sexta-feira, 1 de abril de 2011

Partiste e não voltaste




Hoje estava um dia triste, cinzento
Chovia…
Coloquei uma mão fora da janela
E deixei que a chuva a molhasse,
Rápida e abundante inicialmente,
Escassa e suave, depois.
Eu olhava as gotas de água,
Que desmaiavam na palma da minha mão,
Escorriam por entre os meus dedos
Como as lágrimas,
Que deslizavam pelo teu rosto,
De tristeza, porque partias;
Insegura no teu amor por mim
Querias partir e ficar,
Num dilema desatinado.
Agitada, tal folha sacudida pela brisa,
Frágil como caule de delicada tulipa,
Foste quimera que se evaporou
Numa nuvem cinzenta,
Açoitada pelo vento.
Choraste e partiste
E não voltaste.

José Carlos Moutinho

Há dias assim!




Há dias que tudo corre mal,
Não se pode sair de casa,
Nem falar com amigo(a) tal,
Ouvimos o que nos arrasa.
Dizemos o que não desejamos,
E quando a conversa, é escrita,
Recebemos o que não pensamos,
A outra dúvida, não acredita.
E assim se desconversa,
Desentende-se,
Ofende-se,
Discute-se,
E acaba uma suposta amizade,
Que não devia sê-la,
Senão, não acabaria.
Será dos ventos radioactivos,
Ou das cabeças desatinadas
E perdidas por deixarem de ter.
O que tinham ou queriam?
Acho que talvez pela mudança,
De governo e do PEC.
Não quererão novas eleições,
Não votem…
Mas não adianta,
Tudo fica na mesma
Com este ou com aquele
Continuará o desgoverno!
Portanto, animem-se gente,
Sorriam, não discutam,
Afinal tudo nesta vida é supérfluo,
Vivamos com respeito e amizade.

José Carlos Moutinho


Vila Alice, Luanda, Angola




Foi num dia 28 de um mês de verão,
Do século vinte, Novembro direi eu,
Que a Vila Alice me acolheu,
Com o calor e o seu grande coração.

Deslumbrou-me desde logo,
Pois a alegria estava estampada,
No rosto das gentes que ali habitavam.
Não havia distinção de raças, todos comungavam
De uma paz que transpirava felicidade.
Pessoas de alma aberta e gentil;
Ouviam-se pelas ruas, nos dias domingueiros,
Os rádios em tom alto, demonstrando a alegria
Que se vivia naquela terra;
Especialmente naquele bairro,
De poetas e escritores,
Logo um bairro mais intelectual que outros,
Da bela Luanda, pois as suas ruas,
Tinham como nome,
Poetas e escritores famosos:
Entre outros,
Almeida Garrett, Fernando Pessoa
Camilo Pessanha, Teixeira de Pascoais
Eugénio de Castro e este, que dizia:

-“A fim, oculto amor, de coroar-te,
de adornar tuas tranças luminosas,
uma coroa teci de brancas rosas,
e fui pelo mundo afora, a procurar-te.”

E foi o que eu fiz, fui pelo mundo,
A procurar-te Vila Alice,
De Acácias belas, que marginavam as ruas;
Não me viste nascer,
Mas viste-me crescer e tornar-me homem,
De paixões e conheceste os meus amores.

Foste o meu lar, o meu abrigo
Foste tu, bairro de poesia,
Que me fez homem e foste amigo
E deste à minha vida um sentido.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 31 de março de 2011

Eras tu ou a cerejeira?




Sentei-me debaixo da cerejeira
De belos frutos,
Como os teus lábios vermelhos.
Sentia-me envolvido no teu abraço,
Que me apertava na sombra,
Daquela árvore.
Acariciavas-me o peito,
No toque dos seus ramos.
As folhas, os teus dedos
Deslizavam por entre os meus cabelos,
Numa ternura,
Que me enlouquecia,
De emoção e deleite.
As folhas oscilavam,
Num bambolear ritmado,
qual dança sensual.
Sereno, eu recebia toda aquela magia,
Através dos raios de um sol vibrante,
Que como diamantes,
Vinham enriquecer-me de luz,
Fazendo-me sentir um ser especial,
Num mundo de conflitos.
Os pássaros pousavam, chilreando,
Como se fossem mensageiros de anjos.
Total sensação de bem-estar e paz
Adormeci, nos teus braços da cerejeira.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 30 de março de 2011

Alma que voa, sem rumo




Num ímpeto arrebatado,
A minha alma é levada a voar,
Pelo universo em busca do que nem eu sei!
O que será que a minha mente procura?
O desconhecido para satisfação do seu ego,
Ou talvez pela insatisfação e desassossego,
Do querer o que não sinto ou tenho.
Talvez a exacerbada avidez pelo inexistente,
Ou será consciência doentia
E desatinada pela inconsciência,
Da razão que se esvaiu?
E a alma voa, como mariposa,
Num vaivém descontrolado.
A esperança é eterna,
Quem sabe se um dia,
Esta minha inquieta alma,
Sossega e encontra o seu lugar paradisíaco
E tranquilamente,
Deixa de querer o que não tem,
Quando retornar a um outro ciclo!

José Carlos Moutinho


Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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