domingo, 8 de janeiro de 2012

Memória nostálgica (De Luanda/Angola)



Vai-se o tempo esvaído nos minutos que correm,
Vem a saudade, cada vez mais intensa
Nos segundos que nos restam;
À memória, surge forte a lembrança
Do bulício alegre da “mutamba”
No vai vem dos “machimbombos”;

Recuo em mim, sinto-me nos “musseques”
Impregnados de fortes odores,
Olvidados nas farras de rebita,
Prolongadas pelas longas noites tropicais
E nas místicas batucadas de outras noites;
Quisera ouvir novamente,
O gemido pungente do “kissange”!

Ah...Como relembro a gritaria das “quitandeiras”
Enroladas em panos coloridos, feitos vestidos,
Apregoando os “cacussos”
As “lavadeiras”, de trouxas de roupa à cabeça
Gingando, descalças pelas ruas;

Saudoso degustar dos chocos grelhados do “Bitoque”
As “sandes” quentes de presunto do “Baleizão”;

“picadas” a perderem-se de vista,
Adormecidas na terra vermelha,
Onde as chuvas faziam exalar
Cheiro único de terra molhada;
Aos meus olhos aparece como uma real visão,
As imensas matas de luxuriante vegetação,
Os cafezais com o seu fruto vermelho;
Extensões eternas de verde do sisal,
Perdidas na lonjura;

Ai, saudoso fascínio olhar o mar
E admirar o sol a esconder-se
Em lânguida mansidão,
Espalhando as suas cores quentes deslumbrantes,
Multiplicadas nas ondas brilhantes do Atlântico;
As praias de belas areias da Ilha de Luanda
Que nos acolhiam
E nos mergulhavam nas suas belas e tépidas águas;

Esta tela multicolor de memórias
Ficou na saudade de um viver que se foi,
Acordado na lembrança de hoje.

José Carlos Moutinho

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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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