sexta-feira, 12 de abril de 2013

Chão do meu aconchego



Este chão duro, gretado pelas amarguras
da vida, sopradas por vendavais
de estivais desencontros,
olha-me indiferente, silencioso,
recusando-me o sorriso que lhe ofereço!

Ai, este chão que pisamos displicentemente,
que nos oferece generosamente alimento,
Sofre a dor e a desdita da incompreensão
do tempo que o avassala,
aceita calado, as agruras e investidas da natureza
que lhes sulca impiedosamente o corpo!

Chão sofrido, verdejante ou ressequido,
árido,  fértil ou florido,
que carinhosamente nos acolhe
pela eternidade, silenciosamente!

Este chão que se submete
às nossas vontades,
ignorado e espezinhado,
ingloriamente!

Este meu chão, chão da minha existência
onde me aconchego,
na ausência de asas, para voar.

 José Carlos Moutinho

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Amor e felicidade



Sobressalto-me nos pensamentos turvos
que me assolam.
São nuvens negras perdidas,
que deambulam no meu sentir,
tentando ofuscar o encanto
que me toma o coração,
e me faz sorrir a alma
quando invadida pela imagem
daquela mulher, doce
por vezes rebelde,
mas que tem a doçura da carícia
na entrega absoluta
quando me envolve em seus braços
e me sussurra muito baixinho...
Num murmúrio que só o meu coração ouve:

“Meu amor, tu és a minha luz
és o caminho que se abriu
afastando os escombros
que me tolhiam o passo,
agora sou livre das amarras que me dominavam,
clarearam-se os bloqueios que me escureciam os dias”

E os meus pensamentos voam, felizes,
por mares, vales e montanhas
inventando ilusões e quimeras
que se tornam realidades
nos seus abraços,
e pelo no néctar dos seus beijos
que me invade os sentidos!

Parece sonho...
Esta felicidade que me canta
melodias de paixão,
mas que ao luar do nosso amor
despertam na entrega
de dois corpos fundidos
pela mesma emoção
em delicada comunhão de sentimentos.

 José Carlos Moutinho

quarta-feira, 10 de abril de 2013

És folha seca



Quando te vejo abrir as mãos
desertas de caricias,
levo-me desencantado,
pelas minhas memórias caladas,
doloroso retorno aos instantes
que faziam o sol mais luminoso,
e os corações vibravam excitados,
pelos anseios realizados!
O teu sorriso de agora empalideceu
perdeu o fulgor de outrora
O mortiço do teu olhar
é chama apagada
pelas noites cansadas, sem luar!
As tuas palavras,
soam como ventania,
em cinzentos dias de tempestade,
perderam o doce do murmúrio
que me fascinava naquelas tardes
de nosso delírio, sobre as areias douradas
da praia do nosso amor!
És a imagem desfalecida,
das emoções em tempos sentidas!
És sombra moribunda
da paixão antes vivida,
com a intensidade do vulcão
És folha seca, sem vida!

 José Carlos Moutinho

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Mulher, flor, mulher




Flor desabrochada entre fragas do desalento,
que acaricia com o toque
das suas mãos pétalas
aceita no perfume que sua essência liberta
a violência contra si!
Flor, mulher, Rosa
de espinhosa vida de preconceitos,
escrava submissa na dor calada!
Doce na graciosidade,
do seu ondear entre ervas daninhas!
Flor rainha, mãe
que aconchega no seu gineceu,
a vida que dará à luz,
na divina graça da procriação!
Que sofre silenciosa por amor,
perdoa na injustiça e na traição,
É flor que se agita no vento
em defesa das suas crias!

Ah...Mulher de muitas flores
és a graça colorida do amor,
perfumada pela sabedoria da bondade,
superior na arte de amar,
até à demência...
Mãe sofrida,
que na carência,
se ausenta do alimento
com que mitiga a fome do filho!

Mulher...És a rainha das flores
pela beleza com que foste dotada

 José Carlos Moutinho

sábado, 6 de abril de 2013

Pensamentos





Desalento-me neste meu sentir,

que se esbarra na parede do vazio!

Ouço sons de tristeza,

em caudalosos choros de águas sofridas,

rios que correm negros pela angústia,

nuvens cinzentas ameaçadoras,

cobrem esta imagem de dor,

do verde sem esperança,

que margeia a torrente de lágrimas

deste mundo surdo pelas vaidades!

Ah...como eu anseio

que sorriam as noites dolorosas de breu,

e se calem os gritos do sofrimento

que ecoam nas estrelas apagadas!

Desejo que o mar seja dócil,

para que o navegar sem rumo,

encontre um destino, um porto de abrigo,

sob o manto do luar,

na paz da serenidade,

que tanto se ausenta da humanidade



José Carlos Moutinho

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Sonhar Abril





As trevas tolhem as vontades,
desfalece o sorriso das flores,
a natureza está triste e desalentada,
a liberdade é substantivo amordaçado!
As palavras calam-se,
o ensino é escasso e descriminado,
o pão do sustento endureceu,
as amizades esmorecem
no desencanto da vida!
Vive-se um viver perdido,
nos meandros de incerteza
pelo futuro,
 escurecido pelas amarras!
Há recusa dos deveres patrióticos
nas guerras fratricidas,
crueldade na repressão ditatorial!
Sonha-se...
Sonha-se um novo alvorecer,
pleno de luz e alegria,
quiçá um novo despertar para outra realidade,
menos dura e crua,
onde se possa caminhar livre
e se entoe Grândola Vila morena!
Sonha-se com um novo Março
ou talvez Abril,
de onde saiam cravos dos canos das armas,
em vez de balas,
e o futuro se mostre promissor
e se possa sorrir e cantar,
sem receio de quem está ao nosso lado!
Sonha-se,
porque sonhar é a única coisa livre
a que o povo tem direito
no seu pensamento intransponível!
Sonha-se...
E o sonho fez-se luz,
liberdade, paz e alegria!
Sonhava-se Abril
e Abril despertou.

José Carlos Moutinho

terça-feira, 2 de abril de 2013

Sol de esperança



Perco-me nas brumas do meu desalento,
sou levado como folha seca, pelo vento,
tento agarrar-me às nuvens da felicidade,
mas minhas mãos escorregam na ansiedade!

Neste meu tempo de encantos esmorecidos,
cavalgados em ondas agitadas
de um mar impetuoso de água bravia,
navego-me no silêncio dos meus pensamentos,
em busca da serenidade arredia
que se ausenta de mim
nos dias de melancolia!

Aspiro aromas feitos de maresia,
que me penetram os sentidos
e me embalam pelas tardes cansadas,
do meu respirar enfraquecido!

E com este sol que audaz me bafeja
revigoro-me no anseio
de um sentir rejuvenescido,
acolhido pelas areias
da praia da minha esperança.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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