domingo, 5 de fevereiro de 2012

Solidão serena




Quando me penso no vazio do sentir,
Levo-me vagueante por entre vales
De sonhos perdidos,
Em noites de insónias,
Quando as palavras se faziam ocas,
Nos sons da garganta oprimida,
Pela desilusão daqueles instantes
De esmorecida paixão,
Que se afogara em pântanos de mentiras
E nem os nenúfares valeram!

Agora no abraço que me dou,
No aconchego das magnólias que me rodeiam
E nos aromas que me envolvem,
Vejo-me na solidão serena,
Da paz almejada!

E a minha mente deixa-se levar
No secreto desejo,
De palavras feitas amor,
Pela transparência cristalina,
Da luz que brota do âmago
Infinito da minha alma.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Êxtase



Navego-me em águas quentes de paixão,
Corro-me por rios de mansidão lânguida,
Com a frescura das suas carícias
E no murmurar da correnteza,
Que entoa melodias de delírio apaixonante!

Deslizo-me pelo seu corpo,
Em afagos de movimentos arrítmicos,
Animo-me ao toque das plantas,
Que marginam este leito de prazer,
Sinto-as como as tuas mãos, amor,
Beijo-te no borbulhar delicado das águas,
Que me roçam os lábios;
Os teus braços no oscilar das ondas,
Apertam-me contra o teu peito;
Os meus cabelos molhados,
Pelos teus dedos húmidos de sensações,
Fazem-me relaxar no fascínio
Dos reflexos solares,
Sobre o espelho aquático,
Deste meu deslumbramento
E pelo chilrear sinfónico,
Das aves empoleiradas
Nas árvores que me cobrem.

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Luar que me canta




Nestes dias que se tingem de cinzento,
Pela exaustão do sol esvaído,
Levo-me nesta estrada de nuvens,
Na demanda de novos horizontes,
De mundos onde a luz seja constante,
A fraternidade uma palavra assertiva,
Os sorrisos brotem da alma
E os abraços sejam o calor da vida!

Ainda que seja uma vã busca,
Irei sem destino,
Construindo ilusões,
Cruzando emoções,
Abrigando sentimentos,
Inventando arco-íris
Nos mares de esperança!

Certamente que encontrarei
Flores que me sorriam,
Aves que me cantem,
Gente que se afague
Na singeleza da seda,
De mãos abertas e acolhedoras!
Os dias voltarão a pintar-se
De alegres e vivas cores,
Matizadas de paixões despertadas;
O sol virá com todo o seu vigor
E eu sentirei a felicidade
Do meu sonho realizado;
Quando o crepúsculo chegar,
Descansarei finalmente,
Sob o manto do luar que me canta!

José Carlos Moutinho

sábado, 28 de janeiro de 2012

Enquanto há vida...



Desesperam-se as vontades,
Perdem-se as razões,
O mundo tumultua-se,
Revolta-se, intriga-se e conspira!
As pessoas sofrem por carências várias,
A fome assola continentes,
Flagela injustamente inocentes,
O frio penetra em corpos nus,
E mata congelando almas!
Crianças partem prematuramente,
Combalidas pelos males que não pediram!
E a terra gira em torno do seu eixo,
Nas vinte e quatro horas de um dia,
Sem parar de nos surpreender,
Nas suas belezas e destruições!

Interrogamo-nos, porque se morre,
Tantas vezes em sofrimento,
Outras repentinamente
E teimamos em fazer as mesmas asneiras,
Enfrentando os perigos,
Desafiando as gravidades
E cometendo loucuras,
Provocando a morte!

Resguardamo-nos na carapaça
Do milagroso e velho ditado,
Há esperança,
Enquanto há vida...

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Imaginário



Ancorado no promontório do presente,
Levo-me em pensamento,
Pelas falésias do passado,
Até às areias roliças dos prazeres vividos,
Pela saudade que se torna latente,
Nas memórias que o tempo teima em esquecer!

Os meus pés são acariciados pela espuma,
Das emoções
De ondas feitas instantes,
No marulhar de fascinante melodia,
Que me hipnotiza os sentidos!

Navego na serenidade que me transcende,
Pelo reflexo do sol,
Sobre o dorso deste mar imenso!

Sou transportado por indizível mágica,
Ao futuro,
Que se faz delirantemente belo,
Pelas nuances iluminadas!

Chego ao horizonte,
Onde o céu beija o mar
E as estrelas abraçam golfinhos,
Ao som do cântico das sereias.

Estou no futuro, do imaginário.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Frémitos



Pela janela entreaberta,
Sorrateiro, espreita o sol,
Carinhosamente abraçado pelo vento,
Que ao som das baladas das ondas,
Daquele mar azul de lembranças,
Traz doces instantes
De tempos vividos,
Em cabanas de quimeras!
Dos seus raios cintilantes
Que lampejam utopias,
Fazem vaguear pensamentos
Por céus feitos estradas,
Dançar ilusões por areias
De desertas praias,
Onde desejos se fizeram paixões,
Em espumas de prazer,
Nos devaneios da inconsciência
De corpos escaldantes,
No rolar das águas, em orgasmos
De frémitos gemidos,
Em suores de excitação lasciva.
José Carlos Moutinho

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Vulcão dos sentidos



A minha alma anima-se no reflexo cristalino
Do Sol da vida, espelhado nas águas
Das minhas memórias!
Traz-me lembranças daquele amor,
Que um dia me sufocou de tanto doer,
De paixão e emoções exacerbadas,
No sentir de prazeres desatinados,
Levados em voos sem rumo,
Sobre as areias quentes de um fogo,
Feito vulcão nas entranhas do nosso ser!
Na ausência do ar, estrangulado no beijo,
De anseios rebuscados sob o manto do luar;
Pensamentos esmorecidos na sensação,
Carinhosa do teu forte amplexo
E na carícia da tua pele sedosa,
Perturbadora dos meus sentidos;
O murmúrio dos teus lábios,
Quando beijavam os meus ouvidos,
Fazendo-me desfalecer
Num torpor de extasiante volúpia!

Acabam-se-me as lembranças
Que se levam na suavidade
Do crepúsculo que me desperta.


José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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