terça-feira, 26 de setembro de 2017

Eu vou contigo




Meu velho amigo, das terras sem fim
se um dia lá voltares,
eu vou contigo…

Quero voltar a escutar
o som melancólico do batuque,
deixar o meu olhar perder-se na lonjura
do tempo que me sorriu,
e sentir o perfume da terra tropical!

Quando fores, amigo
eu vou contigo…

Quero voltar a mergulhar e pescar
nas águas profundas da ponta da Ilha,
quero retornar ao Mussulo
e aspirar maresia com aroma de coco,
quero, amigo,
despertar com o sol matizado do alvorecer
e adormecer quando o entardecer se despedir
abraçado ao esplendor do pôr-do-sol!

Não te esqueças, amigo, se fores
eu vou contigo…

Quero voltar a pisar o chão
dos caminhos que me acolheram na juventude,
quero sentir todos os perfumes
daquela terra de feitiços,
quero pensar as histórias da minha vida
à sombra daquela velha mulembeira,
e sorrir às múcuas
suspensas dos braços despidos dos imbondeiros,
quero voltar a saborear
maboque, loengo, pitanga, mamão, manga
e tantos outros de indescritível prazer!

Então, amigo, até à nossa partida,
sabes que eu irei contigo…

Se não fores, meu velho amigo,
irei eu, 
levarei como bagagem
a alma cheia de saudade
e o coração a palpitar de ansiedade

José Carlos Moutinho


Tantas vezes


Tantas vezes
se me comprime o peito,
não de dor
mas de desilusão,
tento respirar profundamente
e espantar o fantasma que o oprime,
porém, quando consigo livrar-me daquela,
logo aparece outra e...outra dor
numa eterna teimosia
 


José Carlos Moutinho

Metamorfose


No silêncio das folhas que serenamente se vão matizando
pressentem-se os murmúrios do tempo
que silenciosamente os metamorfoseia
em doces melodias...
As tardes sonolentas pelo Estio
vão cedendo caminho à frescura Outonal
e num abraço afectuoso e simbiótico
confraternizam os dias,
que o nosso tempo nos oferece
para contemplação
e, talvez, deslumbramento


José Carlos Moutinho

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Simples desabafo, sem querer melindrar




...
Saber ler poesia
e entender o seu conteúdo,
parece-me ser, para alguns, uma grande confusão!

Comentam, como se o poema
fosse a dor de quem o escreveu,
dizem, até carinhosamente, que tudo passará,
que o amanhã será melhor,
e as mágoas irão desaparecer!

Estou confuso,
sinto-me navegador de um mar
que não é o meu,
flutuo sobre ondas da incompreensão,
ou, talvez da excessiva sensibilidade
com que as águas chegam à minha praia
e se infiltram nas minhas areias!

Na minha maneira simples de analisar a poesia,
entendo que esta, é uma escrita livre, sensível,
que tem a capacidade de se desnudar de preconceitos,
e, vestir-se de dores, paixões, tristezas, felicidade e amores,
e de tudo que o poeta entenda que pode fazer parte da sua imaginação!

A poesia não é, quanto a mim, o desnudar de alma do autor, que, pode inventar, quem e o que quiser, para pintar o poema.

José Carlos Moutinho

SER FADISTA

sábado, 9 de setembro de 2017

Arrepio

...
Um arrepio que me perpassa a pele
como se nela escorregasse a brisa...
abro os olhos e sinto os teus dedos
que deslizam suavemente, tais pétalas
que me vão perfumando os sentidos
e me entregam a uma doce letargia
volto a cerrar os olhos e...
sinto-te apenas


