segunda-feira, 7 de maio de 2012

Mãe

Porque para mim, MÃE, não tem um dia definido, coloco esta prosa, para o demonstrar:
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MÃE

Mãe, tenho saudades de ti!
Bem sei que estás em paz lá no azul do céu, rodeada de anjos que te protegem!
Mas tenho saudades do teu sorriso, do teu jeito de me dar carinho; Não eras do género de abraçar, mas tinhas o teu coração pendente de mim.
Pensavas-me a todo o momento, preocupavas-te com o que me poderia acontecer!
Sabes...recordo os teus cabelos brancos, como neve numa montanha de amor, amor sim, mãe, tu eras amor, até mesmo quando me ralhavas, o que era tão raro.
Vivemos pouco tempo juntos, a vida quis separar-nos e, embora perto geograficamente, estávamos distantes no convívio do sorriso, da piada.
Gostavas de ser irónica, mãe, sempre com aquela piadinha inofensiva, porém, inteligente!
Tenho saudades de ti, mãe, sei que me esperas, embora não desejes que eu me reúna a ti tão cedo.
Viveste aqui, neste espaço terrestre por longos anos, partiste com noventa e um anos, numa noite, enquanto dormias, serenamente, como sempre foi a tua postura enquanto ser físico e, agora em outro espaço, o espiritual, a tua serenidade e bondade serão mais acentuadas, certamente. Quem parte deste mundo da maneira que tu partiste, tranquila, num não mais acordar, como um passarinho, só pode ter cumprido a sua missão de bem, na Terra!
Mas não posso deixar de sentir saudades de ti...
Sabes mãe, ainda me recordo daquela vez, que tu, por castigo, me quebraste o carrinho de rolamentos. Confesso que fiquei muito triste e zangado contigo, mas, mais tarde senti que o fazias por amor, pela preocupação que te ia na alma, pelo que acontecesse ao teu menino.
Que tempos bons, nós passámos na minha meninice. Estou-te muito grato pelo que me deste, por me mostrares como enfrentar a vida, com honestidade. Eu aprendi a tua lição, segui os teus conselhos.
Gostava que estivesses aqui agora, ao meu lado, para te dar um beijinho e pedir-te desculpa por, talvez, não te ter dado os beijos que merecias. Mas sabes, quando somos jovens, somos irreverentes, desligados e, depois, quando temos uma outra vida e somos pais, não temos tempo para dar beijos à mãe. Que injustiça, mãe, por termos este comportamento. Mãe é única, insubstituível e devia ter beijos e carinhos todos os dias. Agora é tarde, mãe, prometo-te que quando estivermos juntos te beijarei e abraçarei e não me afastarei mais de ti.
Até um dia, minha querida mãe, aceita um beijinho enorme.
Ah, já me esquecia, minha mãe, estás contente com os teus bisnetos, são lindos não são?
Só podiam ser, pois o pai deles, o teu neto é um belo rapaz e a tua neta é linda, ela ainda não te deu bisnetos, mas se Deus quiser isso vai acontecer em breve... (não digas nada, é segredo)
Afinal mãe, segui bem os teus conselhos, cumpri a minha missão neste mundo.
Tudo graças a ti, que foste a melhor mãe que eu conheci, porque és MINHA!
José Carlos Moutinho.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ausência sentida




As tuas palavras emudecem
na fronteira da estrada que te ausenta de mim!
O perfume doce do teu corpo dissipa-se nas nuvens
que respiram o pó dessa estrada!
Os teus olhos têm o brilho das tardes cansadas
e os teus abraços são pétalas ressequidas,
de rosas esmorecidas,
pelos ventos do deserto,
Onde os oásis se fizeram rochedos!
O mar onde me espelho desassossega-se,
na intranquilidade do meu olhar,
que se alonga na saudade de ti!
Tento sorrir, mas a minha boca contrai-se
num esgar de dor,
que me estremece!
Pensamentos que me tomam,
em bandos de pássaros tresmalhados
chegam-me em soluços de angústia,
por tantos sois de luz fria e apagada
e luas escurecidas pelas nuvens do desalento,
em vendavais de desencontros
e tempestades de areias de orgulho escondido.

