sábado, 19 de novembro de 2011

Gavetas da minha memória




Abro as gavetas da minha memória,
Retiro papéis velhos amarelecidos,
Revejo livros ressequidos e desbotados,
Pelo tempo, corroídos na voragem dos dias,
Amontoados em anos de emoções,
De muitas ilusões, outras desilusões,
Formando uma manta de retalhos de sentimentos,
Que agora, são relembrados neste abrir de gavetas,
Por tanto tempo fechadas,
Pelos sóis que não abriram,
Ou pelos luares que escureceram,
Ou talvez pelas ondas que deixaram de me murmurar,
Palavras de paixão, nas areias da minha solidão,
Naquela praia imensa de um mar infinito,
Que me fazia navegar em pensamentos,
Sobre um azul cintilante de imaginadas quimeras;
Mas o tempo, cruel, foi apagando essas lembranças
E agora, aqui, com a saudade na alma,
Embrenhado nestes papéis velhos,
Esbatidos e amarrotados,
Vivo os instantes que o Universo me concede,
Na esperança que os sóis voltem a brilhar
E os luares me enfeiticem,
No prateado da sua luz mística.

José Carlos Moutinho

3 comentários:

  1. Revejo as minhas emoções nesse maravilhoso poema!
    Estou dorida, incapaz de me expresar.. tipo um novelo de lã com fios emaranhados!
    Como eu entendo o que escreve... ando há meses a arrumar gavetas, vou viajar, viver mais uma vez em Àfrica (creio que existe na minha vida algo ciclico..).Senti necessidade de me despedir de tudo o que fui guardando ao longo de mais de 30 anos..tantos "tesouros" esquecidos...as cartas do Pai-Avô que me criou, os meus rabiscos... porque eu não escrevo, só sinto... As cartas escritas pela minha Mãe há 25 anos... exactamente quando me encontrava em Àfrica - Moçambique. Dois pilares que já perdi..o Primeiro pela idade, a Primeira....por quem ainda choro todos os dias há cerca de 370 dias...Não a vi envelhecer, e a dor de não a ter quase me rouba a vontade de viver!!! Como posso eu partir?!?! Escuto-a como há 25 anos atrás: Vai e tem coragem, eu estarei aqui à tua espera se algo correr mal! E, em pranto enrolando nas mãos o que passou pelas mãos dela, pergunto: "E AGORA Mãe, e AGORA?!" Telefono todos os dias à mesma hora...atende quem comigo chora.. e chora!
    Incrivel este fim de semana vou, porque o meu Pai me pediu, pela primeira vez abrir as gavetas que devem conter "tesouros" com mais de 50 anos, as minhas cartas, os meus rabiscos...Comigo a Vida é cruel, porque não me deixa apagar da memória o que eu queria por momentos esquecer..para me lembrar de mim!

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  2. Desculpe, pode por favor indicar-me onde posso comprar os seus dois livros?

    Obrigado,
    Ermenilde Cipriano
    (Errata: Expressar. No comentário anterior, ao poema "Gavetas da minha memória" escrevi expresar , foi a pressa..
    ermenilde.cipriano@gmail.com

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  3. Ermenilde...eu já lhe respondi pelo facebook.
    Pode adquirir os meus livros, enviando-me o seu endereço. Poderá fazer o pagamento através do meu nib.

    Beijinho

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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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