terça-feira, 23 de setembro de 2014

Cidade de muros





Cambaleia pela cidade,
floresta de muros
doem-lhe os pés ao pisarem as calçadas frias,
o vento agride-lhe o rosto sem cor,

Caminha em desvario
pelas estreitas e escuras ruas sem vida,
o sol escondeu-se nas mágoas
as tardes esmoreceram
nas cinzentas nuvens do amanhã,

Deambula perdido em si,
esventrando as noites caladas pelas dores,

Alvorece sentado no muro,
muro nascido na floresta desumana
a que ele se confinou.

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Deserto de um sonho





Atravesso este deserto árido de incertezas,
Perco-me nas miragens dos meus anseios
Em delírio numa busca plena de certezas,
Que me libertem destes estranhos enleios.

No horizonte que julgo ver, ou talvez ilusão
porque o sol inclemente me faz adivinhar,
caminho sem descanso ao ritmo do coração,
ávido de que algum oásis me faça parar.

Sopra-me o vento em rajadas de areia,
que áridas, me fustigam os pensamentos,
cambaleio perdido no nada que me rodeia,
sufoco no ar abrasador dos meus tormentos.

Milagre penso eu, milagre que desejo obter,
na visão que acaricia meus olhos docemente,
longe, oscilam as folhas verdes das palmeiras,
como verde é minha esperança, assaz  premente.

O tão ansiado oásis, aparece na minha frente,
refrescante pelas sombras das árvores caridosas,
no meio deste paraíso, o lago, meu confidente
faz-me esquecer as passadas horas impiedosas.

Acordo com o fragor das persianas da janela,
Perco-me na inquietude do sonho que tivera,
Coloco o vibrar do meu coração de sentinela
E acalmo na serenidade da florida Primavera.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Inventor de ilusões





Finjo-me poeta, inventor de ilusões,
mágico de utopias
"fazedor" de alegrias
e deixo-me levar por vales verdes
da minha imaginação
em tropel, como cavalo alado!

Circundeio  sonhos,
danço de mãos dadas com fantasias,
navego anseios,
flutuo sobre os sorrisos da vida
e voo feliz sobre trigais de paixões!

Abraço os raios translúcidos do sol,
que me invade a alma com seu ardor,
respiro maresias,
cavalgo ondas irrequietas de saudades,
escuto murmúrios
que se espraiam em espuma,
sussurra-me o luar,
doce melodia, de harpa estelar!

Sinto tudo o que penso, sem desalentos
em louca orgia de sentimentos
num turbilhão de emoções
porque me finjo poeta de ilusões.

José Carlos Moutinho

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Vento da serra





Porque me assobias ó vento da serra
Se não me trazes boas novas d’alem,
Se dissesses que não há mais guerra,
Seria o teu soprar, recebido por bem.

Uiva vento, uiva e afasta todos os males,
Para que este mundo se torne melhor,
Que no teu eterno voar jamais te cales,
Pois a alegria com paz tem outra cor,
Por favor vento, peço-te que me fales
De beleza e encanto e também de amor.

Sussurra-me no teu ventar refrescante,
Já que não consegues acabar os conflitos,
Fala-me da tristeza daquela tarde distante
Quando ela partiu calada por falsos ditos,
Fala-me do sentir e do seu sorriso inebriante,
Faz da tua força, brisa que acaricie sem atritos.

Porque não me respondes agora ó vento
Que da serra desces arrogante e assustador,
És turbilhão que torna tudo em tormento
Sem te compadeceres sequer, com danos e dor
E inssistes em soprar alheio  ao sofrimento
De quem neste mundo só pensa em ter amor.

Vem calmo e dócil ó vento, que de longe vens,
Chega de agressões e amuos, acalma-te agora,
Fala-me ao ouvido se na verdade, noticias tens
Daquela linda mulher que um dia se foi embora.

José Carlos Moutinho

domingo, 14 de setembro de 2014

Livro do tempo





Nas entrelinhas escritas pelas folhas secas
que caiam no chão do meu desejo,
senti o respirar ofegante
do outono cansado pela espera,
descolava-se a tinta das palavras
castigadas pelo estio ausente,
encharcadas pelas águas
de um tempo transtornado;
Fecho os olhos,
recuso continuar a ler o verão alterado,
e fecho o livro do tempo
que o tempo escreveu errado.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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