sábado, 1 de novembro de 2014
Quem és? (Fado)
Não sei quem és, nem de onde vens,
serás folha ou lamento,
diz o que de bom tu tens
serás sopro do vento
ou segredos que em ti conténs.
Tuas mãos são rosas
perfumadas de afagos
suaves mariposas,
olhos teus são dois lagos
teus seios doces prosas.
Ainda não sei quem és
e talvez nunca o saiba,
escondeste os teus pés,
minha acalmia acaba
condeno-te às galés.
Deixaste-me por fim
ver-te inteira e graciosa,
de lábios cor carmin
cara maliciosa
nunca vi um corpo assim.
José Carlos Moutinho
*Reserv.direitos autorais*
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
Navego em mim
São sombras, são murmúrios
que me invadem o sentir
num silêncio doce de afago,
abraçam-me na minha solidão
e aconchegam-se na minha
alma!
Calam fundo as minhas
palavras,
aquelas palavras esmorecidas
pelas tardes vazias da minha
vida,
que perderam a voz da
serenidade
e se tumultuam em
inquietudes,
que só os luares dos meus
anseios
iludem com a utopia das
estrelas!
Alvoradas das minhas
Primaveras
nascem pálidas, cansadas,
sem sol,
turvadass pela luz diáfana
das quimeras,
perdem-se nas maresias sem
farol!
Navego em mim pelas veias do
meu rio,
fluxos vermelhos da minha
essência,
por vezes cálido, outros com
muito frio,
sou tenaz timoneiro da minha
existência,
desistir é fraqueza,
continuar é desafio,
encontrarei o remanso da
minha resiliência
José Carlos Moutinho
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Tu me disseste fadista (Fado)
Ai se eu fosse poeta
faria a mais bela canção,
com flor em cada letra
do jardim do meu coração
p’ra minha amada secreta.
Fadista, eu não sei escrever,
Outro, deves encontrar,
tenho pena podes crer
mesmo assim eu vou tentar
pode até acontecer.
Um dia eu me aventurei
nem me saí muito mal,
era um fado em que falei
de amor, coisa natural
e com coragem cantei.
Bem sei que foi uma vez
tu me disseste, fadista
com alguma rispidez,
que eu não era letrista
parar, era o melhor, talvez.
Claro que fiquei triste,
procurei outro do fado
que visse o que não viste,
me deixasse animado
e me dissesse, insiste.
José Carlos Moutinho
*Reserv.direitos autorais*
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Horizonte da Finitude
Quando meu último dia chegar
ao horizonte da finitude,
Olhem para meu corpo
adormecido na doce eternidade,
Não critiquem meus defeitos,
enalteçam alguma virtude,
Nem chorem piedosos, se não
for um sentir com verdade.
Na serena e derradeira visão
do meu corpo sucumbido,
Cantem baixinho e pensem,
ali poderia estar um de vós,
Não desesperem é a canção da
vida, em fado cumprido,
Eu ali prostrado, silencioso
sem vos ver, inerte sem voz.
Se me olharem olhos nos
olhos, com simpatia e amizade,
Verão o brilho dos meus
olhos, definitivamente apagado,
Sobre aquele corpo defunto, há
uma outra luminosidade,
Invisível, cintilante, farol
de paz com que fui contemplado.
Peço a todos os presentes
desta festa de minha despedida,
Que eu não seja ausência
muito longa das vossas memórias,
Podem rir, se quiserem por
eu me ter pensado poeta na vida,
Não me acusarão de hipocrita
e de criar esperanças ilusórias.
Entre muitos choros, alguns
sorrisos e tristezas, deste evento,
Amanhã, será novo dia para vós,
menos para mim, sou nada,
Parti ontem para um lugar
maravilhoso, longe, no firmamento,
Talvez volte à terra, se essa
missão à minha alma for destinada.
José Carlos Moutinho
Sentimento (Fado)
O frio mordia
naquela escura noite,
o meu corpo sentia
dor como um açoite
na minh’alma que gemia.
Era de saudade,
mais que do frio,
ou talvez ansiedade,
e eu estava tão sombrio
naquela escuridade.
Adormecida a noite,
os raios da alvorada
despontavam com afoite,
chegava a madrugada
depois de triste noite.
Ciclo de vida e do tempo,
após o breu, vem a luz,
a cantar ou em lamento
tudo em nós se traduz,
em modos de sentimento.
