sábado, 31 de março de 2012

Ausência de futuro



Alvoradas que se fundem nas tardes que se fazem noites
No rodopio do tempo que voa nas asas dos minutos!

Suspiros feitos ais de amarguras
Dos instantes sofridos no calor dos dias!

Lutas insanas pela conquista do desconhecido
E no frio das noites que se calam nas dores,
Dos estômagos esmagados,
Pela carência de luas aconchegadoras,
Que mitiguem a secura das bocas fechadas,
Pela revolta da injustiça que paira,
Nas nuvens que não alimentam as cidades!

E em cada pôr-do-sol, vai-se a esperança,
Da mudança das cores que irradiavam das árvores
E perfumavam os olfactos dos sentidos adormecidos,
Pela tristeza do constante escurecer em choros de crianças!

Lágrimas contidas nos rostos ressequidos
Lamentos surdos nos silêncios que doem!

Soluços emudecidos pelas águas
Que correm nas suas almas secas,
Gritos sufocados nas gargantas sem voz!

Olhares que se perdem em olhos mortiços,
Pelas visões de futuro incerto,
Ou preocupante certeza da ausência de futuro!

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 28 de março de 2012

Luar





Se a tristeza me busca na solidão do meu pensamento,
É no abrigo do manto azulado do Luar que me conforto
E bebo da serenidade vinda do firmamento,
Que me aquieta o desassossego do meu sentir!
Sorrio-me na visão do imenso globo,
Que se me depara perante os meus olhos humedecidos,
Pela saudade que me invadia a alma
E que agora, suavemente vai-me libertando,
Das amarras da melancolia,
Trazendo-me a acalmia das minhas emoções,
Antes desatinadas!
Deixo-me envolver por este azul celeste
E levo-me em sonho por mim inventado,
Com as estrelas a iluminarem-me,
Pelo céu, estrada do meu prazer,
Cavalgando um cavalo alado
Entrego-me no abraço que o Luar me oferece.

José Carlos Moutinho

terça-feira, 27 de março de 2012

O teatro



As pancadas de Molière ressoam vibrantes,
Acendem-se as luzes,
Levanta-se o pano,
Escondem-se as mágoas,
Batem-se palmas,
Esquecem-se as dores,
Os artistas chegam à ribalta,
Em alguns corações está a tristeza,
Mas nos rostos os sorrisos,
Porque o teatro não pode parar,
O espetáculo tem de continuar,
Os dramas das suas vidas
Ficam em outro teatro,
Onde talvez alguém chore!

Começa a apresentação
Do drama de algum escritor,
Que certamente ele mesmo sofredor,
Enquanto escrevia a peça,
Quiçá o seu próprio drama!

Desenrolam-se as cenas,
Anima-se o público
Que vibra a cada momento empolgante,
De melhor representação!
E o espetáculo atinge o apogeu,
É o teatro, no seu espaço, que encanta,
Que mostra dramas e comédias!

A música e as luzes dos projetores,
Fazem esquecer que lá fora,
Existe outro teatro, o da vida,
Com dramas e comédias,
Que jamais alguém escreveu.

José Carlos Moutinho


segunda-feira, 26 de março de 2012

Mar, meu companheiro




Quando se faz vazio, o meu pensamento
E a minha vontade se perde na solidão do silêncio,
É junto de ti, mar, que encontro a serenidade!

Vagueia o meu olhar, sobre o teu dorso
E fascinado pelo reflexo do sol nas tuas águas
Sorrio-me no teu ondular!

Leva os meus anseios, nas tuas marés descendentes
E traz-me a paz e a felicidade,
Abraçada nas tuas ondas,
Que se vêm espreguiçar na areia dourada,
Em caricias refrescantes de alva espuma
E que me acalmam pelos cheiros da maresia!

E és tu mar, imensidão de segredos por desvendar,
Que tanto tens a doçura do teu murmurar
E nos delicias nos prazeres em ti,
Como tens a agressividade da tua revolta,
Transformas-te em monstro assustador,
Que tudo destróis e arrastas na tua vontade!

Mas, para mim, mar...
Que te confundo no horizonte com o céu,
Quero-te sereno e companheiro,
Nos meus momentos de solidão.

José Carlos Moutinho

domingo, 25 de março de 2012

Pela noite






Vou por aí, sem rumo,
Em busca de não sei o quê;
Percorro as ruas quase desertas,
Pelo frio que ainda se faz sentir,
Neste iniciar de Março,
E que esfria a cidade,
Amarelecida pelas luzes dos velhos candeeiros!

