quinta-feira, 29 de setembro de 2011

As mãos




As mãos deslizam sobre o papel,
Inventando palavras de amor,
Das mãos, surge arte com o cinzel,
Delas, carícias soltam-se, com ardor.

Mãos que afagam delicadas flores,
São carinhosas ou agressivas,
Seguram nos abraços os amores,
São rugosas as mãos e sofridas.

Podem as mãos calar uma vida
Na inconsciente perda da razão
As mãos comovem-se na despedida,

Poemas saem das mãos, em palavras
Quando ditadas pelo coração...
As mãos, essas amigas caladas!

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A minha aldeia




Naquela aldeia pequenina, alegre
Que em meu coração permanece,
Numa bela manhã de Primavera,
Fecundou a raiz da árvore da minha eternidade!
Ouviu o meu primeiro lamento feito choro,
Sorriu com o meu primeiro sorriso de alegria,
Pela luz que me era oferecida;
Aquela pequena aldeia de tanto encanto,
Engalanada por choupais de frondosas copas,
Altiva na sua nobreza,
Ostentada no seu belíssimo Palácio oitocentista;

Ah...aldeia da minha meninice...
Sinto ternura e um vibrar emocionado
Na minha alma, sempre que estou em ti!

A minha escola, altaneira, majestosa,
Que me ensinou as primeiras letras;
Tanto brincamos, no largo do Cruzeiro
Recordas-te, aldeia companheira?
Um dia sofreste pela perda da tua igreja,
Chamada de S. Sebastião, o mártir,
Destruída pela força das chamas devoradoras,
Hoje transformada em decorativa torre do relógio!

Ai, minha querida aldeia...
Tão transformada estás agora, nem pareces tu.

O palacete onde tive a felicidade de vir ao mundo,
Pelo acaso que o Destino me traçou,
Esconde-se por detrás de muros sem alma,
Vindos de uma época de revoluções paridas,
Apelidadas de democráticas.
Mas tu, minha querida aldeia,
Fazes-me sentir por ti, o amor que morrerá comigo!

Lembras-te, aldeia minha
Daquele dia em que o Rio Tejo se revoltou comigo?
Foi um susto, bem sei, talvez um aviso,
Porque o Tejo quer-me a vê-lo
E a visitar-te,
Sobralinho,
Tu és o meu chão, a minha alma,
És eternamente a minha pequena aldeia.

José Carlos Moutinho

domingo, 25 de setembro de 2011

Outono




O calor vai desmaiando, nos braços do tempo,
Este, lenta e suavemente dá lugar ao frio;
As cores empalidecem, matizam-se;
O sol deslumbrante e altivo,
Cansa-se do esforço da estação passada;
Caem folhas secas, cansadas da agitação estival,
As imagens tornam-se esbatidas;
A mudança climática, permite a reflexão,
Surgem poemas de folhas caídas,
De árvores desnudadas,
De alamedas sombrias, porém belas.
A inspiração aparece, como que por mágica,
Aos poetas, sôfregos de poesia encantada!
Outono, tem nos seus campos toda a tela,
Que o pintor das palavras pode encontrar;
A brisa fria que nos açoita o rosto,
Estimula-nos a apreciar com fascínio,
O que a natureza a cada canto de jardim,
Nos oferece.
Os frutos de verão foram colhidos.
As vindimas acabaram,
As videiras ficam despidas do néctar divino
Ainda virão as castanhas quentes a escaldar
E o vinho para acalmar.
Outono chegou, fresco, tímido,
Mas pode arrepender-se e causar-nos surpresas
E retornar ao verão que substituiu.
Mas Outono é eternamente uma estação
De belas e bucólicas imagens.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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