As cidades cantam o rio
que as atravessa,
rio que afogava nas suas entranhas
as dores de alguns
e transformava o suor em pão de tantos
Sobre o seu corpo
deslizavam dolorosamente os rabelos
carregando o néctar da vida,
num serpentear cansado
por entre vales e montanhas,
vindos de tão longe…
O seu caudal beija os pés das arribas
que sustentam em delicado equilíbrio
a vinha rendilhada!
Este rio de tantas canções
é hoje um senhor,
veste, vaidosamente, roupa lúdica,
deixa-se navegar por barcos de luxo,
sorri orgulhoso aos turistas
e amigavelmente
permite que os velhos rabelos
desfilem garbosos,
esquecendo mágoas
e tormentas de outros tempos
José Carlos Moutinho
ao abrigo do Decreto-lei nº 63/85
dos direitos de autor
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