segunda-feira, 28 de março de 2011

Recordações de um outro tempo




Abraço o silêncio das minhas saudades,
Agarro as recordações que teimam em esvair-se
E não consigo deixar de sorrir,
Pelos momentos tantos, que passámos,
Enamorados, ou talvez empolgados,
De que namorávamos.
Eram quimeras e alegrias sentidas,
Inocentes muitas vezes,
Mas imbuídas de paixão,
Sempre com grande ilusão,
Numa envolvência emotiva,
Que nos ultrapassava as vontades,
E contrariavam a razão.
…Ah, aqueles tempos da adolescência Irreflectida.
O bater do coração,
Na ansiosa espera da amada,
Para o primeiro beijo
E o primeiro abraço.
Como papoilas oscilantes,
Tremiam nossas pernas,
E as palavras tanto tempo ensaiadas,
Não surgiam.
No amplexo, tímido, os lábios que tremiam
Os olhos que se fechavam, no desejo,
Na ânsia, no clímax da sensualidade
Eram tempos de um tempo
Que jamais volta.
…Ah, que saudades!

José Carlos Moutinho

domingo, 27 de março de 2011

No silêncio dos pensamentos




Enrolo-me no silêncio que me ensurdece;
Deixo-me embalar pelo vento, que sopra
Suave, e que penetra pela janela.
O breu do céu, turva-me os olhos,
Os pensamentos galopam até mim.
Vagueio na solidão da tua imagem,
Que me sufoca, pela tua frieza.
Penso-te no beijo que me recusaste,
Mas os teus lábios, sedentos de prazer,
Desmentiam a tua vontade,
Eu sabia que me desejavas também.
Na minha mente, tu continuavas a desfilar,
Na tua imponência e beleza.
Estonteavas-me, quando te tocava,
Mas tu mostravas displicência,
Quando a tua vontade era de entrega.
A arrogância da tua vaidade,
Não te mostrava o óbvio,
Tu sem mim, serias só uma mulher,
Comigo, serias não só uma mulher,
Mas uma mulher amada.

José Carlos Moutinho



Serás sombra, serás mulher…




A neve tolda-me a visão da tua imagem,
Que me precede esbelta, ondeante
Como uma sereia nas ondas do amor.
Tens no teu caminhar, o encanto das orquídeas.
Tens a elegância, que deslumbra,
Pela ilusão da mais bela perfeição.
Serás real, tens corpo,
Ou serás simplesmente uma nuvem?
Talvez alguma sombra provocada,
Pelo sol do meu desejo.
Pode ser o eclipse da paixão;
Terei que sentir a brisa dos teus lábios,
Roçando os meus para te sentir no beijo.
Precisarei de te envolver na luz do meu querer
E receber o calor vibrante da tua vontade.
Quero que venhas até mim,
Deixa-me ser o teu ar,
E eu respirarei no teu suspiro.
Sugarei no teu hálito,
A essência da minha existência.
Assim, terei a certeza que és mulher
E não sombra, nem nuvem,
Sequer um eclipse.

José Carlos moutinho

sábado, 26 de março de 2011

Se calhar tenho algo de poeta



Juro que tentei, prometi-me,
Desistir de pensar em ser poeta.
Mas porque insistem em dizer que o sou?
Será por ironia ou só eu que não vejo.
Eu até sei sentir a brisa que me afaga o rosto,
Numa ternura da natureza
E me apraz olhar os lírios, as gardénias
E as rosas, como eu adoro as rosas,
De diversas cores….perfumadas,
De pétalas que se soltam ao vento,
Acenando ao mundo a sua beleza.
Adoro olhar o firmamento,
Nas longas noites de luar
E tentar contar as estrelas, que me piscam,
Como a quererem namorar-me.
Será então que tenho sentimento de poeta?
-Ah, não…sou uma fraude,
Que se ilude a si próprio.
Mas, espera:
- As pessoas não dizem que gostam do que escreves?
Então deves ter algo, bem lá no teu âmago
Que te sussurra poemas.
Talvez tenhas alguma coisa de poeta.

José Carlos Moutinho

Desisti de ser poeta




Hoje acordei com um certa ideia,
Imaginei-me um poeta a escrever;
Fui ao jardim e das rosas brancas,
Retirei as pétalas, e fiz o papel;
Para que surgissem as palavras,
Retirei das amoras a seiva, eis a tinta;
Como eu queria algo colorido,
Do arco-íris, retirei as belas cores;
Comecei a escrever, usando como pena
Um ramo, que extraí de uma bela acácia vermelha.
Com tudo pronto,
Vejo-me então no papel de poeta;
Tenho tudo, nada falta…
Mas havia-me esquecido de uma coisa:
A inspiração e agora,
O que faço e o que digo às pessoas
Que de mim esperam poesia?
Tento rebuscar na minha insignificância
Alguma ideia…e nada!
Recorro ao sol, peço-lhe que os seus raios belos
E luminosos, me inspirem.
Nada!
Chega a noite e a minha esperança renasceu.
Certamente a lua me inspiraria pois, não dizem os poetas,
Que o luar é base do romantismo e da poesia?
Mas eu continuava sem ideias.
Tentei arriscar, falando do mar e na sua beleza,
Mas do mar nada vinha,
Só o murmúrio das suas ondas,
Que me embalavam no pensamento,
De que afinal não sou poeta.
Não sabia dizer as palavras belas e sentidas
Para a pessoa amada.
Não conseguia enaltecer a beleza de uma mulher.
Nem tampouco descrevia que as flores,
São maravilhosas e que o seu perfume me inebriava.
Fiquei frustrado, afinal com tão belo sol
Encantadora lua,
As estrelas que cintilavam fulgurantes
E mesmo navegando nas águas do mar,
Nada me inspirava.
Desisti de ser poeta!

José Carlos Moutinho



sexta-feira, 25 de março de 2011

Como eu gostaria de ser poeta




Eu gostaria de ser poeta…
Mas como, se as palavras
Não me obedecem ao pensamento?
Se sinto alguma emoção,
As palavras falam de sentimento!
- Como eu gostaria de ser poeta…
Mas se eu penso no amor,
As palavras falam de ilusão.
Trocam-me as ideias e as vontades,
As palavras
- Como eu gostaria de ser poeta…
Mas a minha luta com as palavras,
É titânica.
Quero algo que fale de ti,
As palavras recusam-se,
E falam de mim.
Se quero dizer às palavras
Que quem manda sou eu,
As palavras negam-se a escrever,
O que eu ordenei.
Será que as palavras,
Não se enamoram de mim,
Porque acham que eu nunca serei poeta?
Vou desistir de lutar com as palavras
E deixarei de pensar em sê-lo.
- Ah, como eu gostaria de ser poeta….

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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