quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ausência sentida




As tuas palavras emudecem
na fronteira da estrada que te ausenta de mim!
O perfume doce do teu corpo dissipa-se nas nuvens
que respiram o pó dessa estrada!
Os teus olhos têm o brilho das tardes cansadas
e os teus abraços são pétalas ressequidas,
de rosas esmorecidas,
pelos ventos do deserto,
Onde os oásis se fizeram rochedos!
O mar onde me espelho desassossega-se,
na intranquilidade do meu olhar,
que se alonga na saudade de ti!
Tento sorrir, mas a minha boca contrai-se
num esgar de dor,
que me estremece!
Pensamentos que me tomam,
em bandos de pássaros tresmalhados
chegam-me em soluços de angústia,
por tantos sois de luz fria e apagada
e luas escurecidas pelas nuvens do desalento,
em vendavais de desencontros
e tempestades de areias de orgulho escondido.

José Carlos Moutinho

Recordar Angola




Quando ouço dizer poemas e cantares de Angola,
A minha alma entristece-se na saudade que a magoa,
No recordar dos sons que brotavam da terra,
Como mágicas sinfonias, nos batuques da vida
E nos gemidos que o coração sentia,
No dedilhar do som chorado do kissange!
Apertou-se-me o coração no querer rever,
Aqueles chãos vermelhos,
De um vermelho de sangue,
Das lutas travadas inglórias e injustas,
Por gente com ambições desmedidas,
Que aniquilaram povos,
Cuja culpa era estarem vivos!

E nestas recordações que me choram a alma,
Revivo as belezas de Angola,
Pelas picadas do meu encanto,
Extasiado pelos cheiros fortes
Dos frutos tropicais de garridas cores,
Que me saciavam a sede
E no deslumbramento
Das florestas virgens, da minha alegria,
Pela exuberante e fantástica fauna,
Que me encantava na sua liberdade
E das praias de águas quentes,
De areias onde nos apaixonávamos.

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 27 de abril de 2012

A tua pele de fogo




Chegaste na tarde quente de verão,
Agasalhada pela tua pele de fogo,
Que se faz desejar,
No meu corpo frio da espera de ti!
Deslizas por mim, como lava que escorre
Do vulcão da tua louca vontade de entrega,
Que se funde na minha ânsia em ti!
Moldas-te escaldante, como serpente
Ao meu corpo...
Enroscas-te na tremura dos meus braços,
Colas-te aos meus lábios,
Que fervem ao toque dos teus,
Num frenesim!
Soltam-se delirantes os meus pensamentos,
Levados pela emoção do teu vibrar palpitante
E entregamo-nos ao delírio,
De uma paixão incontrolável,
Em volúpia de suor, dor e prazer,
Que se perde na razão do consciente
E se entrega à razão da carne!

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Estaria eu louco?




Quando hoje passeava pelo parque,
Descontraído olhava as árvores,
Escutava o chilrear das aves,
Sentia a brisa acariciar-me o rosto,
Sussurrando-me cintilações estelares!

Continuando no meu caminho sem rumo,
Pensei sonhar, mas eu caminhava...
Não...não sonhava!
Pelos meus ouvidos deslizavam sinfonias,
De melodias de sorrisos humanos!

Parei para confirmar e despertar desse sonho,
Que na verdade não o era!
As pessoas riam, falavam, sorriam!
As crianças brincavam, corriam, gargalhavam!
O mundo que antes estava cinzento,
De repente clareou em total deslumbre;
O sol aparecera em forma de sorrisos,
Que as plantas absorviam,
Transformando-os em belas cores,
Criando o mais doce néctar,
Que as aves beijavam
E dos seus bicos adocicados,
Saiam belas árias!

Era total a mutação na terra,
Antes sofrida e chorada na dor,
E agora pujante, alegre e cantada!

Seria milagre, sonho, ilusão,
Era um esvoaçar de utopias e quimeras,
Luares de um azul por inventar,
Arco-íris, que nos abraçavam com as suas cores,
Era um mundo desconhecido,
Em absoluto devaneio de belas metáforas,
Ou estaria eu louco?

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril




Abril despertado nas noites de cativeiro,
Iluminado pela aurora da liberdade,
Em jardins de vermelhos cravos,
Nas armas caladas...
Que beijavam o chão da esperança,
Na canção feita senha,
Ecoada pela rádio da salvação,
Grândola a tal vila morena cantada,
Da Catarina Eufémia que pedia pão
E recebeu a morte,
Dos trigais da exploração,
Em campos de vastidão!

Liberdade, liberdade...

Gritava-se em exultação,
Como em sonhos nunca antes sonhados,
Gritava-se pela liberdade,
Nas ruas escurecidas,
Por uma ditadura que agonizava,
Sob os pés de homens fardados,
Inconformados com a miséria
E direitos atrofiados,
Deste Portugal amorfo.

José Carlos Moutinho
25/4/12

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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