terça-feira, 11 de novembro de 2014

Uma certa Aldeia nos montes





Das arribas do Douro,
sopra gélido, o vento,
ar seco, cortante e puro
e sopra, sopra, num lamento!

O seu frio crispa as mãos,
sulca os rostos como um arado,
invade o silêncio da solidão
daquele inóspito lugar, tão isolado!

E o vento sopra, inexorável,
Penetra pelas frestas das casas em ruínas,
carcomidas pelo tempo,
esse mesmo tempo,
que desertificou aquela pequena aldeia,
perdida no alto da serra,
no meio do nada, que certamente,
tantos mistérios encerra!

Heroicamente, poucos vão resistindo
ao isolamento silencioso,
onde vivem, entre escombros,
que só o silvo do vento
e o ladrar dos cães faz despertar,
para uma realidade fenecida, sem futuro!

As suas almas são fráguas de luta,
aonde a esperança, ainda se aconchega,
porque aos corpos decrépitos,
resta-lhes a força para se arrastarem!

Esta aldeia no nordeste transmontano,
onde meus olhos sentiram muita tristeza,
porque a realidade não era um engano,
meu respeito a este povo de tanta nobreza.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Canção com flor e canela (Fado)



Este sol que aquece a alma
nas areias da praia,
da saudade que acalma
e alegria que distraia
o amor que em mim se espalma.

A brisa acaricia
os meus pensamentos,
prazer que não sentia
desde outros tempos
nesta doce poesia.

Escuto o marulhar
como uma melodia,
será desejo de amar
ou talvez sintonia
na vontade de cantar.

Canto, canto sem parar,
diz-me alegre a ondulação
deste azul e belo mar,
que eu cante uma canção
com um poema de amar.

Criei a estrofe mais bela
com lindos versos de amor
e carinho a pensar nela,
enfeitei com muita flor,
perfumei com canela.

José Carlos Moutinho
*Res.direitos autorais*

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Bate coração (Fado)



Não chores coração meu
fala-me da tua dor
porque o meu sentir é o teu,
se é saudade de amor
não doi, o que já doeu.

Vamos juntos e animados
soltemos nos ventos
nossos ais magoados,
cantemos nossos lamentos
seremos acalmados.

Eu e tu, somos um só
meu coração valente,
se estás triste eu tenho dó,
sem ti, estou descontente
sou nada, tal como o pó.

Bate bate, coração
calmo mas vigoroso,
tens a força de um leão
não sejas temeroso
porque só tu tens paixão.

José Carlos Moutinho

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Navegar em águas de sonhos






Águas cristalinas deslizam docemente
Pelo leito dos seus sonhos,
Acariciam as margens dos seus pensamentos
E cantam melodias pelas cascatas
Dos seus sentimentos!

Pelo seu leito de paixões,
Correm imparáveis os fluidos de amor
Na ânsia de abraçarem as ondas do mar,
Que os esperam no amplexo da saudade!

Navegam suavemente,
Afagados pela brisa dos desejos,
Devaneios e sorrisos de prazer,
Na busca da felicidade
Do amor, sem âncoras!

Na foz da esperança,
Abrem-se marés de acolhimento
No marulhar sereno do mar aquietado
Pelo calor vibrante dos corações!

Na união das águas fluviais, com o oceano,
Explodem os sentimentos contidos
Nas margens da vida
Pelas amarras das desilusões,
E fundem-se na paixão
De um amor liberto,
Que agora solto,
Navega pelo dorso das cintilantes águas
Deste mar que sorri ao sol do porvir.

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Minhas mãos, minha Bandeira



Abro minhas mãos calejadas pelo tempo,
delas, soltam-se folhas matizadas de ilusões
que o tempo não conseguiu destruir,
…e as folhas alegres e saudosas voam
sobre as minhas mãos,
deixando cair pétalas de recordações!

Este meu tempo de agora,
plantou nas minhas mãos,
árvores de raizes profundas
de onde as folhas verdes de esperança
se metamorfosearam em realidades!

Mas as minhas mãos vincadas
pelo sol, que acalorou minha vida
abrem-se serenas e gratas
pelos afectos
com que foram contempladas
pelos caminhos dos abraços!

As minhas mãos marcadas
geograficamente pelos rios
de sangue, da fonte da minha essência
E por intensos sentimentos,
são o mapa da minha existência!

Que na minha partida
deste mundo terreno para o metafísico,
as minhas mãos entrelaçadas
sejam bandeira das vidas
material e espiritual
com que fui agraciado.

José Carlos Moutinho

domingo, 2 de novembro de 2014

Viajei pelo mundo (Fado)



Viajei pelo mundo
tanta gente conheci,
com um olhar profundo
muita alegria eu vivi
não sendo um vagabundo.

Vi dor em muitos rostos
pela vida amargurada
por tantos desgostos,
felicidade negada
pelo destino, impostos.

Aceitei sorrisos
e abraços fraternos
em momentos precisos,
que p’ra mim serão eternos
nunca faço juizos.

Muitos outros vi chorar
de alegria ou de dor,
tantos ouvi cantar,
de tristeza ou de amor
p’lo mundo em meu viajar.

José Carlos Moutinho
*Res.direitos autorais*

sábado, 1 de novembro de 2014

Quem és? (Fado)



Não sei quem és, nem de onde vens,
serás folha ou lamento,
diz o que de bom tu tens
serás sopro do vento
ou segredos que em ti conténs.

