terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Amizades



Há amizades feitas de vento
Que esvoaçam sem rumo
E se perdem no tempo

E há aquelas que se vestem de chita
São tão frágeis, tão frágeis
Que são uma autêntica fita

Mas temos também as coloridas
De tantas cores, mas tantas
Que quando nos chegam estão esbatidas

Ah…e outras há pela vida
Que sorriem de olhos mortiços
Como uma coisa perdida

Existem muitas mais que abraçam
Mas os braços ficam tão flácidos
Que sentimos que nos amordaçam

Mas algumas acontecem com simpatia
Não são profundas nem leves
Que apreciamos pela sua alegria

Há outras que são pergaminhos
Que se colam nas pétalas
Das flores dos nossos caminhos

Embora escassas também existem
As amizades ditas verdadeiras
Daqueles amigos que nunca desistem

Com pouco, creio que disse o suficiente
Dos imensos tipos de amizade
o valor maior é jamais ser despiciente

E porque estamos no Natal
Que todos os tipos de amizade
Jamais se congreguem em torno do mal

José Carlos Moutinho
11/12/18

Decreto-Lei, nº 63/85
dos direitos do autor

Natal, Pétalas de Esperança





Olhei o céu
numa noite de luar,
suspirei um desejo
e das estrelas soltaram-se pétalas,
não de flores...
mas sim de sorrisos
de esperança
para um mundo melhor!

Estupefacto, pensei sonhar
quando as pétalas que caíam
acariciando o meu pensamento
me lembraram que estamos no Natal!

Não o Natal desenfreado
pelos centros comerciais,
mas aquele Natal tão mais simples
que simboliza o amor
a humildade e a família!

Admirei-me perante esta chamada de atenção
daquelas singelas pétalas de luz,
porque eu, certamente estaria tão só
que não conseguiria congregar
outros mais, para cumprir o desejo das estrelas!

Voltei a observar o céu
e espantei-me ao ver as estrelas
semicerrarem os olhos,
entristecidas pelas minhas palavras,
e esmorecerem a luz da esperança
numa profunda desilusão
causada pela humanidade.

José Carlos Moutinho
10/12/18

Decreto-Lei, nº 63/85
dos direitos do autor

domingo, 9 de dezembro de 2018

Meu chão, minha terra



Sobralinho, minha terra, meu chão,
aldeia do meu coração, meu berço
que eu deixei num dia de emoção,
parti pra longe, que nunca esqueço

Foste meu sol, meu luar e alegria,
foste pião que rodopiava campeão,
és memória de sempre e de um dia
quando desci a serra numa confusão

És a lembrança de tantos instantes
da minha tenra idade e juventude,
de tantas brincadeiras mirabolantes
jamais perdeste dignidade e virtude

Quando te deixei era tão menino
quero que saibas, nunca te esqueci,
terras de África foi o meu destino
levei-te no coração quando de ti saí

Voltei muito mais tarde, bem sabes,
quis mostrar-te a minha actividade
levando-te meus escritos onde cabes
na poesia que te dedico com afectividade

Uma realidade que nunca entenderei
de ti, querida aldeia, tenho tão pouco
do tanto que pelo mundo eu viajei
num tal rodopio que me deixa louco

Agora que minha caminhada se encurta
tu, Sobralinho, meu canto, minha terra,
o meu coração grita a saudade absoluta
na calada dor que a minha alma encerra

José Carlos Moutinho
9/12/18


Meu chão, minha terra

sábado, 8 de dezembro de 2018

Vem...


Vem…vem!
Esta palavra, repetida desperta-me
da minha viagem pelos sonhos
ou viajaria eu, quiçá, pela realidade?
Ensonado, não consigo abrir os olhos,
mas continuo a ouvir, muito baixinho:


Vem…vem!

Estranho…
enquanto escuto esta palavra
num tom de voz profundo,
sinto o perfume das acácias
e o cheiro característico de terra molhada,
consigo perceber o canto da mulembeira
quando acariciada pelo vento…
estremeço com este pensamento,
o coração bate apressado e emocionado
enquanto mais distante
onde a lonjura se vai perdendo,
ainda ouço:


Vem…esta é a tua terra

desta vez acordei sobressaltado,
como era possível uma voz tão grave
que parecia vir das entranhas da terra
ou da boca do exótico imbondeiro
perturbar-me tanto assim, enquanto dormia?


Aquele murmúrio chamativo lembrava
uma mãe a chamar pelo filho
E aqui só podia ser a mãe África
que assim, a mim se dirigia
chamando-me para junto de si!


Mas como, se eu sou europeu?
Fiquei pensativo e ansioso
teria eu já sido filho de África
nalguma outra passagem por este mundo?


Deixei-me acalmar
apesar de serena, aquela voz ia-se afastando
deixando a suspirar uma enorme nostalgia,
levando-me a recuar no tempo, ainda recente
e relembrar quão feliz eu tinha sido
naquela terra tropical,
plena de cores, musicalidade,
feitiços e perfumes…


Vem…vem
o teu coração mora aqui!
Que eu, solenemente, sentia,
mais do que ouvia,
embora mais ténue, porém, vibrante,
trazia a mim o som místico do kissange…
…foi-se perdendo na lonjura
que me tinha deixado apaixonado!


Incrivelmente voltei a adormecer,
mas no meu coração
ficou lavrado aquele ternurento som
e a minha alma
foi tomada por uma perfumada
e eterna saudade
que jamais se extinguirá


José Carlos Moutinho

Decreto-Lei, nº 63/85
dos direitos do autor

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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