domingo, 9 de dezembro de 2018

Meu chão, minha terra



Sobralinho, minha terra, meu chão,
aldeia do meu coração, meu berço
que eu deixei num dia de emoção,
parti pra longe, que nunca esqueço

Foste meu sol, meu luar e alegria,
foste pião que rodopiava campeão,
és memória de sempre e de um dia
quando desci a serra numa confusão

És a lembrança de tantos instantes
da minha tenra idade e juventude,
de tantas brincadeiras mirabolantes
jamais perdeste dignidade e virtude

Quando te deixei era tão menino
quero que saibas, nunca te esqueci,
terras de África foi o meu destino
levei-te no coração quando de ti saí

Voltei muito mais tarde, bem sabes,
quis mostrar-te a minha actividade
levando-te meus escritos onde cabes
na poesia que te dedico com afectividade

Uma realidade que nunca entenderei
de ti, querida aldeia, tenho tão pouco
do tanto que pelo mundo eu viajei
num tal rodopio que me deixa louco

Agora que minha caminhada se encurta
tu, Sobralinho, meu canto, minha terra,
o meu coração grita a saudade absoluta
na calada dor que a minha alma encerra

José Carlos Moutinho
9/12/18


Meu chão, minha terra

sábado, 8 de dezembro de 2018

Vem...


Vem…vem!
Esta palavra, repetida desperta-me
da minha viagem pelos sonhos
ou viajaria eu, quiçá, pela realidade?
Ensonado, não consigo abrir os olhos,
mas continuo a ouvir, muito baixinho:


Vem…vem!

Estranho…
enquanto escuto esta palavra
num tom de voz profundo,
sinto o perfume das acácias
e o cheiro característico de terra molhada,
consigo perceber o canto da mulembeira
quando acariciada pelo vento…
estremeço com este pensamento,
o coração bate apressado e emocionado
enquanto mais distante
onde a lonjura se vai perdendo,
ainda ouço:


Vem…esta é a tua terra

desta vez acordei sobressaltado,
como era possível uma voz tão grave
que parecia vir das entranhas da terra
ou da boca do exótico imbondeiro
perturbar-me tanto assim, enquanto dormia?


Aquele murmúrio chamativo lembrava
uma mãe a chamar pelo filho
E aqui só podia ser a mãe África
que assim, a mim se dirigia
chamando-me para junto de si!


Mas como, se eu sou europeu?
Fiquei pensativo e ansioso
teria eu já sido filho de África
nalguma outra passagem por este mundo?


Deixei-me acalmar
apesar de serena, aquela voz ia-se afastando
deixando a suspirar uma enorme nostalgia,
levando-me a recuar no tempo, ainda recente
e relembrar quão feliz eu tinha sido
naquela terra tropical,
plena de cores, musicalidade,
feitiços e perfumes…


Vem…vem
o teu coração mora aqui!
Que eu, solenemente, sentia,
mais do que ouvia,
embora mais ténue, porém, vibrante,
trazia a mim o som místico do kissange…
…foi-se perdendo na lonjura
que me tinha deixado apaixonado!


Incrivelmente voltei a adormecer,
mas no meu coração
ficou lavrado aquele ternurento som
e a minha alma
foi tomada por uma perfumada
e eterna saudade
que jamais se extinguirá


José Carlos Moutinho

Decreto-Lei, nº 63/85
dos direitos do autor

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

VEM

Rebusquei




Rebusquei na minha memória
pequenas coisas que lá se escondiam,
não, não eram pedaços de história
que à minha recordação apareciam

Encontrei, vejam bem, algumas cartas
de antigos amores que já esquecera
repletas, porém, com palavras fartas
de carinho e paixão, doce quimera

Nem mesmo o tempo conseguiu apagar
a saudade que agora renascera
ao ler as cartas senti um retornar…

Porque esta lembrança fez-me voar
até àquela lonjura onde eu vivera
e tive a felicidade de amar…

José Carlos Moutinho
7/12/18

Decreto-Lei, nº 63/85
dos direitos do autor

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Senti perfume de Luanda


De repente (Áudio/vídeo)


De repente


Senti, assim de repente,
o perfume
da brisa, que me acariciou
ao passar por mim...

mas...seria mesmo da brisa,
a carícia
ou seria do meu pensamento
que se sentia nostálgico?

Não sei,
não tenho essa faculdade
de adivinhar o voo dos sentimentos…

por isso, serenamente,
deixei-me a aspirar aquela fragrância
que me fazia sentir bem
e pensar que estaria em outro espaço
que não este, de desatinos

José Carlos Moutinho
4/12/18

Decreto-Lei, nº 63/85
dos direitos do autor

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Ai, eu...


Escutei o cantar do rio da vida
ao caminhar pela margem da emoção
num caudal de felicidade sentida
que deslizava suave no meu coração

Ai, eu que nem sou marinheiro
gosto de, silenciosamente, navegar
nas ondas da ilusão, tal timoneiro
na canoa da quimera a caminho do mar

José Carlos Moutinho
29/11/18

Decreto-Lei, nº 63/85
dos direitos do autor

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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