Quando meu último dia chegar
ao horizonte da finitude,
Olhem para meu corpo
adormecido na doce eternidade,
Não critiquem meus defeitos,
enalteçam alguma virtude,
Nem chorem piedosos, se não
for um sentir com verdade.
Na serena e derradeira visão
do meu corpo sucumbido,
Cantem baixinho e pensem,
ali poderia estar um de vós,
Não desesperem é a canção da
vida, em fado cumprido,
Eu ali prostrado, silencioso
sem vos ver, inerte sem voz.
Se me olharem olhos nos
olhos, com simpatia e amizade,
Verão o brilho dos meus
olhos, definitivamente apagado,
Sobre aquele corpo defunto, há
uma outra luminosidade,
Invisível, cintilante, farol
de paz com que fui contemplado.
Peço a todos os presentes
desta festa de minha despedida,
Que eu não seja ausência
muito longa das vossas memórias,
Podem rir, se quiserem por
eu me ter pensado poeta na vida,
Não me acusarão de hipocrita
e de criar esperanças ilusórias.
Entre muitos choros, alguns
sorrisos e tristezas, deste evento,
Amanhã, será novo dia para vós,
menos para mim, sou nada,
Parti ontem para um lugar
maravilhoso, longe, no firmamento,
Talvez volte à terra, se essa
missão à minha alma for destinada.
José Carlos Moutinho