quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Horizonte da Finitude





Quando meu último dia chegar ao horizonte da finitude,
Olhem para meu corpo adormecido na doce eternidade,
Não critiquem meus defeitos, enalteçam alguma virtude,
Nem chorem piedosos, se não for um sentir com verdade.

Na serena e derradeira visão do meu corpo sucumbido,
Cantem baixinho e pensem, ali poderia estar um de vós,
Não desesperem é a canção da vida, em fado cumprido,
Eu ali prostrado, silencioso sem vos ver, inerte sem voz.

Se me olharem olhos nos olhos, com simpatia e amizade,
Verão o brilho dos meus olhos, definitivamente apagado,
Sobre aquele corpo defunto, há uma outra luminosidade,
Invisível, cintilante, farol de paz com que fui contemplado.

Peço a todos os presentes desta festa de minha despedida,
Que eu não seja ausência muito longa das vossas memórias,
Podem rir, se quiserem por eu me ter pensado poeta na vida,
Não me acusarão de hipocrita e de criar esperanças ilusórias.

Entre muitos choros, alguns sorrisos e tristezas, deste evento,
Amanhã, será novo dia para vós, menos para mim, sou nada,
Parti ontem para um lugar maravilhoso, longe, no firmamento,
Talvez volte à terra, se essa missão à minha alma for destinada.

José Carlos Moutinho

Sentimento (Fado)


O frio mordia
naquela escura noite,
o meu corpo sentia
dor como um açoite
na minh’alma que gemia.

Era de saudade,
mais que do frio,
ou talvez ansiedade,
e eu estava tão sombrio
naquela escuridade.

Adormecida a noite,
os raios da alvorada
despontavam com afoite,
chegava a madrugada
depois de triste noite.

Ciclo de vida e do tempo,
após o breu, vem a luz,
a cantar ou em lamento
tudo em nós se traduz,
em modos de sentimento.

José Carlos Moutinho
*Reserv.direitos autorais*

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Ai, mundo



Porque te enfureces mundo
se o sol brilha a todo o instante,
porque gritas blasfémias
se a Lua a cada noite nos acalma
com a serenidade do seu manto?

Bem sei que por vezes tens razão,
está tudo transformado,
o que antes, era honra, hoje é vulgaridade,
a palavra que era como um certificado
hoje não passa de coisa sem valor,
a hipocrisia de antigamente era mais discreta
mas actualmente é acutliante e descarada!

Mesmo assim, mundo,
ainda temos a esperança ou ilusão
que volte tudo ao que era,
que a amizade seja tão sincera como dantes
e não tão falsa, como agora!

Anima-te, meu mundo
eu estou contigo,
pois não conheço outro mundo,
por favor, modifica-te
e deixa-me viver calmamente,
ainda que essa acalmia seja utópica!
Engana-me e diz-me que estou enganado
que penso erradamente,
e está tudo exactamente como sempre esteve!

Meu mundo, ou mundo do meu passado
não me grites,
fala comigo docemente,
convence-me de que a realidade que eu agora vivo,
é um sonho mau, um terrivel pesadelo
e tudo, mas tudo, está igual ao do outro tempo
e despertarei para a verdade
e que em boa verdade, esta verdade, é uma mentira!

Diz-me mundo louco, ou serei eu que estou louco!?

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Se eu fosse pintor (Fado)


Se eu fosse pintor
pintaria uma tela
com as cores do amor,
do meu amor por ela
com a paixão em cada cor.

Mas eu não sou pintor,
creio que ela nem me quer
porque ela é uma linda flor,
eu nem jardineiro sequer,
sou somente um sonhador.

Continuarei a sonhar
porque o sonho é de cada um,
posso ser o que eu desejar,
é um direito a todos comum
deixem-me então sonhar.

Os sonhos serão utopia
que só o sonhador sabe,
podem ser de alegria
ou de algum amor que acabe
com saudade ou nostalgia.

José Carlos Moutinho
"Direitos autorais registados"

domingo, 26 de outubro de 2014

Ai...esta nostalgia de Angola





Ai…esta nostalgia sempre presente em mim
do feitiço que se entranhou na minha essência,
da minha Luanda de perpétua saudade,
das memórias belas que jamais têm fim,
das cores que dos meus olhos, são ausência.

Dizia-se que quem bebesse água do Bengo
ficaria eternamente preso aquela cidade,
por isso em mim tenho este doce dengo
que será meu companheiro pela eternidade.

