segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Calçada da minha rua





A alvorada serena,
desperta as pedras da calçada
da minha rua,
pedras gastas, doridas, silenciosas,
pelos invernos da desesperança
no arrastar de pés descalços,
na calada da noite cansada,
em busca de um abrigo,
escondido em vão de escada,
ou sob aquela árvore da esquina!

Os seus colchões e mantas,
são cartões de caixas desfeitas,
que antes agasalharam televisores, frigoríficos
e quejandas mais, em contraste aviltante de quem nada tem!

Sofrem no corpo as agruras do tempo,
que lhes dilacera a alma, pelos outonos sem futuro,
em fria dor de resignação!

Arrastam-se, andrajosos,
remexem caixotes de despojos, como bichos
em busca de um pão, ainda que seco
e sirva para iludir o estômago!

Outros felizes, passam indiferentes a tão pungente sofrer,
sorrindo porque o sol lhes brilha,
e a fome não os tortura!

Ignoram a escuridão dos corações dessa gente,
sem sorte ou desatinados, de alma empedernida,
culpados por viverem,
filhos de um destino padrasto!

E as pedras da calçada da minha rua,
no seu silêncio solidário e sofrido
escondem a dor de alguma alma nua
que se afogou nas mágoas
das lágrimas não vertidas!

José Carlos Moutinho

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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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