domingo, 4 de janeiro de 2015

Não me interessa





Deixo-me levar nas asas dos sonhos
pelos rios serenos da imaginação
em caudais fulgurosos de encantamento.
Ignoro as margens secas das desesperanças
porque o amanhã é hoje, duro e cru,
recuso olhar os olhares tristes e vazios,
vazios de tudo o que eu possuo arrogantemente,
não lhes estendo a manta que me cobre do frio
porque eles têm uma pele
que os sustem em pé teimosamente!

Velejo na minha presunção
em canoa de vaidade e displicência,
não ouço os gritos de desespero
dos que mergulham definitivamente
no anseio de acabarem o sofrimento
que os prende a este miserável mundo!

Ignoro os corpos fenecidos pela fome
não me interessa que tremam congelados 
se eu me envolvo em roupas de marca.

Que desistam da vida,
que nascessem em berços de ouro, ora!

Não quero saber se os seus pés enegrecidos
se rasgam no chão acutilante
pela ausência de solas nos sapatos rotos,
O que me interessa é ter os meus pés
bem quentes e aconhegados confortavelmente!

Não me interessa nada do que vejo,
sinto ou cheiro em meu redor,
porque não quero ser envolvido
por toda esta podridão!

Não me interessa! não quero saber!
Eu sou um ser terrestre privilegiado,
que quando partir desta vida de loucos…
…serei igual ao mais pobre indigente,que ignorei,
com a minha abominável empáfia.

José Carlos Moutinho

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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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