Das arribas do Douro,
sopra gélido, o vento,
ar seco, cortante e puro
e sopra, sopra, num lamento!
O seu frio crispa as mãos,
sulca os rostos como um
arado,
invade o silêncio da solidão
daquele inóspito lugar, tão
isolado!
E o vento sopra, inexorável,
Penetra pelas frestas das
casas em ruínas,
carcomidas pelo tempo,
esse mesmo tempo,
que desertificou aquela
pequena aldeia,
perdida no alto da serra,
no meio do nada, que
certamente,
tantos mistérios encerra!
Heroicamente, poucos vão
resistindo
ao isolamento silencioso,
onde vivem, entre escombros,
que só o silvo do vento
e o ladrar dos cães faz
despertar,
para uma realidade fenecida,
sem futuro!
As suas almas são fráguas de
luta,
aonde a esperança, ainda se
aconchega,
porque aos corpos decrépitos,
resta-lhes a força para se
arrastarem!
Esta aldeia no nordeste
transmontano,
onde meus olhos sentiram
muita tristeza,
porque a realidade não era
um engano,
meu respeito a este povo de
tanta nobreza.
José Carlos Moutinho