Do alto da minha janela,
deixo o meu olhar cansado,
vaguear pelos campos secos,
de amarguras cultivadas,
onde antes existia o verde
da esperança,
resta o restolho da tristeza
plantada!
Desvio os meus olhos desta
imagem desapiedada,
abraço com o meu olhar, o
rio, plácido no deslizar de suas águas,
onde os desalentos se
refletem no dorso das desilusões,
outrora caudais de glórias
que inundavam almas bravias
de gentes altivas de valores
consagrados!
Os tempos mudam...
As águas correm indiferentes,
o sofrimento é pertinaz!
As emoções são outras,
intempestivas,
a razão é coisa estranha,
deturpada pela vaidade e
presunção!
Semicerro os meus olhos
extenuados
pelo cinzento do infinito,
de nuvens negras,
brumas que ofuscam um tempo
que não volta
e nos atrofiam este viver
desassossegado!
Definitivamente cerro os
olhos,
deixo de olhar
não desejo ver mais nada...
Quero apagar a imagem deste
mundo
e deste tempo de agora...
E penso-me na ilusão de um
outro viver,
de tons encantados, onde o
sol seja o sorriso
e o luar a felicidade,
onde não exista a escuridão torpe
deste desatino que nos é
fadado!
José Carlos Moutinho
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