sexta-feira, 12 de agosto de 2011

As rugas das minhas mãos




Olho as minhas mãos, rugosas
Pelo tempo, que entre os meus dedos
Tem escorrido,
Numa correria interminável,
De desejos por cumprir!
Secam-me os dias de esperança,
Pelos sonhos esmorecidos,
No desalento do sono!
Pelos meus dedos, agora adormecidos,
Passaram rios de ilusões,
Transbordados por praias vazias,
De momentos perdidos!
Quisera fechar as mãos e segurar
Todo o mar, que me quis inundar
Quando eu era o deserto de mim!
Aperto os dedos e somente escuto o ranger
Dos ossos entorpecidos,
Pelas horas que por eles cruzaram,
Enroladas nos minutos velozes,
Amordaçadas nos anos corridos!
E contemplo as rugas das minhas mãos,
Lendo em cada traço um caminho,
Na busca do oásis do deserto,
Que o mar não inundou.

José Carlos Moutinho

Contraste nas ideias imaginadas




Começo a escrever, sem nada preconcebido.
Tento encontrar nas ideias,
Algo que me satisfaça e que seja razoável;
Penso em amor e logo me surge,
Paixão, ilusão e desilusão!
Se à mente surge a imagem do mar,
São as ondas que se vêm desfazer em espuma,
Na dourada areia da praia!
Se me lembro dos infelizes,
Vejo com mágoa as pessoas que por aí circulam,
Almas penadas, oscilantes nos esquálidos corpos
E recuso-me a pintar essa imagem!
Volto-me para a natureza, sempre bela,
De cores fascinantes,
Voam as aves multicolores,
Nos seus chilreios de belas melodias!
Ah…agora sim, vislumbro com clareza e acuidade,
O sorriso que baila nas bocas das pessoas,
Que passam, alegres, felizes…
Porque são indiferentes,
Aos esquálidos que tremem de frio,
Porque as suas roupas,
Simplesmente são trapos, esfarrapados;
Talvez um dia tenham sido roupas,
Jogadas ao chão sujo de qualquer rua!
E os que passam, sorriem…
Quiçá de vergonha;
Falta de partilha com quem deixou de sorrir,
Talvez até de chorar,
Porque se esvaíram na solidão do sofrimento,
Perderam as lágrimas
E o sorriso é esgar de dor,
Nos lábios ressequidos pelo desespero!
E as ruas enchem-se de gente que sorri,
Que se cruzam com aqueles que choram,
Esvaziados de tudo,
Quem sabe se da própria alma!

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Insatisfeitos…




Chegou o verão e logo reclamam,
Está um calor horrível, insuportável,
No Inverno…que frio, exclamam
Não sabem o que querem afinal.

Como dizia o outro, em tempos.
É preso por ter cão e por não ter.
O quente provoca contratempos.
O frio atormenta-os a doer.

Se é próprio desta época estival,
Nada mais a fazer que aguentar,
Porque não tarda vem o frio aluvial,
E então é que é de arrepiar.

José Carlos Moutinho

Desalento nas palavras




Frequentemente, começo a escrever
E penso fazer um poema transcendental,
Tenho em mim a ideia a amadurecer,
Mas quando me inicio algo corre mal.

A beleza das palavras, em memória,
Esfuma-se nas asas do esquecimento,
A inspiração, teima na mesma trajectória,
Sem a alegria e a emoção do sentimento.

Invento, troco palavras e metáforas,
Num desespero em criar o belo,
O que me ocorre são palavras ásperas,
Que me fazem arrancar fios de cabelo.

Por vezes tudo sai lindo, como o luar,
Outras, até a estrelas deixam de brilhar,
Tenho a força de Hércules para lutar,
Por isso, insistirei no desejo de criar.

Gosto de metaforizar utopicamente,
Usar termos de paixão e encantamento,
Quando não acontece, torno-me demente
E levo-me nas águas frias do desalento.

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Chuva de felicidade




Chove!
Suavemente chove…
Chuva de gotas miudinhas.
Que percorrem o meu corpo;
Sinto-me bem sob esta chuva,
Cuja melodia me afaga a alma
E me leva pelas nuvens dos sonhos!
De pés descalços,
Acariciados pela areia molhada,
Vagueio pela praia;
A chuva docemente beija-me o corpo,
Fascino-me na espuma alva das ondas,
Que vêem desmaiar a meus pés;
Flutuo no prazer da paz que me envolve,
O riacho de chuva que desliza por mim
E me alaga os sentidos,
Transmuta-me para um paraíso,
Quiçá, por inventar!
Esmorece a chuva, qual mágica;
Espontâneo, sorrindo, surge o sol,
Riscado pelas belas cores do arco-íris;
Total deslumbramento;
Grato, pela dádiva da vida
Faço da areia o meu leito,
Que me acolhe carinhosamente
E descanso na felicidade!

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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