Naquela aldeia pequenina, alegre
Que em meu coração permanece,
Numa bela manhã de Primavera,
Fecundou a raiz da árvore da minha eternidade!
Ouviu o meu primeiro lamento feito choro,
Sorriu com o meu primeiro sorriso de alegria,
Pela luz que me era oferecida;
Aquela pequena aldeia de tanto encanto,
Engalanada por choupais de frondosas copas,
Altiva na sua nobreza,
Ostentada no seu belíssimo Palácio oitocentista;
Ah...aldeia da minha meninice...
Sinto ternura e um vibrar emocionado
Na minha alma, sempre que estou em ti!
A minha escola, altaneira, majestosa,
Que me ensinou as primeiras letras;
Tanto brincamos, no largo do Cruzeiro
Recordas-te, aldeia companheira?
Um dia sofreste pela perda da tua igreja,
Chamada de S. Sebastião, o mártir,
Destruída pela força das chamas devoradoras,
Hoje transformada em decorativa torre do relógio!
Ai, minha querida aldeia...
Tão transformada estás agora, nem pareces tu.
O palacete onde tive a felicidade de vir ao mundo,
Pelo acaso que o Destino me traçou,
Esconde-se por detrás de muros sem alma,
Vindos de uma época de revoluções paridas,
Apelidadas de democráticas.
Mas tu, minha querida aldeia,
Fazes-me sentir por ti, o amor que morrerá comigo!
Lembras-te, aldeia minha
Daquele dia em que o Rio Tejo se revoltou comigo?
Foi um susto, bem sei, talvez um aviso,
Porque o Tejo quer-me a vê-lo
E a visitar-te,
Sobralinho,
Tu és o meu chão, a minha alma,
És eternamente a minha pequena aldeia.
José Carlos Moutinho