José Carlos Moutinho

Recordar Angola




Quando ouço dizer poemas e cantares de Angola,
A minha alma entristece-se na saudade que a magoa,
No recordar dos sons que brotavam da terra,
Como mágicas sinfonias, nos batuques da vida
E nos gemidos que o coração sentia,
No dedilhar do som chorado do kissange!
Apertou-se-me o coração no querer rever,
Aqueles chãos vermelhos,
De um vermelho de sangue,
Das lutas travadas inglórias e injustas,
Por gente com ambições desmedidas,
Que aniquilaram povos,
Cuja culpa era estarem vivos!

E nestas recordações que me choram a alma,
Revivo as belezas de Angola,
Pelas picadas do meu encanto,
Extasiado pelos cheiros fortes
Dos frutos tropicais de garridas cores,
Que me saciavam a sede
E no deslumbramento
Das florestas virgens, da minha alegria,
Pela exuberante e fantástica fauna,
Que me encantava na sua liberdade
E das praias de águas quentes,
De areias onde nos apaixonávamos.

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 27 de abril de 2012

A tua pele de fogo




Chegaste na tarde quente de verão,
Agasalhada pela tua pele de fogo,
Que se faz desejar,
No meu corpo frio da espera de ti!
Deslizas por mim, como lava que escorre
Do vulcão da tua louca vontade de entrega,
Que se funde na minha ânsia em ti!
Moldas-te escaldante, como serpente
Ao meu corpo...
Enroscas-te na tremura dos meus braços,
Colas-te aos meus lábios,
Que fervem ao toque dos teus,
Num frenesim!
Soltam-se delirantes os meus pensamentos,
Levados pela emoção do teu vibrar palpitante
E entregamo-nos ao delírio,
De uma paixão incontrolável,
Em volúpia de suor, dor e prazer,
Que se perde na razão do consciente
E se entrega à razão da carne!

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Estaria eu louco?




Quando hoje passeava pelo parque,
Descontraído olhava as árvores,
Escutava o chilrear das aves,
Sentia a brisa acariciar-me o rosto,
Sussurrando-me cintilações estelares!

Continuando no meu caminho sem rumo,
Pensei sonhar, mas eu caminhava...
Não...não sonhava!
Pelos meus ouvidos deslizavam sinfonias,
De melodias de sorrisos humanos!

Parei para confirmar e despertar desse sonho,
Que na verdade não o era!
As pessoas riam, falavam, sorriam!
As crianças brincavam, corriam, gargalhavam!
O mundo que antes estava cinzento,
De repente clareou em total deslumbre;
O sol aparecera em forma de sorrisos,
Que as plantas absorviam,
Transformando-os em belas cores,
Criando o mais doce néctar,
Que as aves beijavam
E dos seus bicos adocicados,
Saiam belas árias!

Era total a mutação na terra,
Antes sofrida e chorada na dor,
E agora pujante, alegre e cantada!

Seria milagre, sonho, ilusão,
Era um esvoaçar de utopias e quimeras,
Luares de um azul por inventar,
Arco-íris, que nos abraçavam com as suas cores,
Era um mundo desconhecido,
Em absoluto devaneio de belas metáforas,
Ou estaria eu louco?

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril




Abril despertado nas noites de cativeiro,
Iluminado pela aurora da liberdade,
Em jardins de vermelhos cravos,
Nas armas caladas...
Que beijavam o chão da esperança,
Na canção feita senha,
Ecoada pela rádio da salvação,
Grândola a tal vila morena cantada,
Da Catarina Eufémia que pedia pão
E recebeu a morte,
Dos trigais da exploração,
Em campos de vastidão!

Liberdade, liberdade...

Gritava-se em exultação,
Como em sonhos nunca antes sonhados,
Gritava-se pela liberdade,
Nas ruas escurecidas,
Por uma ditadura que agonizava,
Sob os pés de homens fardados,
Inconformados com a miséria
E direitos atrofiados,
Deste Portugal amorfo.

José Carlos Moutinho
25/4/12

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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