segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sem âncoras, nem amarras




Sento-me de frente para o mar,
Encantado com marulhar das ondas
E deixo-me levar para longe,
Bem longe… pela brisa
Que afaga as águas calmas,
Deste dia de verão,
Até perder de vista a praia;
Só vejo o horizonte, num vazio
Que ofusca pela existência de nada,
Talvez a luz do crepúsculo,
Do fim de tarde, que acentua o verde marinho
Deste mar das minhas divagações;
Abraço-me à acalmia deste mar
E revivo-me das emoções,
De sentidas e vividas paixões,
Por outros mares desta vida,
Por vezes em turbulentas ondas,
Que me arrastavam ao fundo da angustia,
Outras que me elevavam aos píncaros da felicidade,
Mas sempre navegando, sem âncoras
Nem amarras, por esses oceanos infinitos,
Mesmo que as águas não fossem límpidas,
Da verdade e sinceridade,
Sob a protecção de Neptuno,
Seguirei sempre nas ondas do amor.

José Carlos Moutinho

domingo, 8 de maio de 2011

Entre o mar e a lua




Faço dos caminhos da minha mente,
Os pensamentos da minha esperança;
Voo nas asas das minhas fantasias,
Levo-me no perfume das margaridas,
Deslizo no azul das ondas
Deste meu mar de paixão
E navego na solidão do meu sentir!
Eu, entre o mar e a lua,
Olho fascinado o luar que me cobre
De infinitas cintilações de uma ténue luz
Que me relaxa e me deixa
Em total acalmia
Deste meu viver desassossegado!
Lá longe vejo um relampejar,
Será um navio
Talvez um farol,
Ou será o infinito
Que iluminou a minha mente adormecida?

José Carlos Moutinho

sábado, 7 de maio de 2011

Dor



Apareces inesperada e silenciosa,
Sem ninguém sequer te convidar,
Deves ser mais airosa
E não vir assim atormentar.

Dor, tens um nome sonante,
Que rima com a palavra flor,
Mas se vens com esse ar provocante,
Ninguém te suporta, és um horror.

Se tropeçamos ou caímos,
Logo surges tu a irritar,
Esqueces o que sentimos,
Sofrimento difícil de suportar.

Dor, nome de bela fonética,
Apareces rápida ou lenta,
Estás no amor e na esquelética,
Mas sempre és uma tormenta.

Ah, dor, tu sabes que és odiada,
Não te preocupas, és indiferente,
Porque teimas em ser malvada,
Se poderias ser mais abstinente.

Dor, acutilante e insistente dor,
Também tens uma função,
Mostrar ao senhor doutor,
Que queres alertar para a infeção.

Mas o pior de ti, com essa calma
É quando provocas o amor,
Magoas e torturas a alma,
Sem te preocupares com a dor.

Enfim, no final de tudo isto,
Eu odeio-te, porque me magoas,
Nem que te implore por Cristo,
Ignoras por completo as pessoas.

José Carlos Moutinho


sexta-feira, 6 de maio de 2011

Meditando com as garças





Nas margens daquele lago de sonhos,
Desfilam altivas, nas suas longas pernas,
Garças multicolores das minhas ilusões;
Seu caminhar desengonçado,
Lembra-me o balanço da própria vida
E no desequilíbrio dos sentimentos,
Que se insinuam falsos e cínicos;
Vejo nas suas penas de diversas cores,
As cores negras das penas que a mentira causa
Na falsidade das emoções,
De gente que sorri, ofendendo
Que promete e jamais cumpre,
Que abraça friamente, no orgulho do seu ódio;
E as garças impávidas e indiferentes
Aos meus pensamentos,
Buscam com os seus longos bicos,
O sustento que a natureza lhes oferece,
Na luta pela continuidade da vida,
Porque as aves não odeiam,
Talvez só saibam voar e amar.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cartas amassadas




Escapam-se-me por entre os dedos,
Como gotas de chuva teimosa,
As cartas das minhas saudades,
Que recordam os minutos inolvidáveis,
De tantos instantes vividos,
Felizes alguns, sofridos outros;
Fecho as mãos, ficam papeis amassados,
Transformados num monte de nadas,
Contidos num mundo de sentimentos!
A mente voa, perdida, sem rumo,
Mas ansiosa por algo,
Talvez uma árvore, uma rua
Qualquer objecto que lhe mitigue a lembrança
E retorne com uma luz de esperança!
Abro as mãos, os papéis continuam esmagados
Inertes, sem respostas
Porque o seu conteúdo é passado
E este não volta, nas cartas deformadas,
Pelas mãos que se fecharam, desesperadas,
Pela resposta que veio no silêncio
E ficaram no chão,
Abandonadas!

José Carlos Moutinho

Ai, as palavras!




Hoje acordei desejoso de algo novo,
Talvez um belo poema de amor!
Tentei, mas as palavras não surgiam,
Ou se vinham, eram palavras vãs,
Insisti, pensando:
Porque não me visitam as palavras?
Mas nada aparecia,
Desconfiei que fosse da inspiração,
Não, sempre a tive…
São as palavras que teimam,
Sempre me disseram que sou poeta,
Ou será que eu afinal não sou poeta?!
Mas elas terão de ceder à minha vontade,
Nem que sejam palavras ditas à toa,
Embora não seja de bom-tom,
Palavras sem sentido,
Mas nem mesmo essas me acudiam;
Desesperei e supliquei ao deus da escrita:
Ajudai-me
Quero escrever um poema de amor,
Quero que a minha amada
Saiba do meu amor secreto;
E nada!
Afinal as palavras, venciam-me.
Nem belas palavras, nem más palavras
Admiti que nada sou, perante elas
As palavras dominavam-me
E se insistem que não nos hão-de socorrer,
Não aparecem;
Talvez um outro dia,
Eu tenha mais sorte,
Ou as palavras estejam melhores comigo
E com o meu estado de espírito.
Aceito que hoje perdi
E o belo poema de amor,
Ficou por escrever por vontade das palavras!
E a minha amada,
Continua sem saber do meu amor secreto.

José Carlos Moutinho



Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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