segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Anseios





Sinto em mim…
uma louca ânsia
de soltar as palavras da minha mente
e colá-las no papel alvo
que se estende na minha frente,
fazer da inércia das letras,
poesia viva
que invada os corações
em transbordante alegria de sentimentos,
Inventar melodias
cantadas pelo silêncio do poema,
irradiadas pela luz vibrante da emoção!

Aquieto meu desassossego,
porque serenamente, as palavras
vão-se metamorfoseando,
perante os meus olhos fascinados,
em delicadas estrofes metafóricas,
perfumadas de doces ilusões,
tornadas reais pela frescura dos versos
que me são dadas sentir e tocar
e que se aninham no papel,
antes branco do vazio
e agora florido e colorido
pelas palavras,
que eu tanto ansiava,
soltar de mim.

José Carlos Moutinho

domingo, 30 de novembro de 2014

Versos sem sentido (Fado)





As noites eram vazias
das horas que se ausentaram
com o cansaço dos dias,
silêncios que calaram
tudo o que tu me dizias.

Quando a aurora chegar
com alegria ao meu sentir,
traz a luz que vem do mar
p’ra meu coração sorrir
neste novo caminhar.

Na maresia eu respiro,
com a brisa a afagar-me
no luar eu suspiro
sem querer agitar-me,
é assim o que eu prefiro.

De palavras vãs e frias,
nunca mais quero saber,
parecem marés bravias
sem nada p’ra oferecer,
porque são doentias.

José Carlos Moutinho
10/11/14

sábado, 29 de novembro de 2014

Sonhei, gaita!





Sonhei!
Um sonho tão maravilhoso que me deixou eufórico,
Saltei da cama, vim à janela,
A alvorada tinha despertado,
E os seus raios luminosos
Já iluminavam as almas…
Trimmmmm…maldito despertador!
Acordei!
Acordei para a triste realidade
De que o sonho tinha sido uma ilusão!
Portugal continuava o mesmo,
As pessoas com semblantes tristes,
Gente andrajosa, tiritando de frio,
Estômagos colados nas costas, com fome!
Gaita!
Porque sonhei uma coisa destas,
Seria por provocação à minha essência?

Pus-me a pensar da razão de tal sonho
e surge-me à mente decepcionada, esta revolta:

Que me importa que o Afonso primeiro
Tenha corrido à espadeirada os mouros?
Se hoje somos nós os corridos
pelos afonsos da incompetência!

Que me importa que a padeira
Tenha rachado cabeças aos castelhanos?
Se hoje as cabeças rachadas são as nossas
pela falta de emprego!

Que me importa que o Vasco da Gama
Tenha descoberto o caminho marítimo para a India?
Se hoje são os nossos jovens
que tentam descobrir o caminho do seu futuro!

Que me importa que tivéssemos um Império,
E dado novos mundos ao mundo?
Se hoje não temos pátria, nem emprego, nem lar nem futuro!

Que me importa que digam que os cortes
dos salários, da saúde, da educação,
são para garantir o futuro do país,
se esbanjam em interesse próprio?
O nosso futuro é HOJE.
Temos de comer e não temos.
Queremos empregos e não temos.
Queremos um lar e perdemos o que tinhamos!

O que me importa…
O que realmente me importa é que recuperemos a dignidade
e o direito de sermos tratados como humanos
e cidadãos de pleno direito,
neste triangulo terrestre a que chamaram
jardim à beira mal plantado,
e que hoje não passa de um campo de flores murchas,
secas à mingua de esperança.

O que me importa é que haja vergonha
e responsabilidade, sem demagogia,
e que a política seja usada para bem da Nação
e não dos partidos e afins!

José Carlos Moutinho
29/11/14

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Estou cansado





Sinto que começo a sentir-me cansado,
não me perguntem a razão do meu cansaço,
só sei que estou confuso com vaidades
que nos ultimos tempos tenho observado
e sinto insinuosa, uma brisa,
não daquelas que afagam docemente,
mas sim, daquelas gélidas, penetrantes
que nos congelam o coração
e entorpecema alma,
obrigando-nos a pensar na verdade
dos sorrisos e dos amolecidos abraços
e das ironias que entre as luzes da ribalta
se colam nas nossas costas!

Começo a sentir-me cansado
da minha tolerância, perante a petulância
e irritado pelo protagonismo
dos que se ousam atrevidamente
entre searas de dourados trigais,
sem arte para a plantação,
nem sequer foice, para a colheita!

Estou efectivamente cansado
e envergonhado pela minha complacência
perante tanto nefasto joio,
que infesta as plantações de amizades
e as faz secar pelos campos do futuro!

Desculpem este meu cansaço
e este meu sentir entristecido,
sei que com o advir da Primavera
relaxarei este meu cansaço
e talvez, deixe de continuar cansado!

Agora estou francamente cansado
e profundamente irritado!

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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