quinta-feira, 30 de abril de 2020

MINHA AMADA a POESIA

Esperem um pouco mais

Esperem que os caminhos se iluminem 
e que as rosas despontem, 

olhai o céu que está mais azul 
o ar está mais respirável, 

e porque não há males 
que sempre durem, 
o “bem” logo surgirá, 
repara serenamente 
no verde que tomou o seu posto 
nesta Primavera desalentada,

sente na tua emoção confinada 
a garantia da continuidade 
como uma dádiva da vida,

os tempos estão em mutação, 
aliás, pensa, que sempre estiveram, 
num círculo que nos controla 
porque outros, quiçá, 
controlam esse círculo,

tudo é passageiro 
nesta viagem de encantos e desencantos, 
somos simples viajantes 
sem hipóteses de escolha, 
nesta conturbada viagem 
em movimento.

José Carlos Moutinho 
30/4/2020

terça-feira, 28 de abril de 2020

Gosto

Gosto das palavras, sinceramente,

por vezes, desentendo-me com elas
porque me acham incompetente
para resolver as nossas querelas

Mesmo assim sou apaixonado
gosto de inventar com elas, versos,
é quando ficam, então do meu lado
mesmo nos poemas dispersos

José Carlos Moutinho
28/4/2020

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Será...

Agarro as alegrias do passado
junto-as num abraço de poesia
canto-as neste meu fado calado
para alguém as ouvir algum dia

Será saudade, talvez nostalgia
este sentir que nunca me larga
do meu viver feliz em harmonia
e repeti-lo num futuro que tarda

José Carlos Moutinho
23/4/2020

sábado, 18 de abril de 2020

Voz do vento



Cale-se o tempo,
quero ouvir a voz do vento
a murmurar-me suas aventuras
e devaneios, do seu eterno voar,

façam silêncio, por favor,
o vento sussurra-me delicadamente
com a urgência da sua passagem,
e nada me dirá
se outras vozes, ouvir
além da sua…

neste vosso e nosso calar
está a virtude de saber escutar,
ainda que, fugazmente, 
pela vertigem do vento,

silêncio deseja-se, 
cale-se o tempo
ouça-se o vento!

José Carlos Moutinho
18/4/2020



sexta-feira, 17 de abril de 2020

MENTE VIAJANTE

Queria e quero

Queria ser o ontem
no chilreio dos pássaros,
ser água cristalina do rio ausente,
ser o sol do verão passado,
não quero esta Primavera descolorida
de alma acinzentada,
quero 2019, com todas as mágoas
e esquecer rapidamente 2020,
anseio delirantemente um inocente 2021

José Carlos Moutinho
17/4/2020

A FORÇA DE AMAR

Seguro a lembrança

Tento segurar a lembrança de outro tempo
que se esvai, esguia, pelo meu pensamento,
sinto as rugas desvalidas de certa saudade
daquele outro tempo, pintado de bulício...

olho o presente e vejo triste, a melancolia,
por vezes, solta-se uma nuvem de nostalgia
que, de imediato, se esconde no silêncio da rua,

e este tempo pastoso, inerte, cala a razão
da liberdade, anula os anseios de abraços
e torna numa miragem os oásis de beijos
onde as areias quentes do desconforto
silenciam os sentimentos das ausências

talvez, tão de repente como de repente surgiu
este tempo volte, caloroso em afectos, 
venha colorido de humildade e solidariedade,
para que tudo o que está a acontecer
tenha alguma razão para este tormento
quase tão surreal, como apocalíptico

José Carlos Moutinho
17/4/2020

quinta-feira, 16 de abril de 2020

cinzento

...
deixa que o céu se tinja
de cinzento como o tempo
ainda que eu pense e finja
que não me assusta o vento

talvez azul amanhã esteja
que do céu nos possa sorrir
sentir o prazer de quem beija
nesta louca vontade de sair

José Carlos Moutinho
16/4/2020

terça-feira, 14 de abril de 2020

Armado em sabichão

Sobre este tempo nosso
farei eu um simples poema
com a rima que eu posso
tentar rimar com tema

Chama-se redondilha
a uma certa métrica
que nem leva cedilha
nem sequer é eléctrica
silabas é partilha
esta é dialéctica

Porque tem sete é maior
a minha redondilha 
cinco seria menor
onde inclui a sextilha

José Carlos Moutinho
14/4/2020

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Virus miserável

Este vírus veio em má altura
alterou os planos de lançamento
de um novo romance de aventura
até quando irá este adiamento...

poderia até, vir mais fraquinho
para que passasse rapidamente
assim como simples resfriadinho
como disse um certo demente 

José Carlos Moutinho
10/4/2020

Sejamos pacientes

Há em mim um sorriso
de felicidade, estou aqui,
ainda não perdi meu juízo
por isso ainda não fui ali,
vejo aqui tantos lamentos
dos que sentem clausura,
pensem nos sofrimentos
dos que vivem em amargura
pela perda dos seus entes,
que nem despedida fizeram,
sejamos,pois, mais pacientes
no recato que nos impuseram