Visto-me do breu da noite,
Tropeço em mulheres quase despidas,
Que se oferecem de peitos expostos,
Pelas vielas da devassidão!
Homens que chegam, em segundos
São levados através das portas,
Das pensões do prazer,
Onde se escondem misérias humanas,
Infelicidades nascidas da pobreza,
Em sorrisos forçados de mágoas e dor!

É na calada da noite,
Que os limites se ampliam,
Na certeza da escuridão que tudo oculta!

Homens que se travestem, em total provocação,
De imoralidade doentia ou opção forçada!
Bêbados que barafustam e caem nas poças
Da sua decadência moral e fisiológica,
Como farrapos humanos!

A noite vai-se cansando
E cede a vez à madrugada,
Que chega lenta e sonolenta,
No despertar pujante do trabalho
Na cidade, que não adormecera,
E que assistira a outra cena, quase surreal,
Sem sentido, perdida em promiscuidade,
De uma vida de degradação.

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 23 de março de 2012

Um dia de felicidade




Escuto o gemer da minha alma,
Que ecoa em mim, como chuva fria,
Persistente e acutilante
E me encharca os pensamentos,
Perturbando-me os sentidos,
Causando-me uma inquietude,
De ansiedade estranha
E me faz viajar no tempo das lembranças,
Que se fizeram desfalecidas,
Nos invernos da solidão,
Em que os sois da esperança,
Se esmoreciam na rigidez,
Dos conflitos de ideias desassossegadas!

Percorre-me um frio cortante,
Pelas entranhas do meu ser,
Que me desperta para as primaveras
De um novo sentir a vida,
Lembrando-me...
Que águas paradas não movem moinhos,
O hoje não é o amanhã e este já será passado!

A tristeza dos momentos passados,
Podem ser alegrias dos instantes futuros!

Nascemos para sermos felizes,
Desperdiçar um dia com tristeza
É viver menos um dia de felicidade.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia da Poesia




No esplendor da primavera,
Cantada pela melodia das palavras da poesia,
Formando uma fantástica simbiose
De cor e palavras em mágica sinfonia,
Se faz presente com mais vigor,
Este dia especial de encantamento,
Quando no simples pronunciar “poesia”,
Esta já está implícita na sua palavra,
Poesia...
Do desabrochar das flores que nos perfumam a alma,
Das brisas que nos levam em voos de quimeras,
Ou navegando sobre ondas de utópicas ilusões,
Poesia...
Que descreve em palavras as emoções
Brotadas do nosso âmago
E faz do nosso coração o verbo,
Que abraça o papel,
Beijado pelas palavras feitas versos!

Neste momento,
Em que 21 de Março se faz dia da poesia,
Exalto-o profundamente,
No deslumbramento da Primavera,
Nascido um dia antes,
Criando a união das duas flores,
Neste verso que será eterno em beleza,
“Primavera”, da natureza e a “poesia” da alma.

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 19 de março de 2012

Pai




Pai, não me lembro de ti
Porque te foste tão cedo...
Podias ter esperado mais primaveras,
Para veres crescer o cravo que plantaste!

Teria eu talvez uns tenros dois anos
E lembro-me, Pai...
Uma pequena imagem de ti,
Ficou perpetuada na minha memória!

É muito pouco do muito,
Que poderíamos ter convivido,
Mas Deus quis-te mais cedo...

Sei que deves acompanhar-me
Iluminado pelo cintilar das estrelas...
Mas eu não te vejo, Pai!

E assim floresci na vida,
Com o amor dobrado
Da minha mãe,
Que foi meu pai também!

Senti falta do teu abraço,
Que seria certamente muito protetor,
Do teu conhecimento da vida...
Assim sem ti,
Tive de aprender a caminhar sozinho!

Mas olha Pai,
Em breve nos encontraremos
E então quero todos os abraços,
Que se perderam no tempo,
Que não te tive!

Quero olhar-te e dizer-te:
Pai, não te conheci
Vi-te somente no esbatido de uma foto
Mas eu te amo!

Sabes Pai,
Até senti falta de alguma palmada,
Que me desses por castigo...
Mas tu te foste tão prematuramente!

Tenho saudades do que perdi de ti,
Ouviste-me Pai?

José Carlos Moutinho
19/3/12

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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