terça-feira, 10 de novembro de 2015

Já não sei escrever





Já não sei escrever poemas,
um vendaval levou-me o inventar metáforas,
voaram com as folhas secas do outono matizado...
Agora,as minhas palavras caem fundo,
bem fundo como corpo inerte em charco escuro,
o vento sibila-me vozes taciturnas
e sufoca o silêncio da minha alma
nesta solidão, que me tolhe os pensamentos...
Já não sei escrever palavras de encanto,
nem tampouco sei as cores das flores
e menos ainda, se o sol me ilumina ou escurece…
Só sei que o luar me esmorece
e torna-me bruma de uma vontade cansada
por que as palavras descoloriram-se
na chuva de uma cruel melancolia,
ausentando-se de mim,
do meu sentir, do meu pensar poesia,
murcharam as flores nos muros do desânimo.

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Sou o que quer meu querer



Sou o sal que me alimenta,
o sol é a energia da minha vida,
sou um ser que do mal, se ausenta
no abraço mostro minha alma despida.
   
Sou o querer sem o saber contrariar,
sou a emoção da palavra verdadeira,
vivo a vida que me foi dada a aceitar,
serei assim, até à minha meta derradeira.

Jamais serei o que os outros inventam,
vivo a verdade no meu sentir efémero,
compreendo todos aqueles que o tentam
mas ignoro tudo o que não faz meu género.

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Quando eu era um menino





Quando eu era um menino,
Pensava que o mundo era feito de sorrisos
E que as aves cantavam a felicidade
E o sol existia para nos aquecer o corpo
E o luar para nos iluminar o caminho
na escuridão da noite, onde se escondiam os medos!

Quando eu era um menino,
Sonhava que no futuro só haveria amizade
E que em cada amigo, houvesse um abraço
E em cada abraço, a sinceridade da fraternidade!

Ah…Quando eu era ainda um menino…
Vivia um outro mundo, que não este
E era tão inocente, tão ingénuo e…sonhador
E agora que deixei de ser aquele menino,
Sou o desencanto da ilusão que me invadia,
Despertei daqueles sonhos, no breu da crua realidade!

O sol e o luar existem por que a natureza não é humana
Sim, a natureza não se verga à maldade dos homens
E por isso se fazem presentes todos os dias…
A amizade que eu sonhara em menino tornou-se utópica
Existe alguma, é certo, mas tão escassa
E tantas vezes essa amizade, mesmo rara, é de falsidade!

Ah…que saudades eu tenho de quando eu era ainda um menino…
Guardo em mim a nostalgia daquele outro tempo
Um tempo em que eu, menino, sonhava…

Agora, resta-me respirar a melancolia dos dias!

José Carlos Moutinho
6/11/15

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Pujante natureza





Correm águas serenas



Pelo leito da vida,



Beijam margens terrenas



com vontade despida.







Murmuram no seu deslizar



melodias de saudade,



ao mergulharem  no mar



finda sua eternidade.







Agora, na imensidão



do mar, que as abraça,



desfalecem sem acção,



perdendo toda a graça.







Pujante é a natureza



que tanto nos fascina,



tem em si tanta beleza



que a todos ilumina.







José Carlos Moutinho

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Oh...tempo





Oh Tempo que sufocas

as tardes do meu viver,

traz-me a brisa da acalmia

pois eu não quero sofrer

a toda a hora do meu dia.



Dá-me o aroma das flores,

não a secura da mágoa,

a vida, jardim de amores

pode ser pura com’água

que corre sem pudores.



Quero a tua Primavera

nos dias da minha vida,

ter um amor à espera,

a vida é uma corrida

viver é uma quimera.



José Carlos Moutinho

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Caminho pelo parque





Enquanto caminho pelo parque dos meus pensamentos
sinto no meu rosto os salpicos de um tempo ausente,
levanto os braços, aperto a nostalgia em minhas mãos,
espremo-a entre os dedos e atiro-a longe,
quero sentir somente a brisa do agora
que embora fresca, aquece minha alma solitária!