José Carlos Moutinho​

Politiquices

Apetece-me rir, perante o que se passa, diariamente nos canais de televisão. Políticos que se atacam. Que o Governo faz uma política errada, que não aproveita o que já foi feito, que destrói em vez de construir. Depois, olho para as informações dadas por Instituições, creio, dignas de crédito a dizerem que a economia está em crescendo que o desemprego está diminuindo. Enfim, cada vez mais desconsidero o valor dos políticos, não da política, que é necessária, alinhada com a democracia. Esta gente, seja de que partido for, pensam neles, no seu apogeu, na sua glória. O povo é mera circunstância que só serve para os colocar lá no topo da vaidade e da incompetência.
Por favor políticos deste país, tenham mais dignidade e reconheçam o mérito dos que se encontram no governo. Respeitem-se e respeitem a inteligência do povo.
Sabemos o que fizeram antes e de pouco adianta agora acusarem os presentes no poder. Este meu pensamento e opinião diz respeito à oposição que todos fazem a quem governa. SÓ QUE, NÃO DEVEM ESQUECER O QUE FIZERAM QUANDO LÁ ESTIVERAM. Estou farto de pertencer a um país, que amo, e que é tão desprezado. Portugal merece mais consideração e respeito. Deveria ser governado por gente que o ame e não por gente que se quer governar.


José Carlos Moutinho

Mundo louco

...
Ah...mundo que andas tão louco
acalma essa tua fúria desvairada
traz-nos a paz, sossega um pouco,
não deixes tanta gente desanimada
nem faças do inteligente um bacoco,
permite-nos uma vida mais descansada


José Carlos Moutinho

Passagem


...
Pela efemeridade que é a nossa passagem
por este caminho terreno,
há que aproveitar os céleres momentos
que nos são oferecidos
a cada dia da nossa existência!
Se pensarmos que o ontem já vai longe
e que o amanhã, está logo aí,
o hoje terá que ser vivido com toda a verdade e emoção,
sem pruridos de preconceitos e vaidades,
porque esses "defeitos"
só têm valor e só servem aos próprios,
os outros, olham essas atitudes com displicência e risos

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Nuvem alva

...
Agarrei-me à nuvem alva
que bem pertinho de mim passava,
e coloquei no seu baú de coisas raras,
todos os meus sonhos!

Pedi à nuvem que os guardasse com carinho,
para quando um dia, mais tarde, quem sabe,
eu abrir o baú dos sonhos, que na nuvem viaja
e poder realizá-los!

Se a nuvem não voltar, terei de me conformar,
pois será a confirmação inequívoca
de que os meus sonhos eram irrealizáveis


José Carlos Moutinho

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Partira de mim

...  
Deixei-me abraçar pelas emoções da saudade
e levemente aspirei lembranças,
inventei o que não vivi,
contemplei o que gostaria de ter vivido,
olhei o tempo que me escondeu o que me agradaria ter sentido!

Ansioso, apertei com minhas mãos,
os sonhos que me queriam fugir...
e fugiram por entre os dedos, não consegui sustê-los,
voaram para longe, como voam as gaivotas inquietas
sobre o mar revolto!

O abraço antes recebido pelas emoções
ia-se tornando lasso, 
porque a saudade, cansada, 
partira novamente de mim 

José Carlos Moutinho

Eram tempos

...
Eram tempos de sorrisos francos
que nem a chuva conseguia afogá-los,
eram tempos de ilusões e sonhos por inventar,
eram abraços tímidos
e beijos envergonhados,
eram caminhos de esperança
e momentos de despreocupação,
eram tempos...
que o tempo teimosamente transformou
no tempo vagabundo da sinceridade
e onde todos vivemos inexoravelmente,
porque o tempo nos obriga a vivê-lo


sábado, 22 de julho de 2017

Chorava de saudade




Senti no meu peito o choro do kissanje,
chorava de saudade
pela saudade que em meu peito existe,
murmurei-lhe que se acalmasse
porque a saudade minha
era melodia que me encantava
nos dias de nostalgia...
e o kissanje sorriu-me,
então mais feliz, tocou-me uma rebita
perfumada de mangas e acácias...
fascinado, abracei longamente
a terra da minha saudade

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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