sábado, 5 de dezembro de 2015

Amar é loucura





És a flor da qual eu sou o caule
Sou a brisa que docemente te afaga
És o sol que me sorri e aquece
Sou o manto do luar que te protege…

Navego nas ondas dos teus braços
Respiro as marés do teu belo corpo
Descanso meus cansaços em teus abraços
És serenidade que faz de ti o meu porto

Somos metáfora das ilusões improváveis
Voamos como folhas, sonhadas mariposas
Em cada dia inventamos novas sensações
Somos vale plantado de poesias e prosas…

Que digam que não somos deste mundo
Se o fizerem é simplesmente por despeito
Temos pelo sentir a vida, respeito profundo
Somos assim e não aceitamos de outro jeito

Amar é sentir o perfume dos cardos
É sentir dor que comprime o peito
Amar é achar belos, os secos prados
É ver perfeição onde há tanto defeito
Amar é a loucura dos apaixonados
É não distinguir o errado do perfeito

Sentir o amor é como sentir o vento
Sopra, assusta e quando brisa, não dura
Tantas vezes o amor só traz sofrimento
Na verdade amar é verdadeira loucura

Amar pode ser dor ou a paixão da cor
Da alegria, no jardim da felicidade
Amar é a tristeza cinzenta da infelicidade
É desvario cativo da dor, por amor

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Escarpas da vaidade





São sapos que chafurdam
nas poças rasas da ignomínia
e lambem os cheiros
das vozes agoirentas
sopradas pelo vento bolorento!

De olhar fétido secam as folhas
que vão caindo desgraçadas
no chão negro do avilte
de onde voltarão a reproduzir-se
incólumes e ainda mais abrutalhadas
como epidémica praga,
perfilhadas pelo negro e funesto  olhar!

Ao toque de suas mãos, turvam-se as águas
vomitadas pelas escarpas da vaidade
onde se afogarão na sua própria torpeza
após terem fenecido as margens pestilentas
do rio da sua insignificância
que os transportou à foz do nada!

Vegetam empedernidos pela ilusão do eterno,
mentes perturbadas pela visão opaca
que lhes atrofia o discernimento
e lhes confunde a realidade da vida.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Escusa-se o poema





Nega-se a mão a desenhar o pensamento,
escusa-se o poema à vontade da inspiração,
ausentam-se os versos à seara da criação
dando lugar ao fracasso da colheita
de uma provável e bela escrita lírica…
ou até do florir de um singular jardim
de simples metáforas coloridas
abraçadas ao sentir bucólico das cores...

...Mas tudo se confunde num misticismo
que se entranha no mais profundo da sua alma
e lhe entrava os gestos da mão que escreveria
e cala a voz do coração que se lamenta
pela incapacidade de soltar as amarras…
Amarras que os prendem às margens do absurdo
e não lhes permite navegar...
Navegar pelas palavras plantadas,
onde o joio não cerceasse o sentido
e o desejo de inventar o poema.

José Carlos Moutinho

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Ânsia incontida





Fugiam p’los meus dedos
vontades do  meu sentir,
eram mágoas e medos
torturas do meu carpir

Chora triste a minha alma
a ilusão do sonho ido,
nada mais me acalma
nesta vida sem sentido

Vagueio a melancolia
pelas ruas da saudade,
no breu da minha agonia
escondo esta realidade

Abraço-me à esperança
dos sorrisos da vida,
tem a cor de mudança
a minha ânsia incontida

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Escuridão da vida





As pedras da calçada são espinhos



nascidos das flores secas da miséria,



plantadas em jardim de infelicidade!



Neste chão duro, onde dormem os sonhos,



empedernidos pelo vento da tristeza



e onde se encolhem petrificados pelo frio



os corpos de vivos mortos,



perdidos pelos caminhos do nada!







São companheiros desta desgraça,



cães esquálidos como eles próprios,



que se aquecem mutuamente



empastados pela sujidade que os enegrece!







Quantos desses seres, vagabundos da sorte,



tiveram um dia um lar reconfortante 



e o afecto da família e amigos…



E hoje, abandonados pelo destino,



ou talvez tenha sido o destino escolhido,



são seres vivos sem vida,



são zombies deambulantes sem presente



por caminhos sem futuro!







E as pedras da calçada, são o leito



o leito de um rio de sangue,



lar de desgraçados,



ninho de gente devorada por parasitas



e de pele enrugada pela imundice…







Pobre gente que se deixou cair



por infelicidade ou vontade própria



na escuridão da vida.







José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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