quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Silêncio displicente




Escuta…tu aí
Sim…tu,
que transformas os teus sonhos
em palavras escritas nas margens
dos teus anseios,
porque receias plantá-las
nos jardins, que achas especiais,
e aos quais, pensas, não ter direito!

Embora te atrevas, corajosamente,
a atravessar os rios turbulentos,
encontras, quase sempre,
do outro lado da ponte,
dificuldades, que te forçam a retroceder,
ou então, dada a tua resiliência,
aguardas pacientemente
que te abram o caminho,
mas logo, se deparam mais e mais obstáculos,
numa incessante provocação à tua paciência!

E tu, teimoso, insistes
(Nem te passa pela cabeça desistir)
em construir castelos
com as palavras que vais acarinhando,
uma a uma, saídas do imaginário da tua mente,
e formas emotivos poemas,
interessantes contos, ou apaixonantes romances…
Enfim, tudo o que a tua essência te dita,
e que tu, ciosamente,
vais elaborando com carinho
e depositas, esperançosamente,
nos livros, alicerceados pela tua emoção!

Então, depois de editados alguns livros,
humildemente, vais pensando
que irás conseguir encontrar um lugarzinho ao sol
no tal jardim que pensavas especial,
ou que conseguirás atravessar a ponte
com mais facilidade,
mas…
reparas que, tudo continua na mesma,
e que o teu esforço de continuidade
não mereceu o mínimo interesse
por parte de quem faz escolhas,
compreenderás, então, desoladamente,
que nessas escolhas, só por milagre,
serás engajado,
pela simples razão de não pertenceres
ao clube dos notáveis ou dos sortudos
deste mar revolto da literatura!

Que te resta a ti, sonhador,
continuar a implorar a venda
do que criaste com paixão
e receberes incompreensão
em respostas desagradáveis,
algumas vezes até, seres ignorado
numa desfaçatez confrangedora?

Há também a opção da desistência,
definitiva,
ou então, a de passares
o resto do teu precioso tempo
a escrever e a fazer das tuas obras,
areias perdidas num deserto inóspito,
onde a possibilidade de encontrares
o teu oásis é tão remota,
como descobrires um grão de areia
no fundo do mar,
das tuas desilusões.

José Carlos Moutinho
30/9/19

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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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