Ai esta saudade
que me turva o pensamento
e me dói na alma...
Não entendo porque a nostalgia
me escurece a visão,
se o sol brilha no firmamento
e porque razão a melancolia
entra em mim como vendaval frio,
em tempo de acalmia...
Ai, esta saudade que me apoquenta
e me comprime o peito
na lembrança dos caminhos coloridos
e do pó vermelho da minha alegria,
dos longes que eu percorri
que se tornaram perto de mim
quando os conheci,
do som melancólico e melodioso do batuque
e do choro do quissanje
em noites vestidas de breu...
Ai, esta saudade que me transporta à lonjura
deste meu viver,
e recua ao tempo irreverente
da minha felicidade e rebeldia,
das prosápias de adolescente
e das paixões assolapadas...
Ai, esta saudade que agora me persegue
com a acuidade do tempo perdido
por onde certamente não mais passarei
mas que obriga a minha mente
à saudosa dor de a recordar eternamente
pelo sol matizado e único do pôr-do-sol
do miradouro da luz…
Ai, esta saudade
que me castiga pela ausência
das tépidas águas das praias da minha juventude
quando Luanda, como mãe
me abraçava carinhosamente
e as acácias floridas de vermelha cor
me abrigavam dos amores não correspondidos…
Ai, esta saudade que me dói
só de pensar que sinto saudade…
Quero voltar a ti, terra dos meus encantos,
que me acolheste certo dia, de Verão
e me ofereceste alegremente o teu coração…
Depois…
Deixei-te, Angola querida
um certo dia, que não era Verão,
fui forçado a abandonar-te,
deixei, porém, o meu coração
juntamente com minha alma,
naquela velha mulembeira
plantada na rua das missangas
José Carlos Moutinho
30/3/18
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