sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Navego em mim





São sombras, são murmúrios
que me invadem o sentir
num silêncio doce de afago,
abraçam-me na minha solidão
e aconchegam-se na minha alma!

Calam fundo as minhas palavras,
aquelas palavras esmorecidas
pelas tardes vazias da minha vida,
que perderam a voz da serenidade
e se tumultuam em inquietudes,
que só os luares dos meus anseios
iludem com a utopia das estrelas!

Alvoradas das minhas Primaveras
nascem pálidas, cansadas, sem sol,
turvadass pela luz diáfana das quimeras,
perdem-se nas maresias sem farol!

Navego em mim pelas veias do meu rio,
fluxos vermelhos da minha essência,
por vezes cálido, outros com muito frio,
sou tenaz timoneiro da minha existência,
desistir é fraqueza, continuar é desafio,
encontrarei o remanso da minha resiliência

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Tu me disseste fadista (Fado)


Ai se eu fosse poeta
faria a mais bela canção,
com flor em cada letra
do jardim do meu coração
p’ra minha amada secreta.

Fadista, eu não sei escrever,
Outro, deves encontrar,
tenho pena podes crer
mesmo assim eu vou tentar
pode até acontecer.

Um dia eu me aventurei
nem me saí muito mal,
era um fado em que falei
de amor, coisa natural
e com coragem cantei.

Bem sei que foi uma vez
tu me disseste, fadista
com alguma rispidez,
que eu não era letrista
parar, era o melhor, talvez.

Claro que fiquei triste,
procurei outro do fado
que visse o que não viste,
me deixasse animado
e me dissesse, insiste.

José Carlos Moutinho
*Reserv.direitos autorais*

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Horizonte da Finitude





Quando meu último dia chegar ao horizonte da finitude,
Olhem para meu corpo adormecido na doce eternidade,
Não critiquem meus defeitos, enalteçam alguma virtude,
Nem chorem piedosos, se não for um sentir com verdade.

Na serena e derradeira visão do meu corpo sucumbido,
Cantem baixinho e pensem, ali poderia estar um de vós,
Não desesperem é a canção da vida, em fado cumprido,
Eu ali prostrado, silencioso sem vos ver, inerte sem voz.

Se me olharem olhos nos olhos, com simpatia e amizade,
Verão o brilho dos meus olhos, definitivamente apagado,
Sobre aquele corpo defunto, há uma outra luminosidade,
Invisível, cintilante, farol de paz com que fui contemplado.

Peço a todos os presentes desta festa de minha despedida,
Que eu não seja ausência muito longa das vossas memórias,
Podem rir, se quiserem por eu me ter pensado poeta na vida,
Não me acusarão de hipocrita e de criar esperanças ilusórias.

Entre muitos choros, alguns sorrisos e tristezas, deste evento,
Amanhã, será novo dia para vós, menos para mim, sou nada,
Parti ontem para um lugar maravilhoso, longe, no firmamento,
Talvez volte à terra, se essa missão à minha alma for destinada.

José Carlos Moutinho

Sentimento (Fado)


O frio mordia
naquela escura noite,
o meu corpo sentia
dor como um açoite
na minh’alma que gemia.

Era de saudade,
mais que do frio,
ou talvez ansiedade,
e eu estava tão sombrio
naquela escuridade.

Adormecida a noite,
os raios da alvorada
despontavam com afoite,
chegava a madrugada
depois de triste noite.

Ciclo de vida e do tempo,
após o breu, vem a luz,
a cantar ou em lamento
tudo em nós se traduz,
em modos de sentimento.

José Carlos Moutinho
*Reserv.direitos autorais*

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Ai, mundo



Porque te enfureces mundo
se o sol brilha a todo o instante,
porque gritas blasfémias
se a Lua a cada noite nos acalma
com a serenidade do seu manto?

Bem sei que por vezes tens razão,
está tudo transformado,
o que antes, era honra, hoje é vulgaridade,
a palavra que era como um certificado
hoje não passa de coisa sem valor,
a hipocrisia de antigamente era mais discreta
mas actualmente é acutliante e descarada!

Mesmo assim, mundo,
ainda temos a esperança ou ilusão
que volte tudo ao que era,
que a amizade seja tão sincera como dantes
e não tão falsa, como agora!

Anima-te, meu mundo
eu estou contigo,
pois não conheço outro mundo,
por favor, modifica-te
e deixa-me viver calmamente,
ainda que essa acalmia seja utópica!
Engana-me e diz-me que estou enganado
que penso erradamente,
e está tudo exactamente como sempre esteve!

