Tento
sorrir...
Garanto-vos
que faço um esforço para o fazer, mas os meus lábios contraem-se num esgar de suplício.
Mentalizo-me
fortemente, para me concentrar de que devo sorrir, porém, é tarefa inútil,
difícil, quase impossível.
Confesso-vos
que não entendo a razão, se até achei engraçado o que acabei de ver:
Um
sujeito maltratava uma senhora, só porque ela lhe deu um encontrão ao
desequilibrar-se, quando descia uma escada. Era mal-educado, numa autêntica
cena de violência em filme de péssima qualidade!
Eu
deveria sorrir perante tanta perfeição representativa, mas não, não conseguia.
E
mais à frente uma outra situação hilariante, e nada de me fazer sorrir.
Então
não é que na confusão do trânsito, um Xico esperto, ultrapassou outro, de forma
perigosa, quase roçando a frente do carro ultrapassado
e
em seguida, não satisfeito com a proeza heroica de exímio condutor
automobilístico, chamou-o de azelha e burro, ainda vociferando mais uns
adjectivos simpáticos: És um nabo, pareces uma lesma, andas a dormir!
Era
cena para eu me rir ou não?
Comecei
a preocupar-me se eu estaria insano, ou o que eu via não era suficientemente
cómico, para me rir?
Desisti
de me animar e alegrar-me com tão belas cenas e convenci-me de que eu estava
mesmo perturbado, não era normal, eu não rir a bandeiras despregadas, perante
os actos, tão hilariantes e demonstrativos do bom humor e educação cívica dos
intervenientes!
Eu
era de outro mundo, sem dúvida e fiquei-me por ali, sem rir, com cara de poucos
amigos, por não achar graça ao que era engraçado.
José
Carlos Moutinho