Ai… Luanda, minha querida Luanda
foste a luz,  a cor, o cheiro a minha vida,
hoje estás diferente, até te chamam banda,
de qualquer modo,serás sempre muito querida,

E não sejas vaidosa e egoista, minha cidade,
porque a minha saudade e grande nostalgia
moram no meu peito em melancólica acuidade
por Angola, das vastidões verdes, minha alegria.

Ai….Angola que me prendeste profundamente,
jamais sairás do meu ser, ainda que eu quisesse,
sinto-me por ti enfeitiçado em doce sofrimento
hoje és livre, independente,  talvez eu regresse.

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Quando eu parti (Fado)


Era ainda um menino
quando deixei minha mãe,
segui meu destino
parti pra terras de além,
com a mente em desatino.

A Africa cheguei um dia
numa tarde de verão,
muita tristeza eu sentia
e anseio no coração,
minha aldeia eu já não via.

Porém linda era a cidade
que aos meus olhos se colou,
e com esta verdade
em mim  tudo mudou
floriu a felicidade.

Luanda dos meus amores,
Sol da minha juventude
jardim de muitas flores
teu povo tem virtude,
és tela de belas cores.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Mariposas loucas





Vendavais de nadas em vozes roucas
sopram luzes apagadas pelos breus,
são como mariposas que voam loucas
e embora tentem, jamais chegam os céus.

Voam, voam, sem procurarem destinos.
são seres inúteis, vazios e deslumbrados.
serve qualquer vitima para seus desatinos,
abocanham como abutres, os mais atinados.

Mas o sol e a lua desprezam tudo isso,
continuam a iluminar este mundo desvairado,
fazem de tudo para que ninguém seja omisso
a fazer da amizade e da honra, um tratado.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Vozes caladas





Os sorrisos caiam no chão do desassossego
E eram calcados pelas sombras do medo,
Caminhavam vozes pelo silêncio do vazio,
Acotovelando-se nas brisas do céu sombrio.

Pulavam em pés descalços do infortúnio,
Acutilando-se nas agudas pedras da raiva,
Cobertas pelas núvens negras de mau augúrio
E as chuvas gélidas mordiam como saraiva.

Buzinas e sons alucinantes ensurdecem
ouvidos moucos, comidos pela fome e frio,
corpos torturados pelas dores que padecem,
chão sem alvoradas,de cartão negro, doentio.

Gritavam com suas vozes caladas pela noite,
na escuridão da tristeza e injustiça da vida,
o eco trazia-lhes o som implacável do açoite,
que a ferida da alma, tão profunda, não sentia.

Os crepúsculos eram como tardes apagadas,
que lhes penetrava a essência humana,
vagabundos da miséria de sortes recusadas
a quem a vida lhes tem sido tão tirana.

José Carlos Moutinho

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Ó mar



Fala-me, ó mar dos teus mistérios
que em ti,escondes ciosamente,
terás certamente tesouros sérios
guardados no baú do teu ventre.

Quero de ti, ó mar, somente serenidade
aspirar em deleite o perfume da tua maresia
navegar-me nas tuas ondas com facilidade
ouvir teu marulhar como se fosse poesia.

Sentado na falésia dos meus pensamentos,
exorciso mágoas, traumas e desilusões,
penso-me timoneiro em vaga de lamentos,
capitão de sonhos em espuma de emoções.

José Carlos Moutinho

O cair da folha





Mudou o tempo, mudaram as estações,
desta corrida sem parar, pelas alvoradas da vida,
o cair da folha matizada pelo estio, de partida,
é o presente que nos é oferecido, sem emoções,
Mas tu, Outono, com tua gentileza vieste a nós,
embora agitado por ventos e chuvas intempestivas,
mas por culpa do verão morno e instável, sem voz,
de dias sem sol e de cinzentas tardes consecutivas,
Por isso Outono, vem doce, calmo, sem agressão,
com o colorido das folhas que atapetam o chão
e na tua acalmia serás o encanto do nosso sentir,
quando te contemplarmos no ocaso, a partir…
Gosto de ti, estação de belas folhas matizadas,
admiro a delicadeza das tuas folhas caducas
voando até ao chão como andorinhas cansadas,
não gosto quando te zangas e fazes coisas loucas…

Então com o cair da folha eu me deixo fascinar,
quero na quietude da minha essência te olhar,
imaginar-te pintada com as cores da paleta de ilusão
e absorver a brisa que me traz serenidade e emoção.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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