Olho o céu, creio ver mares e desertos
que se entrelaçam em abraços de espuma e areia,
fecho os olhos, sorrio-me ingenuamente
sentindo-me criança sonhadora e inocente
e caminho pelo parque ajardinado e florido
como se o oásis se fizesse presente
nesta cidade enorme e deserta de sentimentos!

Estugo meus passos, assustado pelo vento
que inesperadamente acordou e sopra realidades
deste tempo, que agora me envolve e assusta...

Circulam pessoas de rostos sorridentes, passeando cães
Outras, correm, sombrias, como se o mundo fosse acabar
e as folhas verdes das árvores agitam-se
observando todo este movimentar das gentes
deste mundo de contrastes, alegrias e tristezas em que vivemos
e por que é verão nesta tropicalidade que eu respiro
deixo-me levar pela saudade do Outono dos meus pensamentos.

José Carlos Moutinho


quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Minha Terra



Minha terra tem pouca terra
Não tem petróleo, nem ouro
Mas tem campos e curvas de estradas
Onde se morre estupidamente
Não tem tido bons governantes
Mas tem gente que tudo sabe de política e nada fazem
E também tem gente soberba e gente humilde
Não tem agricultura nem barcos de pesca
Mas tem um imenso mar...
Minha terra é muito pobre, dizem,
Mas tem muitos telemóveis e TV’s de Led...
Minha terra é triste e esfarrapada
Mas tem BMW,s, Porches e Ferraris,
Tem belas praias e caríssimos restaurantes
Mas também tem fome e desemprego...
Minha terra tem castelos e belos monumentos
E também a tristeza de casas sem telhado e paredes esburacadas,
por onde o vento passa e enregela a desgraça...
Minha terra é um jardim de flores murchas,
Plantado à beira de um imenso mar
Esse mar imenso da nossa nostalgia
Onde o povo da minha terra chora suas mágoas...
Minha terra tem tão pouca terra
Mas tem a grandeza de um passado
E a vergonha de um presente que parece não ter futuro...
Minha terra tem de tudo e de nada
E tem um imenso mar
Que nos levou por esse desconhecido mundo
Dando novos mundos ao mundo.

Minha terra é tão pequena em terra
Mas tão grande em imenso mar de glórias
Minha terra, minha alegria e tristeza,
Meu Sol, meu Luar, meu chão...
Minha Língua, minha Pátria..

José Carlos Moutinho

22/10/15

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Recordo-te, mãe



Estás sempre presente em mim, mãe...
Os teus olhos eram lagos cintilantes
Onde eu mergulhava a minha inocência...
Foram também, luz do meu caminho,
As tuas mãos tinham a ternura da minha segurança
Dos teus braços eu fazia leito da minha acalmia
A tua voz melodiosa e doce fazia sentir-me sempre criança...

Tenho saudades de ti, mãe.

Bem sei que lá do alto, uma estrela maior continua a brilhar,
Não a distingo dos milhares que lá no céu cintilam,
Mas sinto-a, mãe, sinto-a no ardor dos meus desatinos
Dessa luz de ti, recebo a força para continuar a navegar
Ainda que enfrente marés de inquietude,
Sei que tenho em ti, o meu porto de abrigo...

Tenho saudades de ti, mãe.

Não te dei o carinho que merecias
Pois de ti recebi tanto amor, tanta compreensão
O teu coração era feito de bondade e amor, mãe...
Eras benevolente e tolerante, mesmo nos instantes em que a revolta podia ter mais força...

Estende-me os teus braços mãe,
E deixa-me neles repousar
Quero adormecer com o murmurar da tua voz,
Estou cansado...
Cansado desta estrada sem rumo,
Deste deserto de mim
E da bruma perdida na miragem do meu tempo...

Estou cansado, mãe,
Cansado deste tempo que me domina
Embora o tempo seja nada, que o próprio tempo ignora...

Tenho saudades e estou cansado, mãe.

José Carlos Moutinho

20/10/15

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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