Meu mundo, ou mundo do meu passado
não me grites,
fala comigo docemente,
convence-me de que a realidade que eu agora vivo,
é um sonho mau, um terrivel pesadelo
e tudo, mas tudo, está igual ao do outro tempo
e despertarei para a verdade
e que em boa verdade, esta verdade, é uma mentira!

Diz-me mundo louco, ou serei eu que estou louco!?

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Se eu fosse pintor (Fado)


Se eu fosse pintor
pintaria uma tela
com as cores do amor,
do meu amor por ela
com a paixão em cada cor.

Mas eu não sou pintor,
creio que ela nem me quer
porque ela é uma linda flor,
eu nem jardineiro sequer,
sou somente um sonhador.

Continuarei a sonhar
porque o sonho é de cada um,
posso ser o que eu desejar,
é um direito a todos comum
deixem-me então sonhar.

Os sonhos serão utopia
que só o sonhador sabe,
podem ser de alegria
ou de algum amor que acabe
com saudade ou nostalgia.

José Carlos Moutinho
"Direitos autorais registados"

domingo, 26 de outubro de 2014

Ai...esta nostalgia de Angola





Ai…esta nostalgia sempre presente em mim
do feitiço que se entranhou na minha essência,
da minha Luanda de perpétua saudade,
das memórias belas que jamais têm fim,
das cores que dos meus olhos, são ausência.

Dizia-se que quem bebesse água do Bengo
ficaria eternamente preso aquela cidade,
por isso em mim tenho este doce dengo
que será meu companheiro pela eternidade.

Ai… Luanda, minha querida Luanda
foste a luz,  a cor, o cheiro a minha vida,
hoje estás diferente, até te chamam banda,
de qualquer modo,serás sempre muito querida,

E não sejas vaidosa e egoista, minha cidade,
porque a minha saudade e grande nostalgia
moram no meu peito em melancólica acuidade
por Angola, das vastidões verdes, minha alegria.

Ai….Angola que me prendeste profundamente,
jamais sairás do meu ser, ainda que eu quisesse,
sinto-me por ti enfeitiçado em doce sofrimento
hoje és livre, independente,  talvez eu regresse.

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Quando eu parti (Fado)


Era ainda um menino
quando deixei minha mãe,
segui meu destino
parti pra terras de além,
com a mente em desatino.

A Africa cheguei um dia
numa tarde de verão,
muita tristeza eu sentia
e anseio no coração,
minha aldeia eu já não via.

Porém linda era a cidade
que aos meus olhos se colou,
e com esta verdade
em mim  tudo mudou
floriu a felicidade.

Luanda dos meus amores,
Sol da minha juventude
jardim de muitas flores
teu povo tem virtude,
és tela de belas cores.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Mariposas loucas





Vendavais de nadas em vozes roucas
sopram luzes apagadas pelos breus,
são como mariposas que voam loucas
e embora tentem, jamais chegam os céus.

Voam, voam, sem procurarem destinos.
são seres inúteis, vazios e deslumbrados.
serve qualquer vitima para seus desatinos,
abocanham como abutres, os mais atinados.

Mas o sol e a lua desprezam tudo isso,
continuam a iluminar este mundo desvairado,
fazem de tudo para que ninguém seja omisso
a fazer da amizade e da honra, um tratado.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Vozes caladas





Os sorrisos caiam no chão do desassossego
E eram calcados pelas sombras do medo,
Caminhavam vozes pelo silêncio do vazio,
Acotovelando-se nas brisas do céu sombrio.

Pulavam em pés descalços do infortúnio,
Acutilando-se nas agudas pedras da raiva,
Cobertas pelas núvens negras de mau augúrio
E as chuvas gélidas mordiam como saraiva.

Buzinas e sons alucinantes ensurdecem
ouvidos moucos, comidos pela fome e frio,
corpos torturados pelas dores que padecem,
chão sem alvoradas,de cartão negro, doentio.

Gritavam com suas vozes caladas pela noite,
na escuridão da tristeza e injustiça da vida,
o eco trazia-lhes o som implacável do açoite,
que a ferida da alma, tão profunda, não sentia.

Os crepúsculos eram como tardes apagadas,
que lhes penetrava a essência humana,
vagabundos da miséria de sortes recusadas
a quem a vida lhes tem sido tão tirana.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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