Tuas mãos são rosas
perfumadas de afagos
suaves mariposas,
olhos teus são dois lagos
teus seios doces prosas.

Ainda não sei quem és
e talvez nunca o saiba,
escondeste os teus pés,
minha acalmia acaba
condeno-te às galés.

Deixaste-me por fim
ver-te inteira e graciosa,
de lábios cor carmin
cara maliciosa
nunca vi um corpo assim.

José Carlos Moutinho
*Reserv.direitos autorais*

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Navego em mim





São sombras, são murmúrios
que me invadem o sentir
num silêncio doce de afago,
abraçam-me na minha solidão
e aconchegam-se na minha alma!

Calam fundo as minhas palavras,
aquelas palavras esmorecidas
pelas tardes vazias da minha vida,
que perderam a voz da serenidade
e se tumultuam em inquietudes,
que só os luares dos meus anseios
iludem com a utopia das estrelas!

Alvoradas das minhas Primaveras
nascem pálidas, cansadas, sem sol,
turvadass pela luz diáfana das quimeras,
perdem-se nas maresias sem farol!

Navego em mim pelas veias do meu rio,
fluxos vermelhos da minha essência,
por vezes cálido, outros com muito frio,
sou tenaz timoneiro da minha existência,
desistir é fraqueza, continuar é desafio,
encontrarei o remanso da minha resiliência

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Tu me disseste fadista (Fado)


Ai se eu fosse poeta
faria a mais bela canção,
com flor em cada letra
do jardim do meu coração
p’ra minha amada secreta.

Fadista, eu não sei escrever,
Outro, deves encontrar,
tenho pena podes crer
mesmo assim eu vou tentar
pode até acontecer.

Um dia eu me aventurei
nem me saí muito mal,
era um fado em que falei
de amor, coisa natural
e com coragem cantei.

Bem sei que foi uma vez
tu me disseste, fadista
com alguma rispidez,
que eu não era letrista
parar, era o melhor, talvez.

Claro que fiquei triste,
procurei outro do fado
que visse o que não viste,
me deixasse animado
e me dissesse, insiste.

José Carlos Moutinho
*Reserv.direitos autorais*

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Horizonte da Finitude





Quando meu último dia chegar ao horizonte da finitude,
Olhem para meu corpo adormecido na doce eternidade,
Não critiquem meus defeitos, enalteçam alguma virtude,
Nem chorem piedosos, se não for um sentir com verdade.

Na serena e derradeira visão do meu corpo sucumbido,
Cantem baixinho e pensem, ali poderia estar um de vós,
Não desesperem é a canção da vida, em fado cumprido,
Eu ali prostrado, silencioso sem vos ver, inerte sem voz.

Se me olharem olhos nos olhos, com simpatia e amizade,
Verão o brilho dos meus olhos, definitivamente apagado,
Sobre aquele corpo defunto, há uma outra luminosidade,
Invisível, cintilante, farol de paz com que fui contemplado.

Peço a todos os presentes desta festa de minha despedida,
Que eu não seja ausência muito longa das vossas memórias,
Podem rir, se quiserem por eu me ter pensado poeta na vida,
Não me acusarão de hipocrita e de criar esperanças ilusórias.

Entre muitos choros, alguns sorrisos e tristezas, deste evento,
Amanhã, será novo dia para vós, menos para mim, sou nada,
Parti ontem para um lugar maravilhoso, longe, no firmamento,
Talvez volte à terra, se essa missão à minha alma for destinada.

José Carlos Moutinho

Sentimento (Fado)


O frio mordia
naquela escura noite,
o meu corpo sentia
dor como um açoite
na minh’alma que gemia.

Era de saudade,
mais que do frio,
ou talvez ansiedade,
e eu estava tão sombrio
naquela escuridade.

Adormecida a noite,
os raios da alvorada
despontavam com afoite,
chegava a madrugada
depois de triste noite.

Ciclo de vida e do tempo,
após o breu, vem a luz,
a cantar ou em lamento
tudo em nós se traduz,
em modos de sentimento.

José Carlos Moutinho
*Reserv.direitos autorais*

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Ai, mundo



Porque te enfureces mundo
se o sol brilha a todo o instante,
porque gritas blasfémias
se a Lua a cada noite nos acalma
com a serenidade do seu manto?

Bem sei que por vezes tens razão,
está tudo transformado,
o que antes, era honra, hoje é vulgaridade,
a palavra que era como um certificado
hoje não passa de coisa sem valor,
a hipocrisia de antigamente era mais discreta
mas actualmente é acutliante e descarada!

Mesmo assim, mundo,
ainda temos a esperança ou ilusão
que volte tudo ao que era,
que a amizade seja tão sincera como dantes
e não tão falsa, como agora!

Anima-te, meu mundo
eu estou contigo,
pois não conheço outro mundo,
por favor, modifica-te
e deixa-me viver calmamente,
ainda que essa acalmia seja utópica!
Engana-me e diz-me que estou enganado
que penso erradamente,
e está tudo exactamente como sempre esteve!

Meu mundo, ou mundo do meu passado
não me grites,
fala comigo docemente,
convence-me de que a realidade que eu agora vivo,
é um sonho mau, um terrivel pesadelo
e tudo, mas tudo, está igual ao do outro tempo
e despertarei para a verdade
e que em boa verdade, esta verdade, é uma mentira!

Diz-me mundo louco, ou serei eu que estou louco!?

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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