José Carlos Moutinho
*Reserv.direitos autorais*
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Ai, mundo
Porque te enfureces mundo
se o sol brilha a todo o instante,
porque gritas blasfémias
se a Lua a cada noite nos acalma
com a serenidade do seu manto?
Bem sei que por vezes tens razão,
está tudo transformado,
o que antes, era honra, hoje é vulgaridade,
a palavra que era como um certificado
hoje não passa de coisa sem valor,
a hipocrisia de antigamente era mais discreta
mas actualmente é acutliante e descarada!
Mesmo assim, mundo,
ainda temos a esperança ou ilusão
que volte tudo ao que era,
que a amizade seja tão sincera como dantes
e não tão falsa, como agora!
Anima-te, meu mundo
eu estou contigo,
pois não conheço outro mundo,
por favor, modifica-te
e deixa-me viver calmamente,
ainda que essa acalmia seja utópica!
Engana-me e diz-me que estou enganado
que penso erradamente,
e está tudo exactamente como sempre esteve!
Meu mundo, ou mundo do meu passado
não me grites,
fala comigo docemente,
convence-me de que a realidade que eu agora vivo,
é um sonho mau, um terrivel pesadelo
e tudo, mas tudo, está igual ao do outro tempo
e despertarei para a verdade
e que em boa verdade, esta verdade, é uma mentira!
Diz-me mundo louco, ou serei eu que estou louco!?
José Carlos Moutinho
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Se eu fosse pintor (Fado)
Se eu fosse pintor
pintaria uma tela
com as cores do amor,
do meu amor por ela
com a paixão em cada cor.
Mas eu não sou pintor,
creio que ela nem me quer
porque ela é uma linda flor,
eu nem jardineiro sequer,
sou somente um sonhador.
Continuarei a sonhar
porque o sonho é de cada um,
posso ser o que eu desejar,
é um direito a todos comum
deixem-me então sonhar.
Os sonhos serão utopia
que só o sonhador sabe,
podem ser de alegria
ou de algum amor que acabe
com saudade ou nostalgia.
José Carlos Moutinho
"Direitos autorais registados"
domingo, 26 de outubro de 2014
Ai...esta nostalgia de Angola
Ai…esta nostalgia sempre
presente em mim
do feitiço que se entranhou
na minha essência,
da minha Luanda de perpétua
saudade,
das memórias belas que
jamais têm fim,
das cores que dos meus
olhos, são ausência.
Dizia-se que quem bebesse
água do Bengo
ficaria eternamente preso
aquela cidade,
por isso em mim tenho este
doce dengo
que será meu companheiro
pela eternidade.
Ai… Luanda, minha querida
Luanda
foste a luz, a cor, o cheiro a minha vida,
hoje estás diferente, até te
chamam banda,
de qualquer modo,serás
sempre muito querida,
E não sejas vaidosa e
egoista, minha cidade,
porque a minha saudade e
grande nostalgia
moram no meu peito em
melancólica acuidade
por Angola, das vastidões verdes,
minha alegria.
Ai….Angola que me prendeste
profundamente,
jamais sairás do meu ser,
ainda que eu quisesse,
sinto-me por ti enfeitiçado
em doce sofrimento
hoje és livre, independente, talvez eu regresse.
José Carlos Moutinho
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Quando eu parti (Fado)
Era ainda um menino
quando deixei minha mãe,
segui meu destino
parti pra terras de além,
com a mente em desatino.
A Africa cheguei um dia
numa tarde de verão,
muita tristeza eu sentia
e anseio no coração,
minha aldeia eu já não via.
Porém linda era a cidade
que aos meus olhos se colou,
e com esta verdade
em mim tudo mudou
floriu a felicidade.
Luanda dos meus amores,
Sol da minha juventude
jardim de muitas flores
teu povo tem virtude,
és tela de belas cores.
José Carlos Moutinho
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
Mariposas loucas
Vendavais de nadas em vozes
roucas
sopram luzes apagadas pelos
breus,
são como mariposas que voam
loucas
e embora tentem, jamais
chegam os céus.
Voam, voam, sem procurarem
destinos.
são seres inúteis, vazios e
deslumbrados.
serve qualquer vitima para
seus desatinos,
abocanham como abutres, os
mais atinados.
Mas o sol e a lua desprezam
tudo isso,
continuam a iluminar este
mundo desvairado,
fazem de tudo para que
ninguém seja omisso
a fazer da amizade e da
honra, um tratado.
José Carlos Moutinho
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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas
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