Apareces inesperada e silenciosa,
Sem ninguém sequer te convidar,
Deves ser mais airosa
E não vir assim atormentar.
Dor, tens um nome sonante,
Que rima com a palavra flor,
Mas se vens com esse ar provocante,
Ninguém te suporta, és um horror.
Se tropeçamos ou caímos,
Logo surges tu a irritar,
Esqueces o que sentimos,
Sofrimento difícil de suportar.
Dor, nome de bela fonética,
Apareces rápida ou lenta,
Estás no amor e na esquelética,
Mas sempre és uma tormenta.
Ah, dor, tu sabes que és odiada,
Não te preocupas, és indiferente,
Porque teimas em ser malvada,
Se poderias ser mais abstinente.
Dor, acutilante e insistente dor,
Também tens uma função,
Mostrar ao senhor doutor,
Que queres alertar para a infeção.
Mas o pior de ti, com essa calma
É quando provocas o amor,
Magoas e torturas a alma,
Sem te preocupares com a dor.
Enfim, no final de tudo isto,
Eu odeio-te, porque me magoas,
Nem que te implore por Cristo,
Ignoras por completo as pessoas.
José Carlos Moutinho
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