Meu velho amigo, das terras
sem fim
se um dia lá voltares,
eu vou contigo…
Quero voltar a escutar
o som melancólico do batuque,
deixar o meu olhar perder-se
na lonjura
do tempo que me sorriu,
e sentir o perfume da terra
tropical!
Quando fores, amigo
eu vou contigo…
Quero voltar a mergulhar e
pescar
nas águas profundas da ponta
da Ilha,
quero retornar ao Mussulo
e aspirar maresia com aroma
de coco,
quero, amigo,
despertar com o sol matizado
do alvorecer
e adormecer quando o
entardecer se despedir
abraçado ao esplendor do
pôr-do-sol!
Não te esqueças, amigo, se
fores
eu vou contigo…
Quero voltar a pisar o chão
dos caminhos que me
acolheram na juventude,
quero sentir todos os
perfumes
daquela terra de feitiços,
quero pensar as histórias da
minha vida
à sombra daquela velha
mulembeira,
e sorrir às múcuas
suspensas dos braços
despidos dos imbondeiros,
quero voltar a saborear
maboque, loengo, pitanga,
mamão, manga
e tantos outros de
indescritível prazer!
Então, amigo, até à nossa
partida,
sabes que eu irei contigo…
Se não fores, meu velho
amigo,
irei eu,
levarei como bagagem
a alma cheia de saudade
e o coração a palpitar de
ansiedade
José Carlos Moutinho