulcadas pelo arado da vida!
Recordo ainda o seu olhar esmorecido,
reflexo do choro gritado
pela sua alma,
que me tornava angustiado,
e deixava o meu pequeno
coração em sobressalto,
pela inquietude do advir desconhecido!
No cais daquele enorme porto,
a mole humana
aglomerava-se na despedida
dos seus parentes,
no meio de tanta gente lá
estava a velha Ana,
pelo seu filho, tinha o
coração e a alma pendentes!
O enorme navio ancorado
naquele longo cais,
pintava ainda mais o
ambiente triste e escurecido,
nele, partia eu, para Africa
misteriosa de muitos ais,
em busca de um futuro melhor,
mais garantido,
que este Portugal jamais
conseguiu oferecer
a tão nobre povo, cujo destino
é nada ter e sofrer!
O que parecia uma aventura
afoita e obrigatória,
tornou-se em satisfação
vivida com alegria,
aquela terra tinha o dom do
encanto e da glória,
onde se viva em perfeita paz
e total sintonia!
Esta minha história poderia
ser a de muitas vidas,
sentida em Angola de sol
fascinante e clima quente,
fiz família e fui homem de
honra e paixões incontidas,
demonstro neste sorriso de saudade,
sempre presente!
José Carlos Moutinho