domingo, 6 de dezembro de 2015

Duas metades




Metade de mim é serena

A outra metade é inquieta,

Juntando as diferentes metades

Farão de mim um todo de duas metades

Num gritante paradoxo de compatibilidade…

Por que se uma metade de mim

É tão diferente da outra metade

Daquilo que eu sou,

Creio-me um ser estranho

Duvidando que as duas metades se entendam,

Talvez uma metade seja rebelde

E a outra metade obediente

E quando as duas se amotinam

Eu não sou nada de cada metade

Serei unicamente a discórdia

das duas metades…

A metade obediente e serena é neutralizada

Pela rebeldia inquieta da outra metade

Ou vice-versa…

Sei que metade de mim me pertence

E a outra metade também

Por que completam o meu ser.



Se uma metade é alegria e felicidade

A outra metade é nostalgia e saudade

E a metade que é saudade

Anula a metade que é felicidade

Ou vice-versa…



Que serei eu então, neste conflito de metades

Talvez nada ou talvez tudo,

Se eu pensar que não existe em mim, metades

Levar-me-ei a pensar como um todo

No todo que eu sou afinal…



Creio que uma metade é feita de amor

E a outra metade também,

Por que em mim  não existem metades,

Sou um ser uno indivisível e universal



José Carlos Moutinho

sábado, 5 de dezembro de 2015

Amar é loucura





És a flor da qual eu sou o caule
Sou a brisa que docemente te afaga
És o sol que me sorri e aquece
Sou o manto do luar que te protege…

Navego nas ondas dos teus braços
Respiro as marés do teu belo corpo
Descanso meus cansaços em teus abraços
És serenidade que faz de ti o meu porto

Somos metáfora das ilusões improváveis
Voamos como folhas, sonhadas mariposas
Em cada dia inventamos novas sensações
Somos vale plantado de poesias e prosas…

Que digam que não somos deste mundo
Se o fizerem é simplesmente por despeito
Temos pelo sentir a vida, respeito profundo
Somos assim e não aceitamos de outro jeito

Amar é sentir o perfume dos cardos
É sentir dor que comprime o peito
Amar é achar belos, os secos prados
É ver perfeição onde há tanto defeito
Amar é a loucura dos apaixonados
É não distinguir o errado do perfeito

Sentir o amor é como sentir o vento
Sopra, assusta e quando brisa, não dura
Tantas vezes o amor só traz sofrimento
Na verdade amar é verdadeira loucura

Amar pode ser dor ou a paixão da cor
Da alegria, no jardim da felicidade
Amar é a tristeza cinzenta da infelicidade
É desvario cativo da dor, por amor

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Escarpas da vaidade





São sapos que chafurdam
nas poças rasas da ignomínia
e lambem os cheiros
das vozes agoirentas
sopradas pelo vento bolorento!

De olhar fétido secam as folhas
que vão caindo desgraçadas
no chão negro do avilte
de onde voltarão a reproduzir-se
incólumes e ainda mais abrutalhadas
como epidémica praga,
perfilhadas pelo negro e funesto  olhar!

Ao toque de suas mãos, turvam-se as águas
vomitadas pelas escarpas da vaidade
onde se afogarão na sua própria torpeza
após terem fenecido as margens pestilentas
do rio da sua insignificância
que os transportou à foz do nada!

Vegetam empedernidos pela ilusão do eterno,
mentes perturbadas pela visão opaca
que lhes atrofia o discernimento
e lhes confunde a realidade da vida.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Escusa-se o poema





Nega-se a mão a desenhar o pensamento,
escusa-se o poema à vontade da inspiração,
ausentam-se os versos à seara da criação
dando lugar ao fracasso da colheita
de uma provável e bela escrita lírica…
ou até do florir de um singular jardim
de simples metáforas coloridas
abraçadas ao sentir bucólico das cores...

...Mas tudo se confunde num misticismo
que se entranha no mais profundo da sua alma
e lhe entrava os gestos da mão que escreveria
e cala a voz do coração que se lamenta
pela incapacidade de soltar as amarras…
Amarras que os prendem às margens do absurdo
e não lhes permite navegar...
Navegar pelas palavras plantadas,
onde o joio não cerceasse o sentido
e o desejo de inventar o poema.

José Carlos Moutinho

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Ânsia incontida





Fugiam p’los meus dedos
vontades do  meu sentir,
eram mágoas e medos
torturas do meu carpir

Chora triste a minha alma
a ilusão do sonho ido,
nada mais me acalma
nesta vida sem sentido

Vagueio a melancolia
pelas ruas da saudade,
no breu da minha agonia
escondo esta realidade

Abraço-me à esperança
dos sorrisos da vida,
tem a cor de mudança
a minha ânsia incontida

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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