Olho as minhas mãos, rugosas
Pelo tempo, que entre os meus dedos
Tem escorrido,
Numa correria interminável,
De desejos por cumprir!
Secam-me os dias de esperança,
Pelos sonhos esmorecidos,
No desalento do sono!
Pelos meus dedos, agora adormecidos,
Passaram rios de ilusões,
Transbordados por praias vazias,
De momentos perdidos!
Quisera fechar as mãos e segurar
Todo o mar, que me quis inundar
Quando eu era o deserto de mim!
Aperto os dedos e somente escuto o ranger
Dos ossos entorpecidos,
Pelas horas que por eles cruzaram,
Enroladas nos minutos velozes,
Amordaçadas nos anos corridos!
E contemplo as rugas das minhas mãos,
Lendo em cada traço um caminho,
Na busca do oásis do deserto,
Que o mar não inundou.
José Carlos Moutinho
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