Tantas vezes me vesti de pó vermelho
pelas picadas das minhas sensações,
refresquei-me sob as largas copas
das árvores
e escutei o chilrear melodioso das
aves…
Tantas e tantas vezes me deixei
deslumbrar
até ao mais profundo do meu sentir
entregando-me à volúpia das emoções
ao observar o misticismo do
pôr-do-sol
matizado das mais belas cores
que na leveza da sua luz
iluminava docemente o meu peito…
Quantas vezes, quantas
me deixava perdido em mim
viajando pelo dorso do mar
abraçado às ondas galopantes
inebriado pelo perfume da maresia…
Ai, que saudades
são tantas as saudades
dos cheiros da terra molhada,
das noites enluaradas de cintilantes
cristais
e até das chuvadas de verão
intempestivas e breves
que numa estonteante miragem
deslumbravam-nos com os mais belos
arco-íris…
Esta nostalgia que não me deixa
esquecer
o som dos batuques nas noites cansadas,
no calor dos musseques,
ecoando melodiosamente pelos ares…
Aiuê…terra de tantos contrastes
onde se misturam o fascinante colorido
das acácias
com a altivez do grotesco imbondeiro
de estranha forma e único da flora
tropical
onde se dependuram múcuas (frutos),
castiçais da natureza…
Aiuê… Angola ya Muxima uamie
ficaste cravada no meu peito
que sangra dolorosamente de saudade..
E eu que nem nasci no teu solo,
Angola
mas amo-te tanto como ao meu
Portugal.
Nga Sakidila Ngola! (Obrigado)
Ngala ni jihenda! (Saudade)
José Carlos Moutinho