sábado, 27 de outubro de 2012

Ruas caladas





Deambulo pelas ruas caladas,
no silêncio dos meus pensamentos,
alheio a tudo que me rodeia,
somente concentrado em cada pedaço de chão,
onde penso ver uma história escondida,
marcada por pés que o pisaram
e penso como esta vida é interessante
em pequenos pormenores que ignoramos!
Quantos dramas ali tiveram lugar,
naqueles espaços de chãos calados,
em ruas silenciosas por dores sentidas,
onde também imensas alegrias foram partilhadas,
em exaltadas paixões
ou em simples noticias de boas novas!

Quedo-me na imaginação que me toma,
tentando adivinhar os mistérios ocultos,
que eventualmente pairem no ar,
átomos do universo das histórias vividas!

Desperto-me da letargia que invadiu o meu sentir,
pelo bulício, que agora agride, as ruas antes caladas!
A tristeza e a brutalidade dos dramas,
misturam-se com as alegrias dos felizes,
numa panóplia de imensas cores,
em simbiose com as sofridas dores,
percorrem estes chãos calados,
por ruas tumultuadas, antes silenciosas!

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sei que ela voltará






Cantam-me as árvores das fantasias,
pelo estremecer dos seus ramos de ilusões,
melodias que penetram a minha alma,
em busca do sossego que o tempo levou
por caminhos da inquietude,
envolto em pardacentas nuvens,
numa tarde cansada,
pelo sol ausente!

Calmamente reflito,
embalado por esta música celestial,
levo-me na serenidade do sentir,
acariciado pelo anseio daquela paixão,
que um dia esmorecera!
Aspiro avidamente
o ar impregnado destes sons feiticeiros,
suspiro com o coração vibrante
e o meu pensamento voa,
voa...Para bem longe,
ao encontro dela,
daquela mulher que por capricho,
abandonou o meu abraço
e perdeu o néctar dos meus beijos!

Sei que ela voltará...
Quando a tarde se iluminar
pelo sol que se fará presente.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Devaneando





As tuas mãos acariciam-me como a espuma
Das ondas que beijam areias da minha praia,
Na tua doce entrega que afasta a bruma,
Surges-me fascinante em vestido de cambraia!

Pareces-me ilusão vinda do horizonte,
Que se desfaz no beijo que me dás com emoção,
Levas-me em êxtase pelos ventos da paixão,
Voarei feliz, sorrindo sobre rio, mar e monte!

Abraçarei nuvens brancas da felicidade,
Os astros serão meus companheiros de viagem
Pelos sublimes caminhos da eternidade...

De mãos dadas, faremos do luar que nos afaga
Manto, que nos cobrirá pelos jardins da vida
De fragrâncias que à nossa alma embriaga!

José Carlos Moutinho

Minha Pátria





És o chão que eu piso,
sob o sol que me aquece,
nas manhãs da minha tristeza
ou nas tardes da minha alegria!
Devias ser o chão que me alimentasse,
mas escasseias pela tua incapacidade
de produzir o essencial!

Pátria minha, meu orgulho ferido,
és o mar imenso que me abraça
e me dá alento na maresia
da minha saudade,
de outros tempos, Pátria,
em que tu, bem mais pobre,
tinhas um chão rico de trigo,
pão nosso de cada dia
e eras esse mar cavado,
de duras fainas para sustento dos privilegiados!

Ah...Pátria do tempo da ignorância,
negavas educação ao povo,
preferias que fôssemos cobaias
pela demência de um ditador
que tudo nos tirava e pouco nos dava,
“éramos pobres e muito honrados”
sarcástica ironia de mentes perversas!

Mas agora, Pátria minha,
muito menos nos dás, com tanto que tens
que só a alguns pertence,
tiras  a casa e o pão da nossa vida sacrificada,
tornas-nos mendigos, de saúde precária!
Tu, Pátria de desgraçados,
que abandonas os teus filhos,
como sempre fizeste em toda a tua História!
Como eu gostaria de abrir a minha alma,
dizer-te que me sinto honrado
pelo meu patriotismo...
Mas só me resta desesperança pelo teu futuro.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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