sexta-feira, 6 de maio de 2011

Meditando com as garças





Nas margens daquele lago de sonhos,
Desfilam altivas, nas suas longas pernas,
Garças multicolores das minhas ilusões;
Seu caminhar desengonçado,
Lembra-me o balanço da própria vida
E no desequilíbrio dos sentimentos,
Que se insinuam falsos e cínicos;
Vejo nas suas penas de diversas cores,
As cores negras das penas que a mentira causa
Na falsidade das emoções,
De gente que sorri, ofendendo
Que promete e jamais cumpre,
Que abraça friamente, no orgulho do seu ódio;
E as garças impávidas e indiferentes
Aos meus pensamentos,
Buscam com os seus longos bicos,
O sustento que a natureza lhes oferece,
Na luta pela continuidade da vida,
Porque as aves não odeiam,
Talvez só saibam voar e amar.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cartas amassadas




Escapam-se-me por entre os dedos,
Como gotas de chuva teimosa,
As cartas das minhas saudades,
Que recordam os minutos inolvidáveis,
De tantos instantes vividos,
Felizes alguns, sofridos outros;
Fecho as mãos, ficam papeis amassados,
Transformados num monte de nadas,
Contidos num mundo de sentimentos!
A mente voa, perdida, sem rumo,
Mas ansiosa por algo,
Talvez uma árvore, uma rua
Qualquer objecto que lhe mitigue a lembrança
E retorne com uma luz de esperança!
Abro as mãos, os papéis continuam esmagados
Inertes, sem respostas
Porque o seu conteúdo é passado
E este não volta, nas cartas deformadas,
Pelas mãos que se fecharam, desesperadas,
Pela resposta que veio no silêncio
E ficaram no chão,
Abandonadas!

José Carlos Moutinho

Ai, as palavras!




Hoje acordei desejoso de algo novo,
Talvez um belo poema de amor!
Tentei, mas as palavras não surgiam,
Ou se vinham, eram palavras vãs,
Insisti, pensando:
Porque não me visitam as palavras?
Mas nada aparecia,
Desconfiei que fosse da inspiração,
Não, sempre a tive…
São as palavras que teimam,
Sempre me disseram que sou poeta,
Ou será que eu afinal não sou poeta?!
Mas elas terão de ceder à minha vontade,
Nem que sejam palavras ditas à toa,
Embora não seja de bom-tom,
Palavras sem sentido,
Mas nem mesmo essas me acudiam;
Desesperei e supliquei ao deus da escrita:
Ajudai-me
Quero escrever um poema de amor,
Quero que a minha amada
Saiba do meu amor secreto;
E nada!
Afinal as palavras, venciam-me.
Nem belas palavras, nem más palavras
Admiti que nada sou, perante elas
As palavras dominavam-me
E se insistem que não nos hão-de socorrer,
Não aparecem;
Talvez um outro dia,
Eu tenha mais sorte,
Ou as palavras estejam melhores comigo
E com o meu estado de espírito.
Aceito que hoje perdi
E o belo poema de amor,
Ficou por escrever por vontade das palavras!
E a minha amada,
Continua sem saber do meu amor secreto.

José Carlos Moutinho



quarta-feira, 4 de maio de 2011

A vida




A alvorada despertou-me
No cântico das aves;
O meu coração cantava animado
E a minha alma entoava melodias!
Na minha mente surgias tu,
Bela, magnifica num quadro de Monet;
Tudo o que me cercava era de luz,
Brilhavam as folhas das árvores,
Cintilando em partículas de amor!
Despertava de um sonho,
Ou caminhava para uma nova realidade?
Sentia uma alegria intensa,
As lágrimas deslizavam pelo meu rosto,
Em minúsculas gotas de prazer,
Por viver e ser feliz
Não ter nada
E ter tudo,
A Vida!

José Carlos Moutinho

No oásis das minhas ilusões




Deixo os meus pensamentos
Elevarem-se com o fumo,
Que rodopia da espiral do cigarro
E nas caprichosas figuras
Desenhados no ar,
Os meus olhos
Sonham a tua imagem,
Numa mística dança do ventre,
Qual odalisca do pecado;
Rodopio de ancas e braços,
Dedos agitados em coreografia
De total sensualidade,
Numa entrega de total submissão,
Aos meus pés de sultão;
Mistura de cores e cheiros,
Ambiente inventado
No oásis das minhas ilusões;
As dunas de emoções
Contidas no deserto carente
Da minha alma, transcendem-se na euforia
Dos sentidos desvairados pelo prazer
Extasiados pelo entorpecimento
Do fogo que me assola,
Como um vulcão, em explosão.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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