Estás sempre presente em mim, mãe!
teus olhos eram lagos cintilantes
onde eu mergulhava a minha inocência:
luz do meu caminho,
ternura da minha segurança,
teus braços tuas mãos eu fazia leito da minha acalmia
e a tua voz melodiosa, doce, fazia sentir-me sempre criança!
Tenho saudades de ti, mãe.
Bem sei que lá do alto,
uma estrela maior continua a brilhar,
não a distingo dos milhares que lá no céu cintilam,
mas sinto-a, mãe,
sinto-a no ardor dos meus desatinos
dessa luz de ti,
recebo a força para continuar a navegar
ainda que enfrente marés de inquietude
sei que tenho em ti, o meu porto de abrigo.
Tenho saudades de ti, mãe.
Não te dei o carinho que merecias…
pois de ti recebi tanto amor, tanta compreensão
o teu coração era feito de bondade e amor, mãe!
Foste benevolente e tolerante,
mesmo nos instantes em que a revolta podia ter mais força...
estende-me os teus braços mãe,
e deixa-me neles repousar
quero adormecer com o murmurar da tua voz,
estou cansado,
cansado desta estrada sem rumo,
deste deserto de mim
e da bruma perdida na miragem do meu tempo.
Estou cansado mãe!
Cansado deste tempo que me domina,
embora o tempo seja nada, que o próprio tempo ignora,
tenho saudades e estou cansado, mãe!
José Carlos Moutinho
In "Calemas"
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