Escuta…tu aí
Sim…tu,
que transformas os teus
sonhos
em palavras escritas
nas margens
dos teus anseios,
porque receias
plantá-las
nos jardins, que achas
especiais,
e aos quais, pensas,
não ter direito!
Embora te atrevas, corajosamente,
a atravessar os rios turbulentos,
encontras, quase
sempre,
do outro lado da ponte,
dificuldades, que te
forçam a retroceder,
ou então, dada a tua
resiliência,
aguardas pacientemente
que te abram o caminho,
mas logo, se deparam
mais e mais obstáculos,
numa incessante
provocação à tua paciência!
E tu, teimoso, insistes
(Nem te passa pela
cabeça desistir)
em construir castelos
com as palavras que
vais acarinhando,
uma a uma, saídas do
imaginário da tua mente,
e formas emotivos
poemas,
interessantes contos, ou
apaixonantes romances…
Enfim, tudo o que a tua
essência te dita,
e que tu, ciosamente,
vais elaborando com
carinho
e depositas,
esperançosamente,
nos livros,
alicerceados pela tua emoção!
Então, depois de editados
alguns livros,
humildemente, vais
pensando
que irás conseguir
encontrar um lugarzinho ao sol
no tal jardim que
pensavas especial,
ou que conseguirás
atravessar a ponte
com mais facilidade,
mas…
reparas que, tudo
continua na mesma,
e que o teu esforço de
continuidade
não mereceu o mínimo
interesse
por parte de quem faz
escolhas,
compreenderás, então, desoladamente,
que nessas escolhas, só
por milagre,
serás engajado,
pela simples razão de
não pertenceres
ao clube dos notáveis
ou dos sortudos
deste mar revolto da
literatura!
Que te resta a ti,
sonhador,
continuar a implorar a
venda
do que criaste com
paixão
e receberes
incompreensão
em respostas desagradáveis,
algumas vezes até, seres
ignorado
numa desfaçatez confrangedora?
Há também a opção da
desistência,
definitiva,
ou então, a de passares
o resto do teu precioso
tempo
a escrever e a fazer
das tuas obras,
areias perdidas num
deserto inóspito,
onde a possibilidade de
encontrares
o teu oásis é tão
remota,
como descobrires um
grão de areia
no fundo do mar,
das tuas desilusões.
José Carlos Moutinho
30/9/19