José Carlos Moutinho
10/4/2020

Sol da normalidade


Sol da normalidade

As ruas estão cheias de ausências,
só o silêncio domina os seus espaços,
o céu lacrimeja, triste e acinzentado,

apesar de Abril ser de águas mil
somente lágrimas caem,
imbuídas, talvez,
de desatinadas emoções,

o asfalto e a calçada da vida
estão, agora, encharcadas
pelo choro do tempo...

quiçá, amanhã ou depois
resplandeça o sol da normalidade,
resta-nos, serenamente,
no recato do lar, 
aguardar que nossos anseios 
se vistam de realidade

José Carlos Moutinho
10/4/2020

terça-feira, 7 de abril de 2020

Ai este vento brincalhão

Perguntei ao vento que passa
novas desta calamidade
e o vento num ar de graça
disse ser pra bem da sanidade

voltei a perguntar ao vento
se me achava por acaso, insano
e o vento quase num lamento
respondeu que era puro engano

José Carlos Moutinho
7/4/2020

Olhava o mar e...imaginava

Vamos vencer

Da tristeza nasce o verso
que se veste de imensa dor,
porque o poema é adverso
embora haja muito amor,

a calamidade não é metáfora
engalanada de fantasia,
mas sim a constatação da realidade
que em estrofe de desgraça
nos chegou de repente,

juntos, imbuídos de coragem,
continuemos a escrever este drama
sabendo que o vamos vencer
ficando, provisoriamente
no recato dos nossos lares

José Carlos Moutinho
7/4/2020

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Sou tão pequeno

Olho-me e vejo-me tão pequeno 
e quando contemplo a rua vazia 
tento manter este meu ar sereno 
enquanto invento alguma poesia 

O que somos nós, seres falantes 
se nossa fragilidade é marcante, 
houvesse, pois, menos pedantes 
este mundo seria mais fascinante 

José Carlos Moutinho 
3/4/2020

Só porque gostaria...

Gostaria mesmo de acreditar
juro que adoraria ver o acontecer
que os poderosos deixassem de errar
para que a humanidade parasse de morrer

Juro de verdade que gostaria 
de ver os arrogantes donos do mundo
vestidos democraticamente de filantropia
para que acabasse este sofrimento profundo

José Carlos Moutinho
3/4/2020

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Amo a vida (Áudio)

Amo a vida

Olho o vazio que me cerca,
interrogo-me se vivo noutro planeta,
o silêncio confunde-me os pensamentos,
divago sobre o bem e o mal,
ignorando a razão das calamidades
e volto a interrogar-me do seu valor
e do seu interesse em provocar tanta morte!

Sinto-me frágil e desalentado 
ao viver momentos tão surreais
como se filme de Spielberg se tratasse,
as ruas desertas oprimem-me as vontades,
há um deserto em mim
de areia movediça, 
onde, porém, imbuído de esperança
vislumbro o oásis próximo!

Quero fugir deste terrível sonho 
sonhado de olhos bem abertos,
quero voltar a abraçar gente,
aspirar o ar, que agora, pela fatalidade 
se tornou mais puro,
anseio ver o mar,
deixar-me navegar 
pelo infinito do meu tempo
no seu dorso cintilante de sol!

Desejo poder viver em plenitude
o que antes escusei viver,
sem estas amarras virais
que me roubam a liberdade!

Quero voltar a ser, simplesmente,
um humano, com todo o meu direito,
agora prejudicado 
por razões que desconheço,
ou, quiçá, pela ganância 
de outros humanos!

Quero somente viver
e gritar ao mundo que amo a vida!

José Carlos Moutinho
2/4/2020

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Nostalgia

Ontem ao assistir a um programa passado na RTP África, fui invadido por uma onda nostálgica.
Referia-se a um raid efectuado por portugueses/angolanos, feitos em carros, Ford, creio, cedidos ou pelo menos patrocinados pela Robert Hudson.
Partiram não sei de onde até ao Luau, depois vieram por Camacupa até ao Bié...e foi, precisamente nessa estrada vermelha de terra batida, que eu me vi, há uma porrada de anos perdidos no tempo, exactamente num local específico, onde a estrada caprichosamente descia, com ligeira inclinação à esquerda, logo imediatamente na base, constituída por um vértice, subia, inclinando-se à direita.
Vi-me ali, no meu VW carocha a descer aquela estrada de acelerador a fundo e no fim dessa descida, engrenar a 3ª velocidade e acelerar como se de um Porsche se tratasse, mas que eu exigia ao meu carrinho, tentando dar-lhe a genica do possante Porsche.
E não é que o meu carocha reagia bem aos meus anseios de grandeza automobilística...
Teria eu os meus atrevidos e ousados 24 anos, repletos de coragem, sonhadores e aventureiros.
Senti-me bem naquela visão oferecida pela reportagem.
Senti o perfume de Angola em mim. A saudade é como a vida, só nos larga...um dia!

1/4/2020

1 de Abril, dia da verdade

É mentira o que se diz
ou será a razão a desatinar,
hoje é um dia que ninguém quis
porque a verdade é de assustar

1 de Abril será dia de reflexão
a juntar aos dias passados,
vivemos momentos de emoção
esperando por dias alegrados

Hoje a mentira é grande verdade
de um tempo para esquecer,
se sentirmos esta realidade
em isolamento, esperemos vencer

José Carlos Moutinho
1/